Imagem registrando uma partida de futebol. Foto: Futebol Freecs.com.br |
Não me atrai nem um pouco a ideia de assistir a uma partida de futebol pela TV e muito menos a hipótese de ver um jogo do Flamengo no Maracanã (apesar de ser flamenguista). Porém, ainda assim, eu gosto de futebol. Oi!?
Como surgiu o futebol
Como de praxe, antes de adentrar de fato no assunto, eu vou fazer um breve histórico do mesmo. O futebol surgiu na Inglaterra e era jogado nas escolas frequentadas pela aristocracia inglesa. As regras do futebol foram feitas nesta escola e só depois passou a ser praticado pela classe operária nas ruas da Inglaterra. Não demoraria muito e a burguesia inglesa faria com que ele se tornasse o "ópio do povo". Roberto Ramos em Futebol: Ideologia do Poder afirma que "os burgueses descobriram o futebol como meio de despolitização dos trabalhadores da década de 1860. As massas do proletariado industrial começaram a interessar-se por este esporte. Os empresários ingleses aproveitaram a oportunidade. Fomentaram o seu desenvolvimento. O objetivo era claro. Eles precisavam manter os operários à margem da atividade política dentro de suas organizações de classe".
Charles Miller (nome da praça onde fica o Pacaembu), o filho de ingleses que teria trazido a primeira bola de futebol para o Brasil em 1894, apresentou o esporte a elite paulista. Os clubes ingleses do Rio de Janeiro disputaram com Miller o pioneirismo: em 1874, 20 anos antes de Charles Miller ter chegado ao país com a tal bola, já tinha jogos de futebol na orla carioca. No começo existia uma separação oficial entre os times dos ricos e dos pobres, mas do nome do jogo às posições dos atletas em campo, tudo era em inglês. Mário Filho (1908 - 1966) conta tudo no clássico O Negro no Futebol Brasileiro.
Minha relação com o futebol na infância e meados da adolescência
A educação que recebemos ainda é extremamente sexista. Desta forma, há uma rígida separação entre as coisas que são de meninos e as coisas que são de meninas. É tudo muito rígido. Não existe meio termo. Em uma educação sexista convencionou-se que o futebol era algo só para meninos. Com isso, todos os meninos de minha idade gostavam de futebol, menos eu. Eu detestava jogar futebol. Pouquíssimas foram as vezes em que joguei futebol na minha vida. Eu nunca jogava futebol com meus primos, sempre ficava sentado observando ou fazendo outra coisa qualquer. Ou eu brincava com os bonecos infantis ou com as bonecas mesmo. Não fui isento do bullying por parte de outros garotos e muito menos da repreensão de adultos por ter brincado de bonecas, um brinquedo "para meninas".
Se no seio familiar, eu tinha a opção de não jogar futebol; o mesmo eu não posso dizer com relação à escola. Na antiga 5ª série, quando tinha aproximadamente 12 anos de idade, os meninos só jogavam futebol nas aulas de Educação Física. Não havia outra opção e como precisava fazer as atividades para não ser reprovado, eu jogava futebol, mesmo não gostando. Eu era um desastre total, pois fazia um esporte que não gostava e nem sabia como jogar. Os meninos nunca tinham paciência comigo e não foram poucas as vezes em que a derrota de um time foi associado ao meu desempenho em campo. Com o tempo, a professora nos ofereceu outras opções de esporte nas aulas de Educação Física. Para não jogar futebol, eu jogava vôlei (esporte que sou um desastre até hoje, mas pelo menos é algo que gosto) ou então queimado, mas sempre com as meninas. Foi por essas e outras que sofri bullying na adolescência... Enfim, águas passadas, como muita gente diz por aí.
Bullying na infância e minha relação com o sexo feminino
Estou aqui falando da minha infância e percebo que não tem como não falar sobre este assunto. Durante a minha infância e adolescência e sob modos diferenciados eu fui vítima de bullying. Sofri tamanha violência apenas por não me encaixar no padrão de "ser homem" segundo esta sociedade machista e heteronormativa que é a sociedade brasileira. Por conta disso, fui violentado física e verbalmente. Fui taxado de homossexual sem nem ao menos saber o que era isso (só vim conhecer os homossexuais de fato quando fui para o Ensino Médio). Embora meus agressores tenha sido os meninos em grande maioria, também fui vítima desta violência por parte das meninas. Mas no geral, elas não eram coniventes com esta prática. Por esta razão, quase sempre eu estava ao lado das meninas nos tempos de escola. Aliás, durante muito tempo eu sempre tive muitas amigas mulheres e tenho até hoje, sendo que hoje eu tenho mais amigos homens se comparado aos tempos de infância e adolescência.
