O Carnaval da cidade do Rio de Janeiro é uma das maiores (talvez a maior) festas de Carnaval do planeta. Dezenas de bloco tomam conta das ruas da cidade antes mesmo do Carnaval chegar, mas o que chama a atenção mesmo são os desfiles das escolas de samba, que ocorrem no Sambódromo. As origens das escolas de samba estão ligadas à ilegalidade, ligação essa que existe nos dias atuais.
Se hoje o Carnaval faz parte da identidade nacional do Brasil, nem sempre foi assim. O Carnaval não foi uma invenção brasileira, ele foi abrasileirado. As origens do Carnaval se encontram na Antiguidade, tanto na Mesopotâmia, quanto na Grécia e em Roma; e foi apropriado pela Igreja Católica somente por volta de 590 d. C. A festividade significa o "adeus à carne" ou carnis levale, termo latim que deu origem ao nome atual, Carnaval. Esta época era (ainda é) um período do ano em que se celebram os prazeres mundanos, em que as pessoas poderiam praticar seus excessos antes do início da Quaresma, período de penitência e privação.
O Carnaval chegou ao Brasil por volta do século XVII e o entrudo era a grande marca deste evento. O entrudo é uma prática que consiste em jogar farinha, ovos e água umas nas pessoas como um modo de celebrar a liberdade. A partir do século XX o Carnaval passou a ter um caráter mais popular e de interesse nacional. As marchinhas carnavalescas foram surgindo e a festa foi ganhando um caráter brasileiro, com músicas e tradições típicas. Foi neste contexto que surgiram as primeiras escolas de samba. Vale destacar aqui um dado curioso: os desfiles das escolas de samba ocorriam nas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Não havia uma rua fixa para a realização dos desfiles, que podiam ser diferentes a cada ano por conta de obras que precisavam ser realizadas. Os desfiles já foram realizados na Praça Onze, Avenida Rio Branco e na Avenida Presidente Vargas por exemplo. Em 1983, Leonel Brizola (1922 - 2004), então governador do estado do Rio de Janeiro, encomendou a Oscar Niemeyer (1907 - 2012) um projeto de um local definitivo para os desfiles, uma vez que as arquibancadas eram montadas e depois desmontadas. Foi assim que surgiu a Passarela do Samba, conhecida popularmente como Sambódromo.
Não há dados exatos sobre quando se iniciou a relação entre as escolas de samba e os banqueiros do bicho ("bicheiros" são os "funcionários"). Em entrevista a Revista de História da Biblioteca Nacional em agosto de 2007 (leia aqui), o professor Luiz Antônio Machado da Silva afirma que não há uma data precisa do ano em que essa relação começou, mas afirma que muitos bicheiros gostavam de samba. Desta forma, havia uma proximidade cultural entre o samba e o bicho. Ambos eram legítimos em termos morais, pelo menos para os segmentos populares da sociedade. Entretanto, há uma história que explica o início da relação histórica entre o jogo do bicho e as escolas de samba. Por volta dos anos 1930, Natal da Portela (apelido de Natalino José do Nascimento) foi um funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil que perdeu o braço em um acidente nos trilhos e teve que se aposentar por invalidez. "Seu Natal" conseguiu emprego em uma banca de Jogo do Bicho e a sua carreira no ramo disparou: de anotador a gerente, de gerente a dono de banca e em um curto espaço de tempo Natal da Portela já era o nome mais importante do Jogo do Bicho no Brasil. A vida de "Seu Natal" desde cedo foi envolvida com o samba, participando durante a juventude das rodas de samba que mais tarde formaria o bloco carnavalesco "Vai Como Pode", primeiro nome da escola de samba Portela. Com a morte do grande amigo Paulo da Portela, "Seu Natal", como forma de homenageá-lo, resolveu investir financeiramente na Portela para que a escola pudesse crescer. Foi daí que teria surgido a figura do bicheiro patrono. Depois de "Seu Natal" vieram outros bicheiros patronos, como por exemplo: Castor de Andrade, patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel e Anísio, que em 1973 financiou o desfile da Beija - Flor. A escola de samba preparou um luxuoso desfile para o samba-enredo "Sonhar com rei dá Leão". Natal da Portela teria iniciado uma relação entre o jogo do bicho e as escolas de samba, que ainda é forte nos dias atuais e que fez o Carnaval do Rio ser conhecido em todo o planeta.
