09/08/2018

O machismo presente no golpe parlamentar que tirou Dilma Rousseff do poder

Dilma Rousseff foi a primeira mulher a chegar ao posto mais alto da política brasileira: a Presidência da República. Foi eleita para um segundo mandato, mas foi impedida de concluir o mesmo. Imagem: Roberto Stuckert Filho/PR. 

     Dilma Rousseff foi a primeira mulher a ser eleita presidente da república. Isso foi em 2010 e em 2014 ela foi reeleita para mais um mandato de quatro anos. Entretanto, um golpe Judiciário, parlamentar e midiático a tirou do poder em 2016. Além disso, este mesmo golpe tem um forte viés machista com relação à Dilma Rousseff.
     Em 2010, Dilma Rousseff foi eleita presidente da república. Era a primeira vez que uma mulher chegava neste posto no Brasil, que por sinal é o mais alto da política brasileira. A grande popularidade de Lula, bem como o seu prestígio e a promessa de dar continuidade ao programa de governo de seu antecessor e aliado, Dilma foi eleita. Dilma chegou ao poder em um momento em que mulheres em todo o mundo chegavam ao posto mais alto da política de seus respectivos países. Michelle Bachelet foi presidente do Chile entre os anos de 2006 e 2010, retornando em 2014 para mais um mandato presidencial que findou em março de 2018. Cristina Kirchner foi a presidente da Argentina entre os anos de 2007 e 2015. E Destaque também para Angela Merkel, que desde 2005 é a chanceler da Alemanha. E estes são só alguns exemplos.

Dima ao lado da filha em desfile de cerimônia da posse de seu segundo mandato como presidente da república, em janeiro de 2015. Imagem: Reprodução.

     Com muito esforço e em uma disputa extremamente acirrada no segundo turno das eleições presidenciais de 2014 com Aécio Neves, Dilma é reeleita para mais um mandato de quatro anos. A oposição não se mostrou insatisfeita em nenhum momento e antes mesmo das eleições tentou impedir que Dilma chegasse ao poder: tentaram associar o nome de Dilma à Operação Lava-Jato, que começou em 2014, disseram que Dilma recebeu verba para sua campanha de empresas com problemas com a justiça e, mesmo com o resultado das eleições, a oposição não se conformou. Exigiram a recontagem dos votos e disseram que Dilma tinha feito uma campanha eleitoral irregular. Como todos estes argumentos caíram por terra, não lhes restaram outra opção, a não ser as ruas. O ano de 2015 foi marcado por manifestações que pediam o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República. Tais manifestações, que foram amplamente cobertas pela grande mídia, faziam críticas ao governo Dilma e também ao fato da mesma ser mulher. Em meio aos protestos, se viu muitas vezes os manifestantes atacando Dilma verbalmente por meio de cartazes e também de forma verbal. Nestes protestos, era muito comum ver e ouvir palavras como: "puta", "vaca" e daí por diante. Além disso, como "forma de protesto" pela alta do preço da gasolina, fizeram um adesivo para carros onde Dilma aparecia de pernas abertas e o mesmo era colocado sobre o buraco onde se coloca a gasolina.
     Durante todo o processo de golpe que culminou na retirada de Dilma Rousseff do poder era visto dentro e fora dos espaços políticos (entende-se aqui por câmara dos vereadores, dos deputados e câmara do senado) uma fúria e ataques sem iguais a figura da então presidente da república. Isso nada mais é do que machismo. Era um machismo velado (embora em alguns momentos ele tenha se manifestado de forma descarada), onde se mostrava um incômodo e até mesmo uma aversão a uma mulher que estava ocupando um espaço que não foi feito para ela. É interessante notar que, embora haja claros indícios de que Michel Temer está envolvido em corrupção, fazendo com que o pedido de seu afastamento fosse votado na câmara dos deputados (e rejeitado), o ódio que é visto quando se trata de Dilma não é visto quando o assunto é Temer. Isso acontece porque, além de Michel Temer atender aos interesses da elite, o mesmo é homem. Vale destacar também o que acontece com Luiz Fernando Pezão, atual governador do estado do Rio de Janeiro. Pezão levou o estado a pior crise econômica de sua história. Os protestos contra ele existem, mas os manifestantes são poucos e não se vê ninguém chamando Pezão de "galinho", "quengo", "piranho", "vadio" e por aí vai. Não se vê pessoas atacando como "forma de protesto" a vida particular de Pezão e Temer. 

A trajetória de Dilma Rousseff na Presidência da República foi marcada pelo machismo. Imagem: Roberto Stuckert Filho/PR. 

     A verdade é que o machismo permeou todo o governo Dilma, não se manifestando somente quando começaram a pedir seu afastamento. Me lembro que quando Dilma ainda era uma pré-candidata à Presidência da República, já existiam boatos e especulações acerca de sua vida pessoal. Queriam saber se ela era casada, cogitaram que Dilma era lésbica, as pessoas passaram a ficar atentas com relação ao vestuário de Dilma, queriam saber quem era seu estilista, seu cabeleireiro... Me lembro também que quando Dilma tomou posse de seu segundo mandato, após ser reeleita presidente da república, em janeiro de 2015, muita gente comentou o vestido que Dilma usava na cerimônia. Comentaram o fato dela estar desconfortável em trajar tal vestido e até descobriram a estilista que fez o mesmo. Foi como foi dito lá em cima: muita gente se mostrou incomodada com o fato de Dilma estar ocupando um lugar que não foi feito para mulheres. Não é atoa que quando Dilma sofreu o golpe parlamentar, em 2016, a "normalidade machista" foi retomada. Isso foi evidente em pelo menos duas situações. Primeiro, Temer foi alvo de críticas ao apresentar seu grupo ministerial, composto somente por homens. Para sanar as críticas, Temer chamou a advogada Grace Maria Fernandes Mendonça para ser a chefe da Advocacia Geral da União (AGU). E o segundo fato envolve Marcela Temer, esposa de Michel Temer. Se antes do marido ser presidente da república, Marcela Temer aparecia imponente e super produzida em cerimônias oficiais, depois que o marido assumiu a Presidência da República, Marcela abandonou as maquiagens e looks poderosos e passou a usar maquiagens discretas, penteados igualmente discretos e figurino mais sóbrio. Além disso, Marcela também passou a se envolver com obras de caridade, assim como fizeram outras esposas de presidentes da república no passado. O golpe de 2016 também serviu para colocar a mulher "no seu lugar".

Conclusão

     O machismo esteve presente durante todo o governo Dilma e não somente quando começaram a pedir o seu afastamento. O patriarcado/machismo (tais conceitos estão tão imbrincados que chega a ficar difícil diferenciar um do outro) estrutura toda a sociedade brasileira, inclusive a política institucional do Brasil. O fato de uma mulher ter ocupado o posto mais alto da política brasileira não rompeu com a estrutura patriarcal, que é um dos sustentáculos da sociedade brasileira. Entretanto, a presença de Dilma na Presidência da República foi muito importante para o ponto de vista da representatividade, além de levantar questões com relação ao machismo e à situação das mulheres no Brasil. 

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