11/01/2017

Por que os Bolsonaros são tão populares?

Da esquerda para a direita: Carlos Bolsonaro, Jair Bolsonaro (patriarca da família), Flávio Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro. Todos são políticos. Imagem: Reprodução.


     Nas últimas eleições, eles aparecem na lista dos mais votados. Nas redes sociais, eles são seguidos por um número considerável de pessoas e os seus vídeos possuem centenas (alguns milhões) de visualizações. A presença dos mesmos em programas de TV ou rádio causa um aumento considerável na audiência. Em meio a tanta popularidade, fica a pergunta no ar: por que a família Bolsonaro é tão conhecida?
     Engana-se quem pensa que Jair Bolsonaro e prole entraram há pouco tempo na política. Jair Bolsonaro está na política desde 1988, quando foi eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro pelo Partido Democrata Cristão. Jair já foi filiado ao Partido Progressista Reformador (PPR), ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), ao Partido da Frente Liberal (PFL) , ao Partido Progressista (PP) e desde 2016 integra o Partido Social Cristão (PSC). A popularidade de Jair Bolsonaro vem aumentando desde 2010, quando foi eleito deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro com 120 mil votos. Em 2014, foi eleito deputado federal com 464.572, sendo o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro. Flávio Bolsonaro, filho de Jair, é filiado ao Partido Social Cristão e também está na política. Nas eleições de 2014, foi eleito deputado estadual com 160.359 votos. Nas eleições de 2016, disputou a  Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e ficou em 4º lugar com 424.307 votos, que representaram 14% dos votos válidos, ficando fora do segundo turno, que foi disputado por Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL). Carlos Bolsonaro, também filiado ao PSC, foi o vereador mais votado à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, com 106.657 votos, garantindo seu quarto mandato na Câmara do Rio; foi eleito vereador pela primeira vez no ano 2000. Eduardo Bolsonaro, filiado ao PSC, foi eleito nas eleições de São Paulo 2014 deputado federal com 82.224 votos. Jair Bolsonaro é pai também de Laura e Renan Bolsonaro, que são os filhos mais novos do político em questão.

Carlos Bolsonaro (à direita) fazendo campanha ao lado do irmão Eduardo Bolsonaro (à esquerda). Imagem: Reprodução/Facebook.  

     A popularidade da família Bolsonaro não se limita somente nas urnas. A popularidade da família também é notável nas redes sociais. Jair Bolsonaro, o patriarca, tem mais de 3.000.000 de seguidores em sua página no Facebook. Já seu filho Eduardo tem mais de 1.000.000 de seguidores em sua fan page na rede social fundada por Mark Zuckerberg. Flávio Bolsonaro tem mais de 300.000 seguidores na  rede social em questão e Carlos Bolsonaro tem pouco mais de 100.000 seguidores no Facebook. As posts deles nas  redes sociais sempre repercutem bastante. Os vídeos postados por Jair Bolsonaro em sua página no Facebook possuem  em sua maioria mais de 200.000 visualizações.  Na página do deputado há um vídeo que tem mais de 5.000.000 visualizações. Alguns lives feitos pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro em sua página no Facebook  possuem mais de 100.000 visualizações. Em julho de 2016, Jair Bolsonaro e o filho Eduardo participaram do programa Pânico no Rádio, exibido pela rádio Jovem Pan FM. A presença dos políticos fez o programa bater recorde de acessos ao vivo no Youtube. A excelente audiência obtida levou Jair e Eduardo Bolsonaro a serem convidados a participarem do programa mais uma vez.

Eduardo Bolsonaro (à esquerda) e Jair Bolsonaro (à direita) durante participação  no programa Pânico no Rádio. Imagem: Reprodução. 

     Jair Bolsonaro e seus filhos são conhecidos por possuírem um posicionamento político de extrema-direita. Os mesmos acreditam que o Golpe Civil-Militar de 1964 foi bom para o Brasil, defendem uma  nova intervenção militar no país, são a favor do desarmamento, são favoráveis à prática  da tortura, são contra os direitos humanos, defendem a pena de morte, são contra as pautas LGBTs, são contra a legalização do aborto, possuem um posicionamento racista, possuem também um pensamento machista, foram favoráveis ao golpe que afastou Dilma Rousseff, são a favor da criminalização do comunismo e são contra os direitos indígenas. Jair Bolsonaro e prole não possuem um posicionamento político diferenciado da maioria dos brasileiros. Pelo contrário. O Brasil é tudo isso que os mesmos defendem. Desta forma, o discurso dos políticos  em questão acabam tendo uma ressonância na sociedade brasileira. Além disso, a família Bolsonaro, em especial o Jair, não pensam muito antes de falar e acabam falando barbaridades. Só para tomar como exemplo, Jair Bolsonaro já disse muitos absurdos, tais como: "O erro da ditadura foi torturar e não matar", "Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater", "Parlamentar não deve andar de ônibus" e "Mulher deve ganhar salário menor porque engravida". É como já foi dito neste parágrafo: a família Bolsonaro não possui um discurso diferenciado. A única diferença é que eles, em especial Jair, são diretos (e até violentos) em suas falas. Grande parte dos brasileiros concordam com a fala destes políticos. Muitos não tem coragem de falar o que a família Bolsonaro fala, mas por concordarem com tais coisas, se sentem representados pela família em questão. Em minha página pessoal no Facebook eu tenho algumas pessoas que não costumam falar de política nas redes sociais. Quando visito a fan page de algum Bolsonaro eu vejo que eles estão lá  curtindo a página. Isso prova que tem gente se sente representada pelos Bolsonaros, mas não dizem tal coisa.