Segundo o professor Luiz Antônio Machado da Silva, existem vantagens econômicas e políticas em manterem na semiclandestinidade uma prática como o jogo do bicho, que é juridicamente ilícita, mas moralmente aceita. Envolvendo-se com as escolas de samba, os banqueiros do bicho ganhavam o que precisavam para desenvolver seus negócios em paz, ou seja: com pouca repressão e com capacidade de negociação política. O professor acredita na hipótese de que o envolvimento do jogo do bicho com as escolas de samba tenha sido uma via de lavagem de dinheiro. O jogo do bicho "se aproveitou" do prestígio das escolas de samba, pois do contrário os banqueiros do bicho seriam mais discretos em seus investimentos. Mas a recíproca é verdadeira: as escolas de samba usaram o jogo do bicho para crescer e se aproximar dos aparelhos de Estado e das camadas sociais mais altas. O processo de universalização da aceitação política, moral e cultural do samba implicou uma relação de mão dupla.
Se engana quem pensa que a relação entre o jogo do bicho e as escolas de samba é algo que ficou no passado. Esta relação existe até hoje e não há sinais de que irá terminar. Atualmente, além do jogo do bicho, milicianos e pessoas acusadas de homicídio ajudam a organizar o Carnaval carioca, sendo cúmplices de um grande esquema de lavagem de dinheiro. Uma reportagem da revista Época (leia a matéria completa aqui) noticiou que a escola de samba Viradouro desviou R$ 441 mil em um esquema onde houve fraude com notas fiscais duplicadas. Parte do dinheiro da escola foi para uma empresa fantasma. Na mesma reportagem, a revista afirma também que a Mangueira desviou R$ 343 mil em um esquema que foram usadas notas fiscais de empresas já desativadas.
Além disso, há lideres de escolas de samba que possuem pendências com a justiça. Rogério Andrade, patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel, é bicheiro e acusado de assassinato. O contraventor esteve nos últimos anos preso ou foragido, acusado de envolvimento em homicídios e com a máfia dos caça-níqueis. Sofreu um atentado a bomba em 2010, que matou seu filho Diogo, que tinha 17 anos de idade. Rogério foi condenado a 19 anos e 10 meses de prisão em 2002, mas seu julgamento foi anulado pelo STF. Rogério se livrou da acusação de assassinato de seu primo, mas foi apontado como mandante da execução do ex-segurança. Marcos Vieira, apelidado de "Falcon" (assassinado em 2016), era presidente da Portela e já foi preso por formação de quadrilha e citado em CPI por envolvimento com milícias. Em 2011, foi preso quando escoltava Paulo Ferreira Júnior, o Paulinho do Gás, integrante da milícia chefiada pelo vereador Luiz André Ferreira da Silva, o Deco. Falcon foi autuado por formação de quadrilha e investigado pela CPI das Milícias. Foi também acusado de homicídio, mas foi inocentado do crime. Luizinho Drummond, presidente da Imperatriz Leopoldinense, é ligado ao crime organizado, investigado por assassinato e responde a processos de extorsão e envolvimento com o jogo do bicho. Em 1993, foi condenado a seis anos de prisão e em 1998 foi condenado a mais nove por ligações com o crime organizado. Desde 2012 que é investigado pela execução do ex-diretor de bateria da escola que preside. Além disso, responde em liberdade a vários processos ligados à máfia de caça-níquel e contravenção. Anísio Abrahão Davi, patrono da Beija-Flor, participou de quadrilha ligada à máfia dos caça-níqueis e jogo do bicho. Anísio foi preso pelo menos quatro vezes e foi investigado em operações da Polícia Federal como Dedo de Deus e Hurricane. Em uma das ocasiões, policiais desceram de rapel até o apartamento de Anísio para evitar a destruição de provas. Já Airton Jorge Guimarães, ex-presidente da Vila Isabel e ex-patrono da Viradouro, é acusado de torturar pessoas durante o regime civil-militar e ligado à máfia do jogo do bicho e dos caça-níqueis. Conhecido como Capitão Guimarães, o ex-oficial do DOI-Codi já foi preso em várias operações da polícia e cumpriu três anos de prisão em 1993. O Grupo Tortura Nunca Mais lista sete vítimas que foram torturadas por ele. O poder e a influência que Airton exerce na escola de samba Vila Isabel são tantos que ele é chamado de "todo-poderoso" da Vila Isabel.
