29/05/2018

O praticamente desaparecimento da malha ferroviária no Brasil

Trem de passageiros que liga Belo Horizonte (MG) a Vitória (ES). Imagem: VALE/Divulgação. 

     Pode não parecer, mas em um passado muito distante as ferrovias já foram predominantes no Brasil. Elas eram o símbolo da modernidade e marcaram uma época. Esta época é o período imperial brasileiro, mais precisamente o Segundo Reinado (1840 - 1889). Porém, vários presidentes da República que o Brasil teve ao longo de sua história republicana priorizaram as rodovias em detrimento das ferrovias e o resultado é um país com dimensões continentais dependendo quase que praticamente do transporte rodoviário.

D. Pedro II (1825 - 1891) foi o segundo e último imperador do Brasil. Seu reinado durou quase uma década. Imagem: Mathew Brady, 1876. 

     O contexto histórico em que as ferrovias surgiram é o período imperial brasileiro (1822 - 1889), mais precisamente o Segundo Reinado (1840 - 1889). D. Pedro II (1825 - 1891) foi o segundo e último imperador do Brasil. Seu governo foi marcado pela grande modernização ocorrida no país. A fotografia chegou com força nesse período, a liberdade de imprensa concedida pelo imperador permitiu a veiculação de diversos jornais sobre vários temas, o telégrafo passou a ser usado, o saneamento básico passou a funcionar em parte do país e surgiram também as ferrovias. Estes foram alguns dos muitos feitos ocorridos durante o período em que D. Pedro II era imperador do Brasil, mas vamos nos ater a última: as ferrovias. As mesmas surgiram em um momento onde o café era o produto mais lucrativo do momento. Muitas famílias fizeram fortuna graças ao café. Foi neste período também que o Brasil passava por um profundo processo de industrialização, cuja figura central, da qual não pode ser esquecida, é o Barão de Mauá (1813 - 1889).
     A primeira ferrovia foi inaugurada no Brasil em 1854, ligando o porto de Mauá, na Baía de Guanabara, à Serra da Estrela, cuja finalidade era chegar a Petrópolis e ao Vale do Paraíba. Esta foi uma das iniciativas de Barão de Mauá. O objetivo da construção de ferrovias era agilizar o escoamento da produção de café, diminuindo o tempo entre o local onde o café era plantado e os pontos onde a mercadoria era exportada. As ferrovias eram uma das condições gerais de produção necessárias para o crescimento da economia brasileira. Em 1864, foi inaugurada a ferrovia Pedro II, depois chamada de Central do Brasil, que pretendia ligar o Rio de Janeiro a São Paulo, através do Vale do Paraíba. O maior número de ferrovias construídas no país foi no estado de São Paulo, por conta da expansão da lavoura cafeeira em direção ao Oeste Paulista. A primeira ferrovia paulista foi a Santos-Jundiaí, também conhecida como São Paulo Railway, inaugurada em 1867. A partir de 1870, outras ferrovias surgiram em São Paulo, como a Paulista, a Mogiana e a Sorocabana, sendo boa parte delas financiada pelos grandes fazendeiros de café. As ferrovias impactaram não somente a economia, mas também mudaram paisagens, arquiteturas e diminuíram o tempo de viagens. Não havia nada mais moderno.

Juscelino Kubitschek (1902 - 1976) foi presidente do Brasil entre 1956 e 1961. Seu governo foi marcado por um acelerado processo de industrialização e modernização do Brasil, além da construção de Brasília. Imagem: Reprodução. 

