21/08/2018

O objetivo da China por trás do pesado investimento no futebol

Renato Augusto em campo. Além de integrar a seleção brasileira, o meia defende o Beijing Guoan Football Club, da China. Imagem: Reprodução. 

     Nos últimos anos, o mundo tem assistido ao pesado investimento da China no futebol. O esporte mais popular do planeta é o futebol e a China  está disposta a entrar no mapa do futebol mundial. Este investimento não é feito por fazer: há um interesse geo-político por parte da China neste pesado investimento. 
     O investimento da China no futebol é relativamente recente, mas nem por isso é menos pesado. A China tem se destacado no mercado internacional da bola por contratar jogadores de futebol por altos preços. O brasileiro Oscar, o belga Axel Witsel, o colombiano Jackson Martínez e o argentino Carlitos Tevez são alguns exemplos.O primeiro foi contratado por 52 milhões de libras (R$ 218 milhões), o segundo por 50 milhões de euros (R$ 171 milhões), o terceiro foi contratado por 42 milhões de euros (R$ 183 milhões) e o último foi contratado por US$ 40 milhões (R$147 milhões). Desde o início de 2015 que a China investiu US$ 2 bilhões (R$ 6, 44 bilhões) no mercado do futebol europeu para comprar a fatia ou a totalidade de clubes como AC de Milão (Itália), o Inter de Milão (Itália) e o Manchester City (Inglaterra). O governo do Partido Comunista, ao divulgar o 13º Plano Quinquenal, indicou que a indústria esportiva deve alcançar US$ 433 bilhões (R$ 1,4 trilhão) ou 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país até 2020. A previsão é que até lá tenha 50 milhões de chineses jogando futebol, 20 mil centros de treinamento e 70 mil campos de futebol em território chinês. 
     Vários são os motivos que são apontados como os reais objetivos da China ao investir no futebol. O primeiro é o fato de a economia chinesa vir reduzindo o ritmo de expansão depois de décadas de crescimento na casa dos dois dígitos. Desta forma, os chineses estão determinados a buscar novas fontes de renda para o país e o rico mercado do futebol é uma possibilidade. Além disso, ocupar a 82ª posição no ranking mundial de futebol (posto que já foi ocupado pela China) não combina com o "status" de segunda maior potência econômica mundial. Ser bom no futebol ajuda muito mais na influência do que várias medalhas de ouro em esportes considerados menores. No final de 2014, Jinping, presidente da China, disse que a China seria uma potência do futebol e em 2016 a Associação Chinesa de Futebol anunciou um plano ambicioso para colocar o país entre os melhores do planeta até 2050. Eles não estão para brincadeira.

Da esquerda para a direita: Hulk, Hernanes, Oscar e Alexandre Pato são alguns dos muitos jogadores brasileiros que estão brilhando no futebol chinês. Imagem: Visual China - VCG - Power Sport Images - Lintao Zhang/Getty Images

     A China está disposta a entrar na elite do futebol mundial e neste plano ambicioso está o Brasil. Os chineses têm olhado com atenção para o futebol brasileiro e muitos jogadores de peso têm jogado em clubes chineses. Além de Renato Augusto, que também joga pela seleção brasileira, Hulk, Alexandre Pato, Oscar, Hernanes, Ricardo Goulart, Ramires, Alex Teixeira, Alan, Gil, Diego Tardelli e Elkeson são alguns dos muitos jogadores brasileiros que estão brilhando no futebol chinês. Se todos os jogadores brasileiros, bem como os técnicos brasileiros que também estão na China fossem citados aqui, eu teria que dedicar um espaço muito maior neste texto para listar todos os brasileiros que estão atuando no futebol chinês. A atenção da China no futebol brasileiro se deve a dois motivos. O primeiro é que o Brasil é o país que mais vezes ganhou uma Copa do Mundo, o evento futebolístico mais importante do planeta. Além disso, o Brasil tem muitos jogadores de futebol que são excelentes. E eles estão em clubes da Europa e também da China. Casemiro, Marcelo, Firmino, Daniel Alves, Alisson Becker, David Luiz, Vinícius Júnior e Arthur Melo são alguns exemplos. O segundo motivo para a atenção da China no futebol brasileiro se deve a razões político-econômicas. As grandes contratações de jogadores de futebol brasileiros por parte da China ocorre em um contexto político-econômico onde a China faz pesados investimentos no Brasil. Por volta dos anos 2000, Pequim, capital da China, passou a apostar em uma política de internacionalização de empresas chinesas ligadas a setores estratégicos, que buscam investir em recursos naturais, mercado consumidor e novas tecnologias. Sob a ótica geopolítica, há um interesse de "ocupação de espaços" por parte de Pequim, sendo interessante para a China  ter um foco na América Latina. A história da região foi marcada pela grande influência dos Estados Unidos na América Latina, principalmente nos tempos de Guerra Fria (1945 - 1991). Passadas as tensões ideológicas, os EUA passaram a dar mais atenção para o terrorismo, a imigração e tensões na Ásia, levando a maior potência do mundo a se afastar um pouco da América Latina. Este fato abriu espaço para a China, a segunda maior potência econômica do mundo, atuar no continente, tendo o Brasil como ponto de partida. Isso porque o país é a maior potência econômica da América Latina, servindo de referência para os demais países da região. A China entendeu que, investindo no Brasil, a possibilidade de atuar nos demais países latino-americanos aumentam. 

Conclusão

     A China tem investido no futebol porque está determinada a entrar para o seleto grupo da elite mundial do futebol. Tal investimento é feito em um contexto onde a China procura ser a maior potência do mundo e os chineses perceberam que, para ser uma influência global, é preciso também ter um dos melhores (ou o melhor) futebol do mundo, uma vez que tal esporte é o mais popular do planeta. A contratação de jogadores brasileiros por parte dos chineses acontece porque o Brasil, além de ter o prestígio pelo fato de ser pentacampeão em uma Copa do Mundo, tem até hoje excelentes jogadores. Estas contratações (a altas cifras por sinal) ocorrem em um contexto em que a China tem investido cada vez mais no Brasil. O objetivo é estender sua influência por todo o planeta e, para ser influência na América Latina, a China entendeu que tem que ter o Brasil como ponto de partida, uma vez que o país é a maior potência regional. 

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