Como é possível perceber, mesmo o jogo do bicho sendo uma prática ilegal no Brasil, grandes nomes do ramo costumam a patrocinar escolas de samba. A justiça procura investigar os crimes cometidos por tais pessoas, mas na maioria dos casos eles são absolvidos ou não cumprem toda a pena. A mídia por sua vez noticia tais fatos com estardalhaço, mas na prática os criminosos passam "batido". Em 2015, Neguinho da Beija-Flor deu uma declaração emblemática a uma rádio gaúcha. O sambista disse para agradecer a contravenção porque os desfiles de escolas de samba eram uma bagunça. A contravenção chegou e organizou tudo. Neguinho da Beija-Flor disse tal coisa em um momento em que a Beija-Flor havia sido bastante criticada por fazer um samba enredo sobre a Guiné Equatorial, país governado por um ditador. Nesta mesma entrevista, o sambista alfinetou algumas escolas de samba, insinuando que elas recebem dinheiro ilícito. É contraditório criticar uma escola de samba que faz um samba enredo sobre um país governado por um ditador e esquecer que é a contravenção quem financia praticamente todas as escolas de samba do Rio de Janeiro. Um pouco de coerência não faz mal a ninguém.
Conclusão
Não há uma precisão acerca de quando teve início a relação entre o jogo do bicho e as escolas de samba do Rio de Janeiro. A certeza que se tem é que é uma relação história, onde um se beneficiou do outro em uma relação de mão dupla. A justiça age com estardalhaço, mas na maioria dos casos os banqueiros do bicho que patrocinam escolas de samba não cumprem toda a pena ou são absolvidos. A mídia se comporta da mesma forma, mas na prática os banqueiros do bicho seguem com suas vidas como se não estivessem fazendo nada de errado.
Se hoje o Carnaval faz parte da identidade nacional do Brasil, nem sempre foi assim. O Carnaval não foi uma invenção brasileira, ele foi abrasileirado. As origens do Carnaval se encontram na Antiguidade, tanto na Mesopotâmia, quanto na Grécia e em Roma; e foi apropriado pela Igreja Católica somente por volta de 590 d. C. A festividade significa o "adeus à carne" ou carnis levale, termo latim que deu origem ao nome atual, Carnaval. Esta época era (ainda é) um período do ano em que se celebram os prazeres mundanos, em que as pessoas poderiam praticar seus excessos antes do início da Quaresma, período de penitência e privação.
O Carnaval chegou ao Brasil por volta do século XVII e o entrudo era a grande marca deste evento. O entrudo é uma prática que consiste em jogar farinha, ovos e água umas nas pessoas como um modo de celebrar a liberdade. A partir do século XX o Carnaval passou a ter um caráter mais popular e de interesse nacional. As marchinhas carnavalescas foram surgindo e a festa foi ganhando um caráter brasileiro, com músicas e tradições típicas. Foi neste contexto que surgiram as primeiras escolas de samba. Vale destacar aqui um dado curioso: os desfiles das escolas de samba ocorriam nas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Não havia uma rua fixa para a realização dos desfiles, que podiam ser diferentes a cada ano por conta de obras que precisavam ser realizadas. Os desfiles já foram realizados na Praça Onze, Avenida Rio Branco e na Avenida Presidente Vargas por exemplo. Em 1983, Leonel Brizola (1922 - 2004), então governador do estado do Rio de Janeiro, encomendou a Oscar Niemeyer (1907 - 2012) um projeto de um local definitivo para os desfiles, uma vez que as arquibancadas eram montadas e depois desmontadas. Foi assim que surgiu a Passarela do Samba, conhecida popularmente como Sambódromo.