Jair Bolsonaro (à esquerda), o pastor Silas Malafaia (centro) e o senador Magno Malta (PR-ES) durante a Marcha Para Jesus 2015, realizada na cidade do Rio de Janeiro. Imagem: Daniel Castelo Branco/ Agência O Dia. 

     O Brasil é um país conservador e tradicionalmente católico. Nas últimas décadas, o número de cristãos evangélicos no país tem aumentado consideravelmente. A prova deste fato está na presença constante de  cantores gospel na mídia secular, além também da quantidade de atores e artistas em geral que dizem professar a fé evangélica. Dentro de suas peculiaridades, o catolicismo e o protestantismo são vertentes conservadoras do cristianismo. Jair Bolsonaro é católico (em 2016, foi batizado por um pastor no Rio Jordão, em Israel), Flávio Bolsonaro é membro da Igreja Batista. Eduardo e Carlos Bolsonaro afirmam ter fé em Deus e defendem valores cristãos. O conservadorismo da família Bolsonaro acaba sendo aceito também dentro do cristianismo, uma  religião igualmente conservadora. Uma vez que a religião evangélica é a que mais cresce no Brasil, os Bolsonaros acabam sendo ainda mais populares. É contraditório pessoas se dizerem cristãs e professarem discursos de ódio e atacarem as minorias.
      É importante ressaltar que o discurso da família Bolsonaro acaba sendo aceito na periferia por conta da ausência do Estado. O discurso dos mesmos acaba sendo aceito e até endossado pelos programas policialescos que possuem grande popularidade nos centros periféricos. Estes programas atacam os direitos humanos, são favoráveis ao linchamento, à pena de morte, à redução da maioridade penal e legitimam a violência policial. Estes mesmos programas noticiam crimes do começo ao fim e acabam despertando o medo da população, que acaba se sentindo segura com o discurso punitivo (somente para o bandido pobre) pregado por Jair e suas crias. Além disso, a dita nova classe média é frustrada e é neste público que discursos propagados pelos Bolsonaros também encontram aceitação.
      Como já dito, a família Bolsonaro não é nova na política. Pelo contrário. Entretanto, desde pelo menos 2014 que esta família vem  alcançando altos índices de popularidade. Há um contexto político nacional e internacional que favorece a família Bolsonaro. Em junho de 2013, houve em todo o país manifestações que inicialmente pediam a redução do preço da tarifa do transporte público. Entretanto, novas pautadas foram incorporadas e o movimento teve seus desdobramentos, que são perceptíveis em 2017. Estas manifestações mostraram que o modelo de governo adotado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) se esgotou. A política de conciliação de classes e de programas sociais compensatórios adotados pelo PT se mostrou ineficiente. Com isso, a popularidade do PT caiu e muita gente viu na direita a solução para seus problemas. Aliás, esta onda conservadora vem crescendo desde as manifestações de junho de 2013 (já nestas manifestações haviam pessoas pedindo o impeachment da então Presidente da República Dilma Rousseff). Este crescimento do conservadorismo/neoliberalismo não é um fenômeno exclusivamente brasileiro. Na América Latina, governos de cunho populista tem saído do poder para dar lugar a políticos neoliberais. Em alguns países da Europa, políticos de direita tem chances reais de chegar ao poder.

Conclusão

      A questão é muito maior do que os Bolsonaros. Se eles saírem da vida política, outros podem alcançar popularidade com um discurso similar ao deles. Os Bolsonaros só são populares porque eles pregam nada além daquilo do que a sociedade já é. O que os diferenciam é que eles não pensam muito antes de falar e pessoas que não tem coragem de serem assim, mas que concordam com o que é dito por eles, acabam apoiando tais políticos. Bolsonaros são reflexos de uma sociedade doente. 

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