Imagem: Reprodução. |
A religião cristã é uma religião que está inserida no contexto de sua época e sociedade. Com isso, a mesma tende a reproduzir o modo como a sociedade está organizada. Nesse texto, será analisada a maneira como a igreja reproduz a organização heteronormativa inserida em nossa sociedade.
Antes de continuar com o texto, é de extrema importância ressaltar que não há "cristianismo", mas sim "cristianismos". Isso porque a religião cristão não é um grupo uniforme, mas sim que possui várias correntes de pensamento. Umas são conhecidas e outras nem tanto. Dada as devidas observações, vamos continuar com o assunto que dá título a essa postagem.
A sociedade brasileira é machista, onde a mulher é colocada em posição de subserviência. E algumas igrejas cristãs reproduzem este mesmo machismo. Nas mesmas, a mulher é silenciada na medida do possível. Elas não fazem parte de conselhos ou coisa parecida, raramente estão em cargos de liderança (só podem liderar conjuntos infantil, de adolescentes ou de senhoras, onde a figura da mulher enquanto ser maternal é reforçada) e quando são pregadoras e/ou ensinadoras, é raro ver o reconhecimentos dos ministérios destas mulheres. Elas só pregam e/ou ensinam para outras mulheres. Pastorear uma igreja nem pensar! As igrejas mais tradicionais consideram isso inadmissível e até mesmo antibíblico.
Nas denominações cristãs tradicionais, a mulher é limitada a liderar conjuntos infantis e/ou de mulheres, bem como ministrar aulas bíblicas apenas para estes grupos. Além disso, procuram ocupar a mulher com atividades relacionadas à limpeza do templo, á cantina e ao serviço social. Um fato que deve ser destacado é que a maioria das denominações cristãs são femininas e ao mesmo tempo machistas. Femininas porque o número de mulheres é superior ao de homens e machistas porque quem toma as decisões são os homens, que são minoria.
Esse sistema heteronormativo dentro do cristianismo também se estende para o campo do relacionamento. A regra da castidade até o casamento serve para homens e mulheres e ambos estão sujeitos a sanções caso descumpram a mesma. Entretanto, quando é com relação aos homens, o discurso é suavizado e até relativizado. "os adolescentes eram uma benção, ele foi pego beijando outra menina", "fui convidado para liderar conjunto de mocidade, mas recusei porque estava para me alistar no Exército e tinha umas namoradinhas" ou "o filho do pastor é uma benção, não pode ver uma garotinha". Porém, quando é uma mulher que apresenta tal comportamento, ela é condenada por isso. Conheço uma jovem cristã que na cidade onde morava, ela tinha um apelido pejorativo que agora não lembro qual. Isso porque, sendo ela filha de pastores, ela saía com vários rapazes. Não estou dizendo aqui que o homem e a mulher devam passar impunes caso cometam alguma infração. A questão é o modo desigual como o homem e a mulher são julgados.
Ainda com relação ao assunto abordado no parágrafo acima, chama a atenção as campanhas pela família que algumas igrejas realizam, em especial aquelas pela restauração do casamento. A maioria dos participantes de tais campanhas são mulheres que não querem ver o casamento acabar. Já o homem fica lá, posando de bonitão, vendo as mulheres se digladiarem por ele. Nesse contexto, destaque para um corinho cantado pela conhecida pregadora Leandra Nascimento (veja aqui). Nele, ela fala do marido da crente. Ela o descreve como cristão fervoroso, bonito e pai exemplar. Nessa música, Leandra faz um alerta para aquelas crentes que estão de olho em seu marido, dizendo que quem ficar com ele, vai ter de prestar contas com Deus. De fato, na música composta por Leandra Nascimento não há palavrões ou coisa parecida. Por outro lado, ela reforça o sistema patriarcal reinante em algumas igrejas e aqui analisado, onde o homem é um ser indefeso e sujeito a paixões irracionais, necessitando da constante vigilância da esposa para não sucumbir a seus desejos. Além disso, a música em questão parece aqueles funks onde a mulher defende o marido e acaba competindo com outras mulheres, nos já clássicos duelos entre a fiel e a amante, presente em muitas músicas do gênero. A única diferença é que a "música evangélica" em questão possui uma roupagem gospel, coisa que o funk não tem.