Arco do Sambódromo. Reparem em seu estilo futurista, uma característica do célebre arquiteto Oscar Niemeyer. Imagem: Reprodução. |
Não há dados exatos sobre quando se iniciou a relação entre as escolas de samba e os banqueiros do bicho ("bicheiros" são os "funcionários"). Em entrevista a Revista de História da Biblioteca Nacional em agosto de 2007 (leia aqui), o professor Luiz Antônio Machado da Silva afirma que não há uma data precisa do ano em que essa relação começou, mas afirma que muitos bicheiros gostavam de samba. Desta forma, havia uma proximidade cultural entre o samba e o bicho. Ambos eram legítimos em termos morais, pelo menos para os segmentos populares da sociedade. Entretanto, há uma história que explica o início da relação histórica entre o jogo do bicho e as escolas de samba. Por volta dos anos 1930, Natal da Portela (apelido de Natalino José do Nascimento) foi um funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil que perdeu o braço em um acidente nos trilhos e teve que se aposentar por invalidez. "Seu Natal" conseguiu emprego em uma banca de Jogo do Bicho e a sua carreira no ramo disparou: de anotador a gerente, de gerente a dono de banca e em um curto espaço de tempo Natal da Portela já era o nome mais importante do Jogo do Bicho no Brasil. A vida de "Seu Natal" desde cedo foi envolvida com o samba, participando durante a juventude das rodas de samba que mais tarde formaria o bloco carnavalesco "Vai Como Pode", primeiro nome da escola de samba Portela. Com a morte do grande amigo Paulo da Portela, "Seu Natal", como forma de homenageá-lo, resolveu investir financeiramente na Portela para que a escola pudesse crescer. Foi daí que teria surgido a figura do bicheiro patrono. Depois de "Seu Natal" vieram outros bicheiros patronos, como por exemplo: Castor de Andrade, patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel e Anísio, que em 1973 financiou o desfile da Beija - Flor. A escola de samba preparou um luxuoso desfile para o samba-enredo "Sonhar com rei dá Leão". Natal da Portela teria iniciado uma relação entre o jogo do bicho e as escolas de samba, que ainda é forte nos dias atuais e que fez o Carnaval do Rio ser conhecido em todo o planeta.
Natal da Portela, o homem que teria iniciado a relação entre o jogo do bicho e as escolas de samba. Imagem: Reprodução. |
Segundo o professor Luiz Antônio Machado da Silva, existem vantagens econômicas e políticas em manterem na semiclandestinidade uma prática como o jogo do bicho, que é juridicamente ilícita, mas moralmente aceita. Envolvendo-se com as escolas de samba, os banqueiros do bicho ganhavam o que precisavam para desenvolver seus negócios em paz, ou seja: com pouca repressão e com capacidade de negociação política. O professor acredita na hipótese de que o envolvimento do jogo do bicho com as escolas de samba tenha sido uma via de lavagem de dinheiro. O jogo do bicho "se aproveitou" do prestígio das escolas de samba, pois do contrário os banqueiros do bicho seriam mais discretos em seus investimentos. Mas a recíproca é verdadeira: as escolas de samba usaram o jogo do bicho para crescer e se aproximar dos aparelhos de Estado e das camadas sociais mais altas. O processo de universalização da aceitação política, moral e cultural do samba implicou uma relação de mão dupla.
Se engana quem pensa que a relação entre o jogo do bicho e as escolas de samba é algo que ficou no passado. Esta relação existe até hoje e não há sinais de que irá terminar. Atualmente, além do jogo do bicho, milicianos e pessoas acusadas de homicídio ajudam a organizar o Carnaval carioca, sendo cúmplices de um grande esquema de lavagem de dinheiro. Uma reportagem da revista Época (leia a matéria completa aqui) noticiou que a escola de samba Viradouro desviou R$ 441 mil em um esquema onde houve fraude com notas fiscais duplicadas. Parte do dinheiro da escola foi para uma empresa fantasma. Na mesma reportagem, a revista afirma também que a Mangueira desviou R$ 343 mil em um esquema que foram usadas notas fiscais de empresas já desativadas.
