Gunnar Vingren (à esquerda) e Daniel Berg (à direita), os fundadores das Assembleias de Deus no Brasil. Imagem: Reprodução. |
A Assembleia de Deus é a maior denominação evangélica e pentecostal do Brasil. Assim como qualquer organização social, os assembleianos fazem história e possuem um modo específico de escrever a mesma.
A Assembleia de Deus é uma igreja evangélica de matriz pentecostal que está presente no Brasil e em diversos países. No Brasil, a AD é a maior denominação evangélica do país. Popular sobretudo entre as camadas mais humildes da sociedade, a igreja em questão é conhecida no imaginário popular pelo seguinte estereótipo de seus membros: mulheres de cabelos longos, sem maquiagem, esmalte, pendentes (com exceção do relógio de pulso e aliança) e calça comprida. Já os homens desta denominação são vistos como aqueles que não usam bermuda, blusa sem manga e cabelos longos. É importante lembrar que a AD no Brasil não é uma unidade. Desta forma, os estereótipos aqui citados não se aplicam a todas as ADs.
Pelo fato de ser uma denominação centenária, as ADs têm muita história para contar e os assembleianos possuem um modo característico de escrever a própria história. É muito comum líderes assembleianos escreverem sua autobiografia, em especial aqueles que foram os pioneiros em abrir a primeira igreja da Assembleia de Deus em determinada região do país. A grosso modo, estas autobiografias seguem a seguinte fórmula: valorização de atos heroicos, destaque para as necessidades sofridas ao longo do percurso, destaque para os feitos realizados e o foco na vida santa do autobiografado. Aliás, o personalismo é uma das características da historiografia da Assembleia de Deus. Há uma hiper valorização da figura dos líderes da AD. Paulo Macalão e Gunnar Vingren são exemplos disso. É importante destacar que se nos últimos anos Daniel Berg e Gunnar vingren são exaltados dentro da AD, nem sempre foi assim. Este personalismo é uma característica da política brasileira que a Assembleia de Deus copiou. O personalismo, que é a ideia do indivíduo como ponto de referência de tudo o que ocorre à volta do mesmo, é uma prática muito antiga da política do país que se consolidou durante o governo Vargas (1930-45, 1950-54). Getúlio Vargas (1882-1954), ao criar em torno de si a imagem de "pai dos pobres" e controlar tudo o que saía em torno de si na imprensa, consolidou uma prática já existente em nossa política e que se faz presente na atualidade, que é o personalismo.
Outra característica da historiografia assembleiana é o constante silenciamento de determinados acontecimentos. Quem estuda a história das Assembleias de Deus no Brasil sabe que as disputas internas pela liderança são uma realidade em muitas ADs e não costumam ser contadas na história oficial. Desta forma, ao ler uma biografia onde há expressões como "passou-se um tempo", "passado um período" ou similares, tenha a certeza de que tais escondem conflitos que existiram. Um membro da Assembleia de Deus pode ter contribuído bastante para a denominação, mas a partir do momento que ele sai da mesma, é completamente ignorado, é como se ele nunca tivesse existido e/ou que seus atos não foram importantes para a denominação. Esta é uma prática comum, principalmente quando o membro silenciado teve sérios conflitos com a denominação em questão. Quem também costuma ser silenciada na história oficial das ADs são as mulheres. Todos sabem que a AD limita o ministério feminino, sendo tachada como uma igreja extremamente machista. Desta forma, na hora de escrever a história das Assembleias de Deus, as mulheres são limitadas ao máximo. Vale destacar os livros Frida Vingren (esposa de Gunnar Vingren) e 100 Mulheres que Fizeram a História das Assembleias de Deus no Brasil, ambos de autoria de Isael de Araújo, renomado intelectual assembleiano.
Conclusão
A história tende a ser contada a partir da ótica dos vencedores e com relação a história das Assembleias de Deus no Brasil não é diferente. Quem conta a história da denominação são aqueles que venceram a disputa na liderança da mesma. Tais pessoas criam em torno de si e de seus antepassados uma imagem heroica, valente e santa. Além disso, estes mesmos narradores tentam esconder conflitos e disputas que marcaram a história da denominação, excluindo da narrativa oficial as mulheres e pessoas indesejadas, ainda que tais tenham contribuído grandemente para a Assembleia de Deus.