Minha proximidade com o sexo feminino não se deve apenas ao bullying. Cresci no meio de muitas mulheres. Quando ia fazer dois anos de idade meus pais se separaram e, com isso, eu não tive uma presença masculina em casa. Quando era criança também, eu e minha irmã íamos constantemente a casa da minha avó paterna. Lá brincávamos com minhas duas primas, que também chamavam outras meninas para brincar. Desta forma, eu era o único homem no meio de seis, sete, oito garotas! Quando elas brincavam "de casinha" eu quase sempre era o filho e/ou irmão de uma delas justamente por causa de minha pouca idade na época (eu tinha um pouco mais de 3 anos e elas tinham já seus sete, oito anos de idade. Minha irmã e minha prima são mais velhas do que eu).
Já com relação a minha família materna a situação não é muito diferente. Meu avô (falecido em 2012) teve 10 filhos (três mulheres e sete homens) e minha mãe conta que em casa a presença de homens era constante. Se a primeira geração de meu avô tinha muitos homens, na segunda geração (que são seus netos, inclusive eu) a presença de mulheres é considerável. Muitos de meus tios tiveram filhas mulheres praticamente na mesma época e minha irmã conviveu com elas também e como para onde minha irmã ia, eu ia atrás, eu continuei cercado de muitas e muitas mulheres.
Por ter tido muitas referências femininas ao longo da minha infância a adolescência, eu posso dizer que sei muita coisa sobre o universo feminino. Não sou nenhum expert em compreender as mulheres, mas sei muito sobre elas. É por esta razão também que tenho tanta afinidade com o sexo feminino. Já me falaram muitas vezes (e de vez em quando ainda me falam) que fui taxado de homossexual por ter vivido com as mulheres, sendo consequentemente bastante influenciado por elas. Argumento simplesmente retrógrado e preconceituoso!
Minha relação com o futebol no fim da adolescência e vida adulta
Também não guardo nenhuma lembrança específica da Copa do Mundo de 2006, a não ser a cena épica em que o jogador francês Zidane dá uma cabeça no italiano Marco Materazzi, na final contra a Itália, em julho de 2006 na Alemanha. Esta cena esta muitas vezes reproduzida na TV e quem conquistou o tetracampeonato em uma Copa do Mundo foi a Itália.
A lembrança que guardo da Copa do Mundo de 2010 é a imagem de um Kaká xingando em um jogo. Tal fato teve grande repercussão. Isso porque durante muito tempo Kaká e a esposa frequentaram a Igreja Renascer, fundada na década de 1980 por Sônia Hernandes e Estevam Hernandes. Por conta disso, Kaká fez durante um tempo a linha bom moço. Logo, quando xingou em campo, a imagem de bom moço foi jogada por terra, escandalizando a todos, inclusive os cristãos. Depois, todos ficaram sabendo que Kaká e Carol Celico (sua esposa) não mais frequentavam a Igreja Renascer.
Com o tempo, a pessoa tende a ficar mais tolerante. Bom, pelo menos é isso o que acontece comigo. Se nas copas anteriores eu não assisti absolutamente nada (eu tirava a minha soneca da tarde, mesmo quando o jogo do Brasil era neste horário), na Copa de 2014 (que foi realizada no Brasil), eu vi os jogos do campeonato. Como as lembranças são recentes, eu me lembro de muita coisa. Não dá para contar tudo aqui, mas vale pontuar algumas coisas para vocês: vi o excelente desempenho de James Rodriguez (que ganhou muitos fãs brasileiros) em campo, vi também o excelente desempenho do goleiro mexicano Guillermo Ochoa (que rendeu muitos 'memes' por aqui) no jogo contra o Brasil (que terminou no 0x0) e vi também a mordida que Luiz Suárez deu no ombro do zagueiro italiano Chiellini. Por causa deste ato, Suárez foi suspenso por nove jogos, banido por quatro meses de qualquer atividade relacionada ao futebol (ficando de fora dos jogos restantes e impedido de permanecer na concentração junto de seus colegas) e multado em 100 mil francos suíços ou $119.702.