Embora haja uma aparente reprovação com relação às práticas acima citadas, o fato é que na prática as mesmas são toleradas. Entretanto, quando se trata de homossexualidade, a intolerância é generalizada. Na prática, a igreja tolera toda relação heterossexual sem exceção. Certa feita, meu antigo líder de mocidade me disse algo que expressa bem o que falo aqui. Ele disse que se um pregador cair em adultério com outra mulher, por mais que seja uma atitude escandalosa é natural, pois a mulher nasceu para o homem e vice-versa. Porém, se um homem se envolver com outro homem, é uma aberração, é anti-natural. Isso porque esta atitude seria condenada por Deus. Outro fato que explica esta incondicional manutenção da heteronormatividade é o modo como a ala cristã reagiu a duas novelas da Rede Globo. Quando faltavam poucos dias para a estreia de Babilônia (2015), circularam pelo WhatsApp e demais redes sociais correntes pedindo o boicote à novela. A razão para isso era o fato dos personagens homossexuais da trama, em especial aqueles que seriam interpretados por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. A novela foi um fracasso de audiência e o boicote pode não ter sido o fator determinante, mas contribuiu para o insucesso do folhetim. Três meses depois da estréia de Babilônia, estreava no horário das onze da Rede Globo a novela Verdades Secretas (2015), onde a protagonista mantinha relações sexuais com o próprio padrasto. Porém, não se viu e nem ouviu pedidos de boicote à Verdades Secretas em correntes de WhatsApp, Facebook ou qualquer uma outra rede social. A família tradicional brasileira é conivente com uma enteada que se torna amante do padrasto, mas não aceita o fato de dois homossexuais viverem juntos e felizes.
Conclusão
A igreja reproduz a lógica heteronormativa da sociedade em que está inserida. Nesta mesma lógica, a mulher é colocada em papel de submissão, ao contrário do que acontece com o homem, que exerce o papel de liderança e que tem na prática o seu comportamento sexual perdoado. Porém, quando o assunto adentra o campo da homossexualidade, a intolerância é quase que generalizada.
Antes de continuar com o texto, é de extrema importância ressaltar que não há "cristianismo", mas sim "cristianismos". Isso porque a religião cristão não é um grupo uniforme, mas sim que possui várias correntes de pensamento. Umas são conhecidas e outras nem tanto. Dada as devidas observações, vamos continuar com o assunto que dá título a essa postagem.
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A sociedade brasileira é machista, onde a mulher é colocada em posição de subserviência. E algumas igrejas cristãs reproduzem este mesmo machismo. Nas mesmas, a mulher é silenciada na medida do possível. Elas não fazem parte de conselhos ou coisa parecida, raramente estão em cargos de liderança (só podem liderar conjuntos infantil, de adolescentes ou de senhoras, onde a figura da mulher enquanto ser maternal é reforçada) e quando são pregadoras e/ou ensinadoras, é raro ver o reconhecimentos dos ministérios destas mulheres. Elas só pregam e/ou ensinam para outras mulheres. Pastorear uma igreja nem pensar! As igrejas mais tradicionais consideram isso inadmissível e até mesmo antibíblico.
Nas denominações cristãs tradicionais, a mulher é limitada a liderar conjuntos infantis e/ou de mulheres, bem como ministrar aulas bíblicas apenas para estes grupos. Além disso, procuram ocupar a mulher com atividades relacionadas à limpeza do templo, á cantina e ao serviço social. Um fato que deve ser destacado é que a maioria das denominações cristãs são femininas e ao mesmo tempo machistas. Femininas porque o número de mulheres é superior ao de homens e machistas porque quem toma as decisões são os homens, que são minoria.
