20/04/2017

Paquitas - Feminilidade e representatividade

Paquitas da Xuxa em pose clássica. Da esquerda para a direita: Letícia Spiller, Tatiana Maranhão, Andreia Sorvertão, Ana Paula Pituxita, Roberta Cipriani, Cátia Paganote e Priscilla Couto. 

     Os anos 1980 foi uma época de ouro para Xuxa Meneghel e para todos aqueles que tiveram o privilégio de viverem esta época. A loira estava em plena ascensão, onde suas músicas, seu programa de televisão e tudo o que envolvia seu nome era um verdadeiro sucesso. A Rainha dos Baixinhos era um verdadeiro fenômeno e nove em cada dez crianças sonharam em estar ao lado Xuxa todos os dias. Conviver com Xuxa foi um privilégio de poucos e as paquitas conseguiram fazer tal coisa. 

Em pé (da esquerda para a direita): Bianca Rinaldi, Roberta Cipriani, Xuxa, Cátia Paganote e Tatiana Maranhão. Abaixadas (da esquerda para a direita): Ana Paula Pituxita, Juliana Baroni, Priscilla Couto e Letícia Spiller. Estas meninas conseguiram o que muitas crianças sonharam: conviver com Xuxa Meneghel. 

      As paquitas surgiram quando Xuxa apresentava o Clube da Criança (1983-1998), na extinta TV Manchete. A loira tinha viajado para os EUA e lá conheceu um papagaio de nome Paquito. Retornando ao Brasil, a Xuxa não falava de outra coisa. Este fato fez com que no programa entrasse um personagem de nome Paquito. Nesta época, Xuxa apresentava o programa sozinha e por conta disso tinha dificuldades para tomar conta das crianças. Percebendo este fato, Marlene Mattos (que era diretora do programa) escolheu uma garota para ser assistente de palco de Xuxa. Andréa Veiga, que havia sido escolhida, era tida como namorada do mascote paquito, rendendo a moça o apelido de paquita. Essa história de seu em 1984 e por volta de dois anos depois Xuxa assina contrato com a Rede Globo. Na nova emissora (que nessa época já era a maior do país), Xuxa tinha um programa com um cenário maior e consequentemente um número maior de crianças passaram a ir ao programa. Com isso, as paquitas se tornaram indispensáveis e por conta disso elas foram com Xuxa para a Rede Globo (com exceção da paquita Heloísa Morgado, que foi substituída por Andréia Faria, a Xiquita Sorvetão). Ainda na TV Manchete ficou claro que uma única paquita não conseguiria cuidar de tantas crianças  e na TV Globo a situação não seria muito diferente.

Em pé (da esquerda para a direita): Ana Paula Pituxita, Flávia Fernandes, Letícia Spiller e Bianca Rinaldi. Abaixadas: Roberta Cipriani, Priscilla Couto, Cátia Paganote e Juliana Baroni. Os anos 1980 foram o auge das paquitas. Imagem: Reprodução. 

      Além de ajudarem Xuxa com as crianças, as paquitas também cantavam e dançavam. Elas formaram um grupo musical de nome homônimo que fez muito sucesso. O primeiro disco do grupo, que recebeu o título Paquitas, vendeu em torno de 800.000 cópias. o hit É Tão Bom é um clássico do grupo. Outra música que as paquitas emplacaram foi Eu Não Largo o Osso, tema de abertura do programa infantil TV Colosso (1993-1997). Se a vida de paquita era glamourosa, a rotina delas era a de um soldado. As meninas que vestiam roupas de soldadinhos tinham uma rotina que incluía aulas de dança, de canto, elas não podiam ter notas baixas na escola e deviam sempre cuidar da aparência.         As paquitas surgiram nos anos 1980 e absorveram a moda deste período. Praticamente todas as paquitas que trabalharam com Xuxa durante as décadas de 1980 e 1990 usavam franja, uma moda da época. Aliás, a própria Xuxa usou a mesma durante um bom tempo. Além de usarem franja, as paquitas tinham longos cabelos loiros. O cabelo grande é o sinal máximo da feminilidade de uma mulher e cortar os mesmos é sinal de independência. É por esta razão que ainda hoje algumas feministas usam cabelos curtos. Não há uma razão específica para tal fato, mas com raras exceções, todas as paquitas eram loiras. Este era o critério número um para ser paquita da Xuxa. Uma das explicações para tal fato seria de que as paquitas eram uma mini representação da Xuxa, que é loira. Especulações à parte, o fato de nunca ter havido uma paquita negra é algo que até hoje persegue a Rainha dos Baixinhos. Certa feita, um seguidor da loira no Facebook perguntou porque não tinha paquitas negras e a loira apenas disse: "nem loira, nem negra, nem japa... não tem mais paquita". Em meu cursinho preparatório para o Ensino Médio a professora de História do Brasil era negra. Certa feita, durante a aula, ela disse que em sua época a moda era ser paquita da Xuxa, mas como ela era negra, ela não podia ser uma. Crianças negras tiveram sua auto-estima destruída por não poderem trabalhar com Xuxa. Vale lembrar que a Rainha dos Baixinhos já teve uma assistente de palco negra, que foi a Adriana Bombom. Ela surgiu muito tempo depois que Xuxa foi contratada pela Rede Globo. Ela foi descoberta no Xuxa Hits, quadro do Xuxa Park (1994-2001). Ela ajudava Xuxa durante o programa, dançava esporadicamente com as paquitas e saía em turnê com Xuxa. Entretanto, ela nunca foi paquita.