Meu gosto peculiar pelo futebol
O futebol é sem dúvidas o esporte mais popular do Brasil e um dos mais populares do mundo. Pelo fato de o futebol está profundamente enraizado na sociedade brasileira, ele acaba refletindo o perfil desta mesma sociedade. Além disso, esporte e política muitas vezes andaram juntos. Um exemplo deste fato está nos Jogos Olímpicos realizados em Berlim no ano de 1936. Neste ano, a Alemanha já vivia sob o regime nazista e utilizaram as olimpíadas para propagar tal ideologia. Para isso, o orçamento para os jogos ficou 20 vezes acima do previsto. O resultado foi a construção do mais moderno complexo esportivo até então. O Reichssportfeld (hoje conhecido como Olympiapark Berlin) tinha como ponto central o Estádio Olímpico de Berlim, capaz de abrigar 100 mil pessoas. Vale lembrar também que os organizadores criaram o cortejo da tocha olímpica (que existe até hoje) e um sino gigante com a inscrição em alemão "Eu chamo os jovens do mundo" celebrou a chegada da tocha na cidade olímpica. O objetivo era apresentar o regime nazista como pacífico e aberto para o mundo; e por ordem de Hitler foram retiradas dos arredores da cidade olímpica todos os símbolos antissemitas que pudessem comprometer a imagem do regime nazista que se pretendia apresentar aos estrangeiros. Além disso, jornais que faziam oposição ao nazismo (como por exemplo, o Der Stürmer) foram recolhidos de todas as bancas de jornais que se encontravam próximo ao complexo olímpico.
Também acho interessante estudar o modo como a Ditadura Civil - Militar Brasileira se utilizou da Copa do Mundo de 1970 para fazer propaganda do regime militar imposto em 1964. Quando houve a Copa do Mundo de 1970, o Brasil vivia uma ditadura e no dia 13 de dezembro de 1968 foi instaurado o AI-5 (Ato Inconstitucional número 5), o que muitos chamam de "o golpe dentro do golpe". Além disso, foi nessa época também que o Brasil vivia o chamado "milagre econômico" (que durou de 1968 à 1973), período em que o PIB (Produto Interno Bruto) chegou à 14% ao ano e foi nesse período também que foram realizadas as obras faraônicas, como por exemplo a construção da Ponte Presidente Costa e Silva (popularmente conhecida como Ponte Rio-Niterói, que liga Rio de Janeiro e Niterói, no estado do Rio de Janeiro), a Rodovia Transamazônica e a Usina Hidrelétrica de Itaipu. Com isto, pode-se concluir que quando o Brasil disputou a Copa do Mundo de 1970, o país vivia um período de intenso ufanismo; mas por outro lado o país via a face mais cruel da ditadura, que perseguia, torturava e matava todos aqueles que faziam oposição ao regime político imposto. No dia 21 de junho de 1970 houve a final da Copa do Mundo e quem ganhasse levaria o título para casa. Os países que disputaram o título foi o Brasil e a Itália. A seleção brasileira marcou quatro gols e a Itália apenas um. Com isso, quem levou o título para casa foi o Brasil. Desta forma, o Brasil foi o campeão da Copa do Mundo de 1970 e conquistava assim o título de tricampeão em uma Copa do Mundo. A vitória da seleção brasileira sobre a seleção italiana foi bastante explorada pela propaganda do governo Médici.