Além disso, há lideres de escolas de samba que possuem pendências com a justiça. Rogério Andrade, patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel, é bicheiro e acusado de assassinato. O contraventor esteve nos últimos anos preso ou foragido, acusado de envolvimento em homicídios e com a máfia dos caça-níqueis. Sofreu um atentado a bomba em 2010, que matou seu filho Diogo, que tinha 17 anos de idade. Rogério foi condenado a 19 anos e 10 meses de prisão em 2002, mas seu julgamento foi anulado pelo STF. Rogério se livrou da acusação de assassinato de seu primo, mas foi apontado como mandante da execução do ex-segurança. Marcos Vieira, apelidado de "Falcon" (assassinado em 2016), era presidente da Portela e já foi preso por formação de quadrilha e citado em CPI por envolvimento com milícias. Em 2011, foi preso quando escoltava Paulo Ferreira Júnior, o Paulinho do Gás, integrante da milícia chefiada pelo vereador Luiz André Ferreira da Silva, o Deco. Falcon foi autuado por formação de quadrilha e investigado pela CPI das Milícias. Foi também acusado de homicídio, mas foi inocentado do crime. Luizinho Drummond, presidente da Imperatriz Leopoldinense, é ligado ao crime organizado, investigado por assassinato e responde a processos de extorsão e envolvimento com o jogo do bicho. Em 1993, foi condenado a seis anos de prisão e em 1998 foi condenado a mais nove por ligações com o crime organizado. Desde 2012 que é investigado pela execução do ex-diretor de bateria da escola que preside. Além disso, responde em liberdade a vários processos ligados à máfia de caça-níquel e contravenção. Anísio Abrahão Davi, patrono da Beija-Flor, participou de quadrilha ligada à máfia dos caça-níqueis e jogo do bicho. Anísio foi preso pelo menos quatro vezes e foi investigado em operações da Polícia Federal como Dedo de Deus e Hurricane. Em uma das ocasiões, policiais desceram de rapel até o apartamento de Anísio para evitar a destruição de provas. Já Airton Jorge Guimarães, ex-presidente da Vila Isabel e ex-patrono da Viradouro, é acusado de torturar pessoas durante o regime civil-militar e ligado à máfia do jogo do bicho e dos caça-níqueis. Conhecido como Capitão Guimarães, o ex-oficial do DOI-Codi já foi preso em várias operações da polícia e cumpriu três anos de prisão em 1993. O Grupo Tortura Nunca Mais lista sete vítimas que foram torturadas por ele. O poder e a influência que Airton exerce na escola de samba Vila Isabel são tantos que ele é chamado de "todo-poderoso" da Vila Isabel.
Como é possível perceber, mesmo o jogo do bicho sendo uma prática ilegal no Brasil, grandes nomes do ramo costumam a patrocinar escolas de samba. A justiça procura investigar os crimes cometidos por tais pessoas, mas na maioria dos casos eles são absolvidos ou não cumprem toda a pena. A mídia por sua vez noticia tais fatos com estardalhaço, mas na prática os criminosos passam "batido". Em 2015, Neguinho da Beija-Flor deu uma declaração emblemática a uma rádio gaúcha. O sambista disse para agradecer a contravenção porque os desfiles de escolas de samba eram uma bagunça. A contravenção chegou e organizou tudo. Neguinho da Beija-Flor disse tal coisa em um momento em que a Beija-Flor havia sido bastante criticada por fazer um samba enredo sobre a Guiné Equatorial, país governado por um ditador. Nesta mesma entrevista, o sambista alfinetou algumas escolas de samba, insinuando que elas recebem dinheiro ilícito. É contraditório criticar uma escola de samba que faz um samba enredo sobre um país governado por um ditador e esquecer que é a contravenção quem financia praticamente todas as escolas de samba do Rio de Janeiro. Um pouco de coerência não faz mal a ninguém.
O sambista Neguinho da Beija-Flor é grato a contravenção pelo fato dela ser fundamental para que os desfiles das escolas de samba alcançassem o patamar que possuem hoje. Imagem: Reprodução. |
Conclusão
Não há uma precisão acerca de quando teve início a relação entre o jogo do bicho e as escolas de samba do Rio de Janeiro. A certeza que se tem é que é uma relação história, onde um se beneficiou do outro em uma relação de mão dupla. A justiça age com estardalhaço, mas na maioria dos casos os banqueiros do bicho que patrocinam escolas de samba não cumprem toda a pena ou são absolvidos. A mídia se comporta da mesma forma, mas na prática os banqueiros do bicho seguem com suas vidas como se não estivessem fazendo nada de errado.
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