Um defende as pautas da favela, como violência policial e ausência de serviços básicos que devem ser oferecidos pelo Estado. Já o outro costuma defender pautas que estão no campo da política nacional, como eleições diretas e denúncias ao golpe parlamentar de 2016 por exemplo. São grupos diferentes, mas que tem muita coisa em comum. Juntando, se tornam imbatíveis.
A esquerda da periferia é composta por pessoas oriundas da favela e que chegaram ao ensino superior. Esta não é uma regra geral, visto que dentro da esquerda periférica há pessoas com baixo nível de escolaridade. Eles reivindicam saneamento básico, melhoria dos serviços de saúde e de educação. Denunciam também a violência policial, uma vez que a polícia costuma agir de modo arbitrário nas favelas e matando as pessoas, principalmente os jovens negros. Eles até costumam se manifestar sobre questões no campo da política nacional, mas este não costuma ser o foco deles.
Imagem: Reprodução. |
A esquerda do asfalto costuma defender pautas que estão no âmbito da política nacional, como por exemplo a reprovação da nomeação de algum político, a ação arbitrária de um juiz contra uma figura política e a reprovação de um plano orçamentário por exemplo. Golpe parlamentar de 2016, PEC do Fim do Mundo, condenação de Lula e Reforma Trabalhista são questões que foram alvos dos protestos desta mesma esquerda.
Parte da esquerda da periferia não se manifestou sobre o golpe parlamentar de 2016 sob a justificativa de que na favela o golpe acontece todos os dias, uma vez que as operações policiais são uma realidade constante nas favelas. Ainda com relação às operações policiais, os militantes da esquerda periférica convidam de forma irônica os defensores de uma intervenção militar a morarem na favela, uma vez que na mesma a polícia intervém com frequência e sempre de maneira arbitrária. Estas ações quase sempre resultam em mortos (em especial jovens negros), inocentes baleados e alterações na cena do crime realizada pela polícia. Isso sem contar nas vezes em que a polícia confundiu furadeira com metralhadora, saco de pipoca com saco de drogas e por aí vai.
Por outro lado, a esquerda do asfalto critica a esquerda da periferia e os moradores da mesma em geral. Eles dizem que o povo está "anestesiado", "dormindo" e até dizem que o mesmo é "burro". Isso porque eles não entendem porque o povo está "adormecido" ante a tantas barbaridades que estão acontecendo no cenário nacional. Não. O povo não é burro. Eles podem até não saber o nome do juiz que condenou Lula, o nome do atual presidente da Câmara dos Deputados ou o nome daquele político e empresário que teve um helicóptero apreendido com quase meia tonelada de cocaína dentro. Entretanto, o fato de o povo não saber tais coisas não os tornam pessoas alienadas. Nos protestos de Junho de 2013, que no início era organizado pela esquerda e a pauta inicial era o protesto contra o aumento das passagens de ônibus, eu fui em alguns dos mesmos com o pessoal da universidade. No ônibus em que estávamos, assim que o mesmo passou pela concentração onde estavam os manifestantes, um motorista que era também cobrador, disse que tudo aumentava, menos o salário. Esta fala simples revela a insatisfação deste motorista com relação ao quadro político-social e a sua consciência política, uma vez que para ele dizer isso, ele sabia muito bem a quantidade de atividades que exercia ao mesmo tempo (e que mesmo assim ganhava pouco) e o preço das alimentos que consumia. Outra situação que vivenciei foi em 2014, durante as eleições presidenciais deste mesmo ano. Tenho um vizinho nordestino que há muitos anos vive na cidade do Rio de Janeiro. Como todo mundo sabe, Dilma Rousseff e Aécio Neves foram para o segundo turno. Esse mesmo vizinho iria votar no Aécio, mas ao conversar com os parentes que ainda moram no Nordeste, ele mudou de opinião e votou na Dilma. A então Presidente da República, que seria reeleita, bem como Lula e o governo do PT fizeram muitas ações que melhoraram a qualidade de vida daqueles que habitam a Região Nordeste do Brasil. A população humilde, sabendo disso, votou em peso em Dilma Rousseff. Tanto é que no nordeste do país Dilma foi absoluta.
Apesar da esquerda da periferia e a do asfalto terem suas respectivas pautas, é possível o diálogo e a união das mesmas. Os moradores da periferia são os mais afetados com a Reforma Trabalhista, a PEC do Fim do Mundo e a Reforma Curricular por exemplo. Além disso, a mesma polícia que age de modo truculento com os moradores mais pobres, é a mesma que ataca de modo violento aquelas pessoas que vão para as manifestações. Apesar das diferenças, a esquerda da periferia e do asfalto tem pontos em comum.
Conclusão
A esquerda da periferia e a do asfalto possuem as suas respectivas pautas, mas também possuem pontos em comum pelo fato de terem o mesmo governo. Por conta disso, nada impede a união entre estas duas esquerdas, bem como entre os movimentos de esquerda em geral. No dia em que isso acontecer, a esquerda se tornará imbatível.
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