O futebol é um esporte feito por homens e para os homens, que tradicionalmente dominam este esporte. O Brasil é um país conservador e machista. Logo, a presença de uma mulher em um esporte tradicionalmente dominado por homens causa certo estardalhaço e até mesmo reações preconceituosas. A bandeirinha Fernanda Uiliana passou por isso. Após o jogo entre Atlético Mineiro e Cruzeiro (quem levou a vitória foi o primeiro), o assunto não era outro senão a presença de Fernanda Colombo Uliana em um solo sagrado para os homens. Faça uma busca por aqui e verás que os portais não falaram outra coisa, a não ser a "pose indiscreta" da bandeirinha no clássico mineiro ou "conheça a linda e polêmica bandeirinha". Durante a partida, Fernanda cometeu alguns erros (que foram referendados por um homem, o árbitro Heber Roberto Lopes), como um pênalti não marcado e um impedimento inexistente para a equipe azul celeste; mas o assunto era outro: a simples presença de uma bandeirinha em um campo sagrado para os homens. Após o clássico, Alexandre Mattos (diretor de futebol do Cruzeiro) chegou a dizer que "Se ela é bonitinha, que vá posar na Playboy. No futebol tem que ser boa de serviço". Em clara manifestação de misoginia, Mattos se esqueceu que os erros da bandeirinha foram referendados por um homem. Porém, ao fim do jogo ninguém mandou Mattos posar em uma revista masculina ou que fosse consertar carros ou ainda plantar laranja. O fato é que quando um homem erra, ele é poupado do xingamento. A ofensa é direcionada a mãe ou a fidelidade de sua esposa. O homem nunca é xingado (a não ser que seja negro).
Para fazer parte do mundo do futebol e principalmente ser um jogador de futebol é necessário ser homem, mas ter um pênis não basta: tem que ser macho. O futebol é um esporte dominado por homens, homens este que seguem a cartilha do machismo. Desta forma, os homens que integram o futebol em todo o tempo passam a ideia de força e virilidade, não permitindo que absolutamente nada ameace a sua macheza. Emerson Sheik passou por isso. Em agosto de 2013, o jogador resolveu comemorar a vitória do Corinthians sobre o Coritiba com um selinho no amigo Izac, dono de um bistrô nos Jardins, em São Paulo. A foto que registra o momento foi colocada no Instagram de Sheik e causou grande polêmica. A repercussão foi tamanha que Emerson Sheik foi ameaçado de morte pelos machões do futebol, mas também recebeu apoio de seus colegas. Quem também sentiu a repressão do machismo foi o futebolista Richarlyson (atualmente jogando pelo Chapecoense). Ao longo de sua carreira enquanto jogador de futebol não foram poucas as vezes em que os torcedores e a mídia colocaram em xeque a sexualidade do atleta, que chegou teve de dizer em entrevista que não era gay. Assim como Emerson Sheik, Richarlyson também foi ameaçado de morte e o motivo foi apenas um aplique a fim de ter os cabelos mais longos. Tais fatos levam a crer que o respeito às diferenças é algo que não existe no meio futebolístico.
Manifestações de racismo também são presentes no futebol, dentro e fora do país. Tal fato reflete o quanto a sociedade brasileira ainda é racista. Se você está indignado (a) com o racismo sofrido pelo Tinga na Libertadores de 2014 ou se está mais indignado ainda com o vídeo em que uma torcedora do Grêmio aparece chamando o goleiro Aranha de "macaco" em jogo entre Grêmio e Santos ocorrido também em 2014 (como esquecer a banana jogada para Daniel Alves em um jogo do Barcelona em 2014, mobilizando os internautas a lutarem contra o racismo em uma campanha intitulada #SomosTodosMacacos?); fique sabendo que manifestações de racismo no futebol não é algo atual: o racismo acompanha o futebol desde que ele chegou ao Brasil. O futebol nasceu no seio da aristocracia inglesa e quando foi levado ao país, foi apresentado a elite brasileira. Antes, para jogar futebol pelo Flamengo, Botafogo ou Fluminense (os três maiores clubes do Rio de Janeiro, além do Vasco), você tinha que ser branco e preferencialmente oriundo de família rica. Se um negro aparecesse em algum destes times, ele tinha de disfarçar sua negritude e para tal apelava para o pó-de-arroz. Além disso, para reduzir o volume do cabelo, tinha futebolista demorava quase meia hora em tal tarefa. Para isso, se usava brilhantina, penteava o cabelo para trás e por fim uma toalha era enrolada na cabeça como turbante a fim de reduzir o volume das madeixas. Mário Rodrigues Filho (1908-1966), um dos maiores jornalistas esportivos do país (o Maracanã leva o seu nome) conta isso e muito mais no clássico O Negro no Futebol Brasileiro.
