16/11/2017

A promíscua relação entre os militares e a república brasileira

Os Marechais Deodoro da Fonseca (à esquerda) e Floriano Peixoto (à direita). Os primeiros presidentes do país eram militares. Imagem: Reprodução. 

     Historicamente, a história do país é marcada pela presença dos militares na política. Esta presença constante é mais antiga do que se pensa e se iniciou quando o país ainda era uma monarquia. 
   Após a Guerra do Paraguai (1864-1870), o Exército brasileiro voltou reequipado e reforçado. Duque de Caxias (1803-1880) havia transformado o Exército em uma grande potência militar. Entretanto, os oficiais achavam que o mesmo não tinha o papel político que acreditavam que deviam ter. O Exército queria ter a voz ouvida pelo governo. Os militares acreditavam que o imperador D. Pedro II (1825-1891) tratava as Forças Armadas com descaso. Este argumento foi reforçado com a ausência do imperador no desfile que o Exército fez no Rio de Janeiro para comemorar a vitória na Guerra do Paraguai. Aliás, o Exército voltou da guerra em questão com duas ideias em mente e até então tidas como revolucionárias: o abolicionismo e o republicanismo. Nos dois movimentos, teve atuação fundamental. 
     Influenciados pelo positivismo de Augusto Comte (1798-1857), que acreditava que somente um governo central e forte (ou seja: autoritário) era capaz de conduzir uma nação, os militares deram o golpe militar republicano em 15 de novembro de 1889. Os primeiros anos da república brasileira foram marcados por perseguição a opositores políticos, censura e revoltas. Além disso, os primeiros presidentes da república brasileira eram militares, mais especificamente marechais: Deodoro da Fonseca (1889-1891) e Floriano Peixoto (1891-1894). O período em que Deodoro e Floriano estiveram no poder é chamado de "República da Espada" pelo fato de os presidentes que governaram neste período terem sido militares.

Da esquerda para a direita: Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo. Eles eram militares e foram presidentes durante a ditadura civil-militar brasileira. Imagem: Reprodução. 

     A Era Vargas (1930-1945) chegou ao fim quando o General Góis Monteiro afastou o então presidente Getúlio Vargas do poder. José Linhares, até então presidente do Supremo Tribunal, sucede Vargas. Ele passou o poder para o General Dutra, que foi eleito pelo voto secreto e direto. Em 1950, Getúlio Vargas retorna à Presidência da República pelas vias democráticas. Entretanto, seu segundo governo foi marcado por uma grave crise política e, para não renunciar, se suicida dando um tiro no próprio peito. Políticos conservadores, a elite do país, a mídia hegemônica e os militares se articulavam para tirar Vargas do poder. Tem historiador que diz que Getúlio Vargas atrasou o golpe civil-militar em 10 anos. Ele atrasou, mas não evitou. No dia 01 de abril de 1964 (uns falam em 31 de março), militares, com o apoio de parte da sociedade civil, instaram uma ditadura que durou 21 anos. O argumento para a mesma era "proteger o Brasil contra os perigos do comunismo". Durante este período, o Brasil foi governado por militares.
      Após o fim da ditadura, o Brasil parecia tomar a ordem democrática, até que em 2016 um golpe parlamentar, judiciário e midiático afastou Dilma Rousseff da presidência, cargou que ela ocupou após vencer as eleições. Foi um golpe que não contou com o apoio das Forças Armadas, pois o objetivo era parecer ao máximo que o afastamento de Dilma tinha bases legais. Entretanto, tem gente que pede uma nova intervenção militar no Brasil. Eles não sabem o que pedem.

Conclusão

      A relação dos militares com a república brasileira é uma relação promíscua porque os militares só aparecem no cenário político para censurar, perseguir, torturar e até matar. É "pra colocar ordem na casa", dizem os defensores de uma nova ditadura militar. Com uma forma de governo que começou com um golpe militar, não era de esperar que eles se contentariam somente em aparecer nos primeiros anos da república, não é mesmo?

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