30/05/2017

O machismo presente no ritual do casamento

Imagem: Reprodução.

     O casamento é a união entre duas pessoas baseada no amor. Entretanto, historicamente, a mulher é a grande protagonista deste evento e o machismo está presente em todos os seus ritos.
      Como já dito acima, o casamento é quando duas pessoas que se amam resolvem se unir e viver uma vida a dois. Por muito tempo, só era considerado casamento a união entre um homem e uma mulher, mas com o tempo e devido ao esforço de muitos movimentos sociais, o casamento é também uma união entre dois homens e duas mulheres.

Imagem: Reprodução.

      Entretanto, foquemos no casamento enquanto união entre uma mulher e um homem. Para começo de conversa, vocês já pensaram nos significados das palavras MATRImônio e PATRImônio? Provavelmente, vocês já devem saber que matrimônio é sinônimo de casamento e patrimônio é sinônimo de herança. Entretanto, vocês sabem a origem de tais palavras? Realizando uma busca online em um dicionário etimológico de língua espanhola, foi encontrada a seguinte definição para matrimônio: a palavra matrimônio vem do latim matrimonium, a qual provém de matrem (mãe) e monium (qualidade de). Com isso, se chega a conclusão de que o casamento (ou matrimônio) é uma união cuja finalidade máxima é gerar filhos. Neste mesmo dicionário, patrimônio possui o seguinte significado: de origem latina, tal palavra é formada de pater (pai) e o sufixo monium. O patrimônio nada mais são do que os bens deixados por herança. Historicamente, a mulher não tinha controle sobre si e muito menos sobre seus bens. Quando o marido falecia, era sempre um parente próximo do sexo masculino quem cuidava dos bens da mulher.

Uma boneca, típico "brinquedo de menina". Desde a mais tenra idade que a mulher é educada para ser mãe e dona de casa. Imagem: Reprodução.

     A ideia de que o casamento é a missão máxima de uma mulher ainda é muito forte em nossa sociedade. Se uma mulher não casar (ou "ficar para a titia", como dizem popularmente), ela e os conhecidos entram em desespero. Entretanto, a mulher é preparada para o casamento ainda muito cedo, na infância. Os "brinquedos de menina", ou seja: boneca, panelinhas, fogãozinho e ferrinho de passar por exemplo ensinam a menina desde cedo qual o seu lugar na sociedade quanto esta atingir a maturidade: ser mãe e dona de casa. É a preparação casa o casamento, ou melhor: matrimônio. Quando a menina completa 15 anos, é feita uma festa para comemorar tal idade. Todas as moças (ou pelo menos a maioria) sonham com esta festa. A festa de 15 anos serve para apresentar a moça a sociedade e, assim, quem sabe, arrumar um marido? Até porque o significado da festa em questão é justamente esse: mostrar que a menina deixou de ser menina e agora é mulher pronta para casar. Este fato é evidenciado pela troca da boneca pelo sapato. Outro fato que mostra este significado é a valsa, onde a moça primeiro dança com o pai e depois o mesmo a entrega para o príncipe. Este mesmo príncipe pode ser o namorado da jovem, um parente próximo ou até mesmo alguém contratado (dependendo de quem é chamado para esta função, o cachê a ser pago é astronômico). É a moça deixando o senhorio paterno e indo para o senhorio do marido.

Imagem: Reprodução.

     A maioria das mulheres costumam ficar emocionadas quando são pedidas em casamento, pedido esse que por sinal é feito na maioria dos casos pelos homens (é raro, mas o inverso pode acontecer). Afinal, ela é educada para esperar por isso desde criança. Se repararem bem, verão que a mulher é a grande protagonista em um casamento. Quase tudo é organizado por ela e do jeito que ela sonhou. Na cerimônia, quando os padrinhos e pais dos noivos (e o próprio noivo) entram na igreja, ninguém da importância. Entretanto, quando a marcha nupcial anuncia a entrada da noiva, todos os presentes ficam de pé. A grande expectativa é em torno do vestido da noiva, que pode arrancar elogios ou comentários de reprovação. A cerimônia de casamento também é cercada de machismo. Hoje isso talvez tenha se perdido, mas as noivas se casam de branco para indicar que estão se casando virgem, mostrando assim a sua pureza para todos. Se a virgindade da moça é exigida, a do homem ninguém se importa. E em outras épocas, se uma mulher não estivesse se casando virgem, o casamento poderia não acontecer e ela seria motivo de fofocas, arruinando a sua reputação e a reputação de toda a família. A exigência da virgindade da mulher tem uma lógica social e até mesmo econômica. Qual seria a garantia de que o filho que a mulher espera é de fato do homem com quem ela está se casando? E em caso de partilha de bens, e se o filho para quem o homem está deixando sua herança não é de fato seu filho? É como diz aquele ditado: "filho da minha filha meu neto é. Filho do meu filho não sei se é". A virgindade do homem não é exigida porque se ele tiver um filho, basta ele abandonar e/ou dar para outra pessoa cuidar. Sem DNA, como irão provar que o filho é dele (a não ser que a criança seja a cópia do pai)? É por essas e outras que muitos pais abandonam seus filhos.

Kate Middleton ao lado pai e do marido no dia de seu casamento. Como manda a tradição, o pai a conduziu durante o cortejo nupcial até o altar, onde ela permaneceu ao lado do marido. Imagem: Reprodução. 

      No momento em que a noiva adentra a igreja em direção ao altar no dia de seu casamento, ela faz isso ao lado do pai. Esse ato indica que a noiva está deixando o senhorio do pai e indo para o senhorio do marido, uma vez que o pai a entrega ao noivo. Historicamente, a mulher é vista como propriedade do homem e por isso está sempre sob o domínio de alguém do sexo masculino. Este alguém pode ser o pai, o marido, o irmão e o filho por exemplo. Outro fato que corrobora este significado é a adoção do sobrenome do marido por parte da esposa. Ao casar, a noiva adota o sobrenome do esposo e passa a assinar com o mesmo. Isso significa que a mulher deixou de ser parte da família do pai e passa a fazer parte da família do marido. Um detalhe que merece ser destacado: a expressão "minha mulher" (quando o homem fala se referindo a esposa) e suas derivações são expressões aceitas pela sociedade e é comum ouvi-las em jornais, revistas e meios de comunicação em geral. Entretanto, a expressão "meu homem" ou "o homem de fulana" e suas derivações não são expressões bem aceitas. Estas são vistas como vulgares e coloquiais. Lembrando que no Brasil a mulher não é obrigada a adotar o nome do marido após o casamento, é opcional. Existe também a possibilidade de o marido adotar o sobrenome da esposa.
      O casamento deve ser visto e feito como um ato de amor entre duas pessoas que se amam e que desejam viver juntas. Deve ser um ato de companheirismo onde ninguém é propriedade de ninguém. E de preferência sem a presença do machismo.

Conclusão

      A cultura do casamento está inserida em uma sociedade historicamente machista e desta forma reproduz tal aspecto. É esta mesma cultura e sociedade machista que coloca a mulher como a protagonista do casamento, preparando-as para tal desde a mais tenra idade. Tal fato descaracteriza o casamento, que deve ser visto como um ato de amor e companheirismo onde o machismo não tem vez. 

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