Da esquerda para a direita: Cátia Paganote, Ana Paula Pituxita e Juliana Baroni. As paquitas costumavam usar roupas curtas. Imagem: Reprodução.

     As paquitas costumavam usar fardas de soldado, botas e um chapéu também de soldado com a letra "X" na frente. As fardas mostravam a barriga e o short deixava as pernas de fora. Se isso acontecesse na atualidade, certamente Xuxa e a equipe responsável seriam duramente criticados e a situação poderia chegar à justiça. Entretanto, era a década de 1980 e nesse período não tinha o cuidado que tem hoje com as crianças. Pais costumavam vestir suas filhas desta maneira e isso era uma prática aceitável, ao contrário do que acontece hoje. Vale lembrar que a TV durante as décadas de 1980 e 1990 era praticamente uma terra sem lei. Milhares de produtos eram destinados ao público infantil sem pudor algum, propagandas de cerveja com mulheres seminuas passavam em plena luz do dia (às vezes durante o intervalo de um programa infantil), cantores iam a programas infantis cantar músicas de cunho sexual, apresentadoras de programas voltados para crianças apareciam na televisão com pouca roupa (a própria Xuxa é um exemplo) e a Banheira do Gugu, extinto quadro do Domingo legal, passava em um domingo à tarde. Aliás, Gugu era especialista em quadros com forte apelo sexual. As assistentes de palco de Xuxa Meneghel costumavam aparecer da maneira aqui descrita durante as apresentações e faziam coreografias elaboradas. Tais eram compostas de gestos sensíveis e delicados, reforçando a feminilidade das meninas.

Da esquerda para a direita: Gisele Delaia, Diane Dantas, Caren Lima, Vanessa Amaral, Bárbara Borges, Graziela Schmitt e Andrezza Cruz. As novas assistentes de palco de Xuxa foram chamadas de Paquitas New Generation. Imagem: Reprodução.

      Desde os anos 1980, quando as paquitas surgiram, até meados da década de 1990, as assistentes de palco de Xuxa foram substituídas pontualmente e/ou entraram no meio do caminho. Em 1995, as então paquitas (que já estavam crescidas) Ana Paula Almeida, Ana Paula Guimarães, Cátia Paganote, Flávia Fernandes, Priscilla Couto, Bianca Rinaldi, Roberta Cipriani e Juliana Baroni deram lugar a Caren Lima, Graziela Schmitt, Diane Dantas, Gisele Delaia, Andrezza Cruz, Bárbara Borges e Vanessa Amaral, as Paquitas Nova Geração (ou New Generation). A moda dos anos 1980 não era a mesma que  a dos anos 1990. Desta forma, as paquitas acompanharam a tendência da época. Elas não mais eram apelidadas de Xiquita, Paquitita, Pituxita, Catuxa, Catu, Miúxa ou algo do tipo. Ao invés disso, elas receberam apelidos como Chaveirinho (Caren Lima), Lady Di (Diane Dantas) e Miss Queimados (Gisele Delaia), por exemplo. Estes apelidos eram a moda da época. A roupa que elas usaram também tiveram de ser atualizadas. As já consagradas roupas de soldado eram usadas durante o Xuxa Park e foram incorporados ao figurino das paquitas roupas colegiais e figurinos como o que pode ser visto na foto acima, que incluíam calça baggy e blusas que deixavam a barriga de fora. O look era uma sensação da época. Entretanto, mesmo com tantas mudanças, as novas paquitas não romperam a barreira da feminilidade. Elas continuavam sendo femininas dentro da época a qual estavam inseridas. Mudou a forma, mas a essência continuou sendo a mesma.
     As Paquitas New Generation trabalharam com Xuxa até 1999, quando deram lugar para as Paquitas Geração 2000. Assim como as paquitas anteriores, as desse grupo não romperam a barreira da feminilidade, pelo contrário. Assim como o grupo anterior, o novo grupo procurou captar a moda feminina da época. Além disso, elas poderiam não usar franja, mas continuavam sendo loiras. Ao contrário dos grupos anteriores de paquitas, as da Geração 2000 tiveram vida curta, pois em 2002 a relação de amizade e trabalho entre Xuxa e Marlene Mattos que durou aproximadamente 19 anos chegou ao fim. Com o fim da parceria entre Xuxa e Marlene e diante da incerteza do que aconteceria no futuro, se achou por bem dispensar as paquitas. Desta forma, os planos e projetos para as paquitas foram cancelados.

Conclusão

      As paquitas representavam um determinado perfil de menina: branca, loira e delicada. Elas reforçaram estereótipos que historicamente as feministas procuram quebrar. Além disso, elas destruíram a auto-estima e o sonho de muitas moças que não se encaixavam no perfil aqui descrito e que um dia sonharam em trabalhar ao lado de Xuxa.

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