Conclusão
O que me atrai não é uma partida de futebol em si (apesar de ser flamenguista. Aliás, quem disse que para ser flamenguista tem que gostar de futebol? Eu posso muito bem torcer para o Flamengo em uma partida de vôlei ou basquete por exemplo). Alás, o futebol não me atrai. O que gosto no futebol são os estudos sociais que podem ser feitos a partir deste mesmo esporte. Isso porque o futebol é o esporte mais popular do país e por conta disso acaba refletindo alguns aspectos da sociedade brasileira, bem como os preconceitos arraigados na mesma.
Minha relação com o futebol no fim da adolescência e vida adulta
Também não guardo nenhuma lembrança específica da Copa do Mundo de 2006, a não ser a cena épica em que o jogador francês Zidane dá uma cabeça no italiano Marco Materazzi, na final contra a Itália, em julho de 2006 na Alemanha. Esta cena esta muitas vezes reproduzida na TV e quem conquistou o tetracampeonato em uma Copa do Mundo foi a Itália.
A lembrança que guardo da Copa do Mundo de 2010 é a imagem de um Kaká xingando em um jogo. Tal fato teve grande repercussão. Isso porque durante muito tempo Kaká e a esposa frequentaram a Igreja Renascer, fundada na década de 1980 por Sônia Hernandes e Estevam Hernandes. Por conta disso, Kaká fez durante um tempo a linha bom moço. Logo, quando xingou em campo, a imagem de bom moço foi jogada por terra, escandalizando a todos, inclusive os cristãos. Depois, todos ficaram sabendo que Kaká e Carol Celico (sua esposa) não mais frequentavam a Igreja Renascer.
Com o tempo, a pessoa tende a ficar mais tolerante. Bom, pelo menos é isso o que acontece comigo. Se nas copas anteriores eu não assisti absolutamente nada (eu tirava a minha soneca da tarde, mesmo quando o jogo do Brasil era neste horário), na Copa de 2014 (que foi realizada no Brasil), eu vi os jogos do campeonato. Como as lembranças são recentes, eu me lembro de muita coisa. Não dá para contar tudo aqui, mas vale pontuar algumas coisas para vocês: vi o excelente desempenho de James Rodriguez (que ganhou muitos fãs brasileiros) em campo, vi também o excelente desempenho do goleiro mexicano Guillermo Ochoa (que rendeu muitos 'memes' por aqui) no jogo contra o Brasil (que terminou no 0x0) e vi também a mordida que Luiz Suárez deu no ombro do zagueiro italiano Chiellini. Por causa deste ato, Suárez foi suspenso por nove jogos, banido por quatro meses de qualquer atividade relacionada ao futebol (ficando de fora dos jogos restantes e impedido de permanecer na concentração junto de seus colegas) e multado em 100 mil francos suíços ou $119.702.
O futebol é sem dúvidas o esporte mais popular do Brasil e um dos mais populares do mundo. Pelo fato de o futebol está profundamente enraizado na sociedade brasileira, ele acaba refletindo o perfil desta mesma sociedade. Além disso, esporte e política muitas vezes andaram juntos. Um exemplo deste fato está nos Jogos Olímpicos realizados em Berlim no ano de 1936. Neste ano, a Alemanha já vivia sob o regime nazista e utilizaram as olimpíadas para propagar tal ideologia. Para isso, o orçamento para os jogos ficou 20 vezes acima do previsto. O resultado foi a construção do mais moderno complexo esportivo até então. O Reichssportfeld (hoje conhecido como Olympiapark Berlin) tinha como ponto central o Estádio Olímpico de Berlim, capaz de abrigar 100 mil pessoas. Vale lembrar também que os organizadores criaram o cortejo da tocha olímpica (que existe até hoje) e um sino gigante com a inscrição em alemão "Eu chamo os jovens do mundo" celebrou a chegada da tocha na cidade olímpica. O objetivo era apresentar o regime nazista como pacífico e aberto para o mundo; e por ordem de Hitler foram retiradas dos arredores da cidade olímpica todos os símbolos antissemitas que pudessem comprometer a imagem do regime nazista que se pretendia apresentar aos estrangeiros. Além disso, jornais que faziam oposição ao nazismo (como por exemplo, o Der Stürmer) foram recolhidos de todas as bancas de jornais que se encontravam próximo ao complexo olímpico.