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Esse sistema heteronormativo dentro do cristianismo também se estende para o campo do relacionamento. A regra da castidade até o casamento serve para homens e mulheres e ambos estão sujeitos a sanções caso descumpram a mesma. Entretanto, quando é com relação aos homens, o discurso é suavizado e até relativizado. "os adolescentes eram uma benção, ele foi pego beijando outra menina", "fui convidado para liderar conjunto de mocidade, mas recusei porque estava para me alistar no Exército e tinha umas namoradinhas" ou "o filho do pastor é uma benção, não pode ver uma garotinha". Porém, quando é uma mulher que apresenta tal comportamento, ela é condenada por isso. Conheço uma jovem cristã que na cidade onde morava, ela tinha um apelido pejorativo que agora não lembro qual. Isso porque, sendo ela filha de pastores, ela saía com vários rapazes. Não estou dizendo aqui que o homem e a mulher devam passar impunes caso cometam alguma infração. A questão é o modo desigual como o homem e a mulher são julgados.
Ainda com relação ao assunto abordado no parágrafo acima, chama a atenção as campanhas pela família que algumas igrejas realizam, em especial aquelas pela restauração do casamento. A maioria dos participantes de tais campanhas são mulheres que não querem ver o casamento acabar. Já o homem fica lá, posando de bonitão, vendo as mulheres se digladiarem por ele. Nesse contexto, destaque para um corinho cantado pela conhecida pregadora Leandra Nascimento (veja aqui). Nele, ela fala do marido da crente. Ela o descreve como cristão fervoroso, bonito e pai exemplar. Nessa música, Leandra faz um alerta para aquelas crentes que estão de olho em seu marido, dizendo que quem ficar com ele, vai ter de prestar contas com Deus. De fato, na música composta por Leandra Nascimento não há palavrões ou coisa parecida. Por outro lado, ela reforça o sistema patriarcal reinante em algumas igrejas e aqui analisado, onde o homem é um ser indefeso e sujeito a paixões irracionais, necessitando da constante vigilância da esposa para não sucumbir a seus desejos. Além disso, a música em questão parece aqueles funks onde a mulher defende o marido e acaba competindo com outras mulheres, nos já clássicos duelos entre a fiel e a amante, presente em muitas músicas do gênero. A única diferença é que a "música evangélica" em questão possui uma roupagem gospel, coisa que o funk não tem.
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Embora haja uma aparente reprovação com relação às práticas acima citadas, o fato é que na prática as mesmas são toleradas. Entretanto, quando se trata de homossexualidade, a intolerância é generalizada. Na prática, a igreja tolera toda relação heterossexual sem exceção. Certa feita, meu antigo líder de mocidade me disse algo que expressa bem o que falo aqui. Ele disse que se um pregador cair em adultério com outra mulher, por mais que seja uma atitude escandalosa é natural, pois a mulher nasceu para o homem e vice-versa. Porém, se um homem se envolver com outro homem, é uma aberração, é anti-natural. Isso porque esta atitude seria condenada por Deus. Outro fato que explica esta incondicional manutenção da heteronormatividade é o modo como a ala cristã reagiu a duas novelas da Rede Globo. Quando faltavam poucos dias para a estreia de Babilônia (2015), circularam pelo WhatsApp e demais redes sociais correntes pedindo o boicote à novela. A razão para isso era o fato dos personagens homossexuais da trama, em especial aqueles que seriam interpretados por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. A novela foi um fracasso de audiência e o boicote pode não ter sido o fator determinante, mas contribuiu para o insucesso do folhetim. Três meses depois da estréia de Babilônia, estreava no horário das onze da Rede Globo a novela Verdades Secretas (2015), onde a protagonista mantinha relações sexuais com o próprio padrasto. Porém, não se viu e nem ouviu pedidos de boicote à Verdades Secretas em correntes de WhatsApp, Facebook ou qualquer uma outra rede social. A família tradicional brasileira é conivente com uma enteada que se torna amante do padrasto, mas não aceita o fato de dois homossexuais viverem juntos e felizes.
Conclusão
A igreja reproduz a lógica heteronormativa da sociedade em que está inserida. Nesta mesma lógica, a mulher é colocada em papel de submissão, ao contrário do que acontece com o homem, que exerce o papel de liderança e que tem na prática o seu comportamento sexual perdoado. Porém, quando o assunto adentra o campo da homossexualidade, a intolerância é quase que generalizada.
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