     O império chegou ao fim no Brasil em 1889 por meio do golpe militar republicano. O transporte ferroviário ainda era bastante usado neste período, mas gradativamente os sucessivos presidente do país foram substituindo o transporte em questão pelo rodoviário. Isso aconteceu em parte porque o trem não mais era visto como o símbolo da modernidade, mas sim os automóveis e como carro não anda em trilhos, foi necessário construir rodovias. Washington Luís (1869 - 1957), foi o presidente do Brasil entre 1926 e 1930. Washington era rodoviarista e alguns historiadores atribuem a ele a seguinte frase: "governar é abrir estradas". O então Presidente da República priorizou a construção de rodovias para o transporte de passageiros. Em 1930, Getúlio Vargas (1882 - 1954) assume a Presidência da República, permanecendo na mesma até 1945. Ele voltaria em 1950, governando o Brasil durante quatro anos, findando seu mandato ao se suicidar. Quando Vargas se tornou presidente pela primeira vez, o Brasil era um país fortemente agrário. As indústrias existiam, mas o que predominava era a economia agrária. Vargas procurou acelerar a industrialização do Brasil com a finalidade para que o país não dependesse somente da economia agrária.  Foi neste contexto que várias rodovias foram construídas. Em 1956, Juscelino Kubitschek (1902 - 1976) é eleito Presidente da República. Seu governo foi marcado pelo acelerado processo de industrialização do Brasil. Neste contexto, houve a construção massiva de rodovias e a indústria automobilística foi bastante beneficiada neste período. As empreiteiras também fizeram a festa no governo JK. Já durante a Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964 - 1985), o transporte rodoviário continuou sendo o preferencial e o ferroviário foi deixado de lado. O número de pessoas que trabalhavam na área foi cortado e ficou somente os ramais mais lucrativos para o transporte de cargas.
     Na década de 1990, o transporte de passageiros por meio de ferrovias era algo raro. Atualmente, só há apenas três linhas de trem de longa distância que transportam passageiros. Duas são administradas pela mineradora Vale: uma liga Belo Horizonte (MG) à Vitória (ES), com 664 quilômetros, e a outra, a São Luís (MA) a Parauapebas (PA), com 870 quilômetros. O transporte de passageiros nestas linhas é uma obrigação assumida pela mineradora em um contrato de concessão assinado com o governo no ano de 1997. Há também uma outra linha que liga Curitiba (PR) a Paranaguá (PR), com 110 quilômetros, também concedida a uma empresa privada. Vale citar também as 24 linhas turísticas e comemorativas. Elas são em grande maioria de curta distância e são preservadas por conta de seu valor histórico, não operando diariamente. A linha que liga São João Del Rey (MG) a Tiradantes (MG), por exemplo, tem 12 quilômetros e funciona de sexta a domingo.

Estação ferroviária em Americana, interior de São Paulo, em 1916. Imagem: Reprodução/Estações ferroviárias do Brasil. 

     O transporte ferroviário praticamente desapareceu no Brasil e o pouco que sobrou dele é voltado para o transporte de cargas, mais vantajoso do ponto de vista econômico. Transportar pessoas em ferrovias não é vantajoso do ponto de vista econômico, embora seja possível transportar um grande número de pessoas pelas mesmas. Administrar uma ferrovia não é uma tarefa barata, além de ser um investimento a médio e longo prazo; ao contrário das rodovias, que são fáceis e baratas de construir, além de apresentarem um retorno imediato. É por causa disso que em muitos países do mundo, onde o governante pensa  no bem estar dos cidadãos, as ferrovias recebem um subsídio do Estado para serem administradas. Isso porque o transporte ferroviário é seguro, eficiente, não depende de gasolina e se o mesmo for elétrio, ele não polui o Meio Ambiente.

Conclusão

     Um país com dimensões continentais como o Brasil não pode depender somente do transporte rodoviário (praticamente nenhum país do mundo faz isso). Muito pelo contrário. Os transportes ferroviário, hidroviário e rodoviário deveriam  ser tratados de forma igual. Entretanto, historicamente as rodovias recebem tratamento preferencial de inúmeros governantes. E o resultado é um país com rodovias por todos os lados. Foi por essas e outras que um grupo de caminhoneiros conseguiu parar o país. 

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