07/09/2017

A romantização da escravidão

Adolescentes vestidos de escravos durante atividade escolar. Imagem: Reprodução Facebook.

     A escravidão dos negros africanos é um período tenebroso da história do Brasil e mudou o mundo para sempre. Pelo fato de ter sido algo extremamente doloroso cujos efeitos ainda não foram eliminados, é no mínimo infelicidade querer romantizar esse período.
     A prática da escravidão existe muito antes da vinda de Cristo à terra. Ela existiu em várias regiões do Mundo Antigo e era aplicada na quitação de dívidas ou quando uma tribo era derrotada. Inclusive, a escravidão é narrada em vários textos bílicos. A tribo de Israel foi escrava em diversos momentos. Aliás, na abertura do Mar Vermelho, uma das mais conhecidas passagens da Bíblia, o povo de Israel foi liberto da escravidão depois de mais de 400 anos convivendo debaixo deste julgo praticado por um faraó. Quando o povo estava no meio do caminho, faraó foi atrás para reescravizar o mesmo, que por sua vez tinham a frente o Mar Vermelho. Eles não tinham saída: atrás estava faraó com seus homens e na frente estava o Mar Vermelho. Foi quando o impossível aconteceu: o mar se abrir e as águas eram como paredes. Quando o povo passou, os cavaleiros de faraó foram atrás, mas as águas voltaram a seu estado normal e não sobreviveu uma alma para contar a história. 

Mapa mostrando o destino dos africanos escravizados. A maioria deste contingente veio para o Brasil. Imagem: Reprodução. 

     A prática da escravidão já existia em algumas regiões da África, onde a tribo vencedora escravizava a tribo perdedora em uma batalha (há quem diga que isso nunca aconteceu, mas aí é outra história). Os europeus chegaram e se aproveitaram destes conflitos para lucrar. Desta forma, muitos líderes tribais negociaram os escravos com os europeus. Entretanto, ninguém esperava o que estava por vir. A escravidão africana mudou para sempre a configuração do mundo e refletiu na cultura, política e economia de várias regiões mundo a fora. Estes africanos foram arrancados de sua terra, de sua família, de seus amigos e eram reis, nobres e pessoas da alta sociedade que foram relegadas a condição de escravo. Uma vez na diáspora, estes africanos escravizados foram impedidos de falarem sua língua, praticarem seus costumes, exercerem sua crença e foram, como já dito, separados de seus familiares. Foram forçados a trabalhar exaustivamente quase vinte horas por dia, sofreram os piores castigos físicos (o chicote é nada se comparado a outras formas de agressão física), foram abusados sexualmente, tiveram filhos resultantes de estupros, não havia uma lei que os amparasse... foram postos a uma posição pior do que o objeto, pois o objeto você cuida, coisa que não foi feita com os escravos. Os escravizados experimentaram dores indescritíveis. 

Em 2016, uma coleção de roupas da rede de lojas Maria Filó causou polêmica ao lançar blusa com desenhos de negros escravizados. Imagem: Reprodução Facebook.

      Entretanto, mesmo com o fato de a escravidão ter sido um horror, há pessoas que romantizam a mesma. Em 2016, a coleção da rede de lojas Maria Filó causou polêmica ao exibir blusas com estampas de negros escravizados. A recepção foi negativa e a marca foi acusada de fazer apologia a escravidão e ao racismo. Em comunicado, a Maria Filó disse que a estampa buscou inspiração na obra de Debret e que em nenhum momento quis ofender. A estampa foi retirada de circulação. Em agosto de 2017, um amigo meu postou em sua página pessoal no Facebook uma foto printada onde uma pessoa fotografou crianças na faixa dos 10 anos de idade com os rostos pintados de preto ao lado de um copo de caldo de cana com a seguinte legenda: "Hoje nosso trabalho foi muito prazeroso! A turma do 4º ano aprendendo sobre os engenhos de açúcar e a importância da mão de obra escrava nas lavouras de cana". Provavelmente, até por conta da idade, não foi contado a estas crianças que os escravos trabalhavam até 18 horas por dia, se alimentavam mal, dormiam mal, viviam mal e pouco e sofriam todo tipo de castigo físico, verbal e psicológico. Vejam a imagem abaixo:

Mulher que não teve a identidade revelada romantizando o trabalho escravo nas lavouras de açúcar do Brasil colonial, chegando ao cúmulo de pintar o rosto das crianças de preto. Imagem: Reprodução Facebook

      A imagem que abre este texto foi tirada em uma escola de Ensino Médio da cidade do Rio de Janeiro. A mesma foi tirada durante uma atividade extra curricular chamada "Café Colonial". Nesta atividade, os estudantes se vestem com roupas da época e trazem comidas do período. Na foto, há adolescentes com roupas que eram usadas pelos escravos. O modo como tudo foi retratado deu a entender que escravos e brancos viviam tranquilamente. Não. Isso nunca aconteceu. Primeiro, por todas as violências aqui já citadas que os escravos sofreram. E segundo, os negros eram tratados como invisíveis. Os brancos passavam por eles e fingiam não os conhecer, não os cumprimentavam. Eles não podiam falar e muito menos levantar a voz. Eles deviam apenas fazer tudo que o senhor mandava. TUDO. 

Conclusão

      A escravidão, que no Brasil durou pouco mais de três séculos, foi um dos piores crimes contra a humanidade que este mundo já viu. Entretanto, algumas pessoas procuram romantizar a mesma, minimizando os efeitos deste que foi um sistema extremamente cruel. A escravidão não deve ser romantizada, mas sim mostrada em sua realidade para que nunca mais aconteça e para que o racismo seja eliminado de nossa sociedade de uma vez por todas. 

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