A Assembleia de Deus é uma igreja evangélica de matriz pentecostal que está presente no Brasil e em diversos países. No Brasil, a AD é a maior denominação evangélica do país. Popular sobretudo entre as camadas mais humildes da sociedade, a igreja em questão é conhecida no imaginário popular pelo seguinte estereótipo de seus membros: mulheres de cabelos longos, sem maquiagem, esmalte, pendentes (com exceção do relógio de pulso e aliança) e calça comprida. Já os homens desta denominação são vistos como aqueles que não usam bermuda, blusa sem manga e cabelos longos. É importante lembrar que a AD no Brasil não é uma unidade. Desta forma, os estereótipos aqui citados não se aplicam a todas as ADs.
Paulo Macalão ao lado da esposa Zélia Brito Macalão. Paulo é o fundador da Assembleia de Deus Ministério Madureira. Imagem: Reprodução. |
Pelo fato de ser uma denominação centenária, as ADs têm muita história para contar e os assembleianos possuem um modo característico de escrever a própria história. É muito comum líderes assembleianos escreverem sua autobiografia, em especial aqueles que foram os pioneiros em abrir a primeira igreja da Assembleia de Deus em determinada região do país. A grosso modo, estas autobiografias seguem a seguinte fórmula: valorização de atos heroicos, destaque para as necessidades sofridas ao longo do percurso, destaque para os feitos realizados e o foco na vida santa do autobiografado. Aliás, o personalismo é uma das características da historiografia da Assembleia de Deus. Há uma hiper valorização da figura dos líderes da AD. Paulo Macalão e Gunnar Vingren são exemplos disso. É importante destacar que se nos últimos anos Daniel Berg e Gunnar vingren são exaltados dentro da AD, nem sempre foi assim. Este personalismo é uma característica da política brasileira que a Assembleia de Deus copiou. O personalismo, que é a ideia do indivíduo como ponto de referência de tudo o que ocorre à volta do mesmo, é uma prática muito antiga da política do país que se consolidou durante o governo Vargas (1930-45, 1950-54). Getúlio Vargas (1882-1954), ao criar em torno de si a imagem de "pai dos pobres" e controlar tudo o que saía em torno de si na imprensa, consolidou uma prática já existente em nossa política e que se faz presente na atualidade, que é o personalismo.
Outra característica da historiografia assembleiana é o constante silenciamento de determinados acontecimentos. Quem estuda a história das Assembleias de Deus no Brasil sabe que as disputas internas pela liderança são uma realidade em muitas ADs e não costumam ser contadas na história oficial. Desta forma, ao ler uma biografia onde há expressões como "passou-se um tempo", "passado um período" ou similares, tenha a certeza de que tais escondem conflitos que existiram. Um membro da Assembleia de Deus pode ter contribuído bastante para a denominação, mas a partir do momento que ele sai da mesma, é completamente ignorado, é como se ele nunca tivesse existido e/ou que seus atos não foram importantes para a denominação. Esta é uma prática comum, principalmente quando o membro silenciado teve sérios conflitos com a denominação em questão. Quem também costuma ser silenciada na história oficial das ADs são as mulheres. Todos sabem que a AD limita o ministério feminino, sendo tachada como uma igreja extremamente machista. Desta forma, na hora de escrever a história das Assembleias de Deus, as mulheres são limitadas ao máximo. Vale destacar os livros Frida Vingren (esposa de Gunnar Vingren) e 100 Mulheres que Fizeram a História das Assembleias de Deus no Brasil, ambos de autoria de Isael de Araújo, renomado intelectual assembleiano.
Conclusão
A história tende a ser contada a partir da ótica dos vencedores e com relação a história das Assembleias de Deus no Brasil não é diferente. Quem conta a história da denominação são aqueles que venceram a disputa na liderança da mesma. Tais pessoas criam em torno de si e de seus antepassados uma imagem heroica, valente e santa. Além disso, estes mesmos narradores tentam esconder conflitos e disputas que marcaram a história da denominação, excluindo da narrativa oficial as mulheres e pessoas indesejadas, ainda que tais tenham contribuído grandemente para a Assembleia de Deus.
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