17/04/2018

Conciliação de classes - uma prática que a História já mostrou ser ineficaz

Getúlio Vargas é o primeiro Presidente da República a fazer a conciliação de classes no Brasil. Imagem: Reprodução. 

     Ao contrário do que alguns podem pensar, a conciliação de classes não é uma novidade no Brasil. Em outras épocas, presidentes da república já fizeram isso e os mesmos continuam a inspirar políticos da atualidade. Entretanto, o que alguns políticos talvez não tenham percebido é que a conciliação de classes é algo ineficaz a médio e longo prazo.
     Getúlio Vargas (1882 - 1954) foi o primeiro Presidente da República no Brasil a tentar conciliar as classes sociais. Por um lado, atendeu a demandas antigas dos trabalhadores, criando uma carga horária diária de trabalho que não podia ser ultrapassada, criou as férias remuneradas e também as CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Por outro lado, procurou também agradar a burguesia, censurou a imprensa, perseguiu opositores políticos e implantou uma ditadura em 1937, que é conhecida como a ditadura do Estado Novo e que só acabaria em 1945. Vargas voltaria a sentar na cadeira da Presidência da República novamente em 1950, mas desta vez ele foi eleito pelas vias democráticas. Entretanto, os tempos eram outros, conciliar as classes como fez na primeira vez em que se tornou presidente não era uma coisa fácil de se fazer no Brasil da década de 1950. Uma grave crise política se instalou no último mandato presidencial de Getúlio Vargas e isso se deve em parte pela conciliação de classes que o então presidente havia feito no passado. Conciliar as classes não era a solução: era preciso mudanças estruturais na sociedade para que a mesma fosse de fato igualitária. Grandes jornais, militares, políticos, intelectuais e a elite começaram a tramar para tirar Vargas do poder. A crise se tornou extremamente aguda e o então presidente não viu outra opção a não ser renunciar ao cargo. Entretanto, ele não fez isso de qualquer jeito: deixou uma carta-testamento direcionada aos pobres onde dizia quem eram os responsáveis pela sua morte e em seguida se matou com um tiro no peito. A morte de Vargas causou uma comoção e também uma revolta nacional, uma vez que a carta-testamento deixada por Getúlio Vargas foi reproduzida em rádios e jornais. Os meios de comunicação que sistematicamente atacavam Vargas foram depredados. Além disso, o jornalista e político Carlos Lacerda (1935 - 1977), opositor ferrenho e declarado de Vargas, junto de algumas pessoas, tiveram de ficar um tempo fora do Brasil, tamanha a revolta do povo brasileiro naquele momento.
     Outro presidente que acreditava na conciliação de classes era João Goulart (1919 - 1976). Vice presidente de Jânio Quadros (1917 - 1992), assumiu a presidência após o mesmo renunciar sem dar maiores explicações. Jango, como também era carinhosamente chamado, era herdeiro de uma tradição política de conciliação entre a burguesia e o proletariado. O então presidente quis o apoio do PSD e do PTB, mas também aceitou alianças com a esquerda. João Goulart acreditava em um capitalismo menos selvagem e mais humano. Desejou realizar profundas mudanças estruturais no país por meio das Reformas de Base, mas ele foi derrubado em 1964 e em seu lugar entrou uma ditadura que só findaria em 1985.

O ex-presidente Lula se inspira em Getúlio Vargas. Imagem: Diego Nigro/JC Imagem. 

     Lula é outro político que tentou conciliar as classes no Brasil quando era presidente. Ele havia tentado se eleger em 1989, 1994 e 1998. Tentou em 2002 e enfim conseguiu, mas para isso algumas mudanças precisaram ser feitas. O discurso da campanha presidencial de Lula em 2002 não era tão radical quanto nos anos anteriores: era um discurso conciliador e mais moderado. Para chegar ao poder, Lula contou com o apoio da ala evangélica, do empresariado e dos grandes fazendeiros. Ao mesmo tempo em que beneficiava as elites, Lula melhorou significativamente a vida dos mais pobres no Brasil. Quem também conciliou as classes foi Dilma Rousseff quando foi eleita Presidente da República. A conciliação de classes (também conhecida como governabilidade) parecia ser o modo perfeito de governar o Brasil. Entretanto, as Manifestações de Junho de 2013 mostraram exatamente o contrário. Não foi este o fator determinante, mas uma das causas que explicam as Jornadas de Junho de 2013 foi a falência de um modo de governar que até então estava em vigor no país. Foi também por conta da governabilidade que Dilma Rousseff sofreu um golpe e Lula é vítima de um processo extremamente arbitrário que na prática nada mais é do que um processo político. Nos últimos tempos, Lula tem se aproximado mais das camadas mais humildes da população, direcionando seu discurso para as mesmas. O povo só é lembrado quando se é necessário solucionar uma crise.

Conclusão

     A História já mostrou que a conciliação de classes é algo que não dá certo a médio e longo prazo. Isso porque em algum momento as mudanças na sociedade terão de ser aprofundadas. Seria muito bom para alguns se as mudanças estruturais na sociedade fossem feitas sem que ninguém perdesse seus privilégios. Porém, não é isso o que acontece: para que a sociedade se torne de fato igualitária, é preciso que reformas profundas aconteçam e, para isso, alguém tem que abrir mão de seus privilégios. E isso é algo que ninguém quer fazer. A burguesia não está disposta a perder seus privilégios e para isso faz um "grande acordo nacional" para garantir a manutenção dos mesmos. Este acordo incluiu o empresariado, o agronegócio, a grande mídia, o Congresso Nacional, o Judiciário e o Supremo Tribunal Federal. E quanto ao proletariado, não resta outra alternativa, a não ser tomar as ruas. 

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