Também acho interessante estudar o modo como a Ditadura Civil - Militar Brasileira se utilizou da Copa do Mundo de 1970 para fazer propaganda do regime militar imposto em 1964. Quando houve a Copa do Mundo de 1970, o Brasil vivia uma ditadura e no dia 13 de dezembro de 1968 foi instaurado o AI-5 (Ato Inconstitucional número 5), o que muitos chamam de "o golpe dentro do golpe". Além disso, foi nessa época também que o Brasil vivia o chamado "milagre econômico" (que durou de 1968 à 1973), período em que o PIB (Produto Interno Bruto) chegou à 14% ao ano e foi nesse período também que foram realizadas as obras faraônicas, como por exemplo a construção da Ponte Presidente Costa e Silva (popularmente conhecida como Ponte Rio-Niterói, que liga Rio de Janeiro e Niterói, no estado do Rio de Janeiro), a Rodovia Transamazônica e a Usina Hidrelétrica de Itaipu. Com isto, pode-se concluir que quando o Brasil disputou a Copa do Mundo de 1970, o país vivia um período de intenso ufanismo; mas por outro lado o país via a face mais cruel da ditadura, que perseguia, torturava e matava todos aqueles que faziam oposição ao regime político imposto. No dia 21 de junho de 1970 houve a final da Copa do Mundo e quem ganhasse levaria o título para casa. Os países que disputaram o título foi o Brasil e a Itália. A seleção brasileira marcou quatro gols e a Itália apenas um. Com isso, quem levou o título para casa foi o Brasil. Desta forma, o Brasil foi o campeão da Copa do Mundo de 1970 e conquistava assim o título de tricampeão em uma Copa do Mundo. A vitória da seleção brasileira sobre a seleção italiana foi bastante explorada pela propaganda do governo Médici.
O futebol é um esporte feito por homens e para os homens, que tradicionalmente dominam este esporte. O Brasil é um país conservador e machista. Logo, a presença de uma mulher em um esporte tradicionalmente dominado por homens causa certo estardalhaço e até mesmo reações preconceituosas. A bandeirinha Fernanda Uiliana passou por isso. Após o jogo entre Atlético Mineiro e Cruzeiro (quem levou a vitória foi o primeiro), o assunto não era outro senão a presença de Fernanda Colombo Uliana em um solo sagrado para os homens. Faça uma busca por aqui e verás que os portais não falaram outra coisa, a não ser a "pose indiscreta" da bandeirinha no clássico mineiro ou "conheça a linda e polêmica bandeirinha". Durante a partida, Fernanda cometeu alguns erros (que foram referendados por um homem, o árbitro Heber Roberto Lopes), como um pênalti não marcado e um impedimento inexistente para a equipe azul celeste; mas o assunto era outro: a simples presença de uma bandeirinha em um campo sagrado para os homens. Após o clássico, Alexandre Mattos (diretor de futebol do Cruzeiro) chegou a dizer que "Se ela é bonitinha, que vá posar na Playboy. No futebol tem que ser boa de serviço". Em clara manifestação de misoginia, Mattos se esqueceu que os erros da bandeirinha foram referendados por um homem. Porém, ao fim do jogo ninguém mandou Mattos posar em uma revista masculina ou que fosse consertar carros ou ainda plantar laranja. O fato é que quando um homem erra, ele é poupado do xingamento. A ofensa é direcionada a mãe ou a fidelidade de sua esposa. O homem nunca é xingado (a não ser que seja negro).
Para fazer parte do mundo do futebol e principalmente ser um jogador de futebol é necessário ser homem, mas ter um pênis não basta: tem que ser macho. O futebol é um esporte dominado por homens, homens este que seguem a cartilha do machismo. Desta forma, os homens que integram o futebol em todo o tempo passam a ideia de força e virilidade, não permitindo que absolutamente nada ameace a sua macheza. Emerson Sheik passou por isso. Em agosto de 2013, o jogador resolveu comemorar a vitória do Corinthians sobre o Coritiba com um selinho no amigo Izac, dono de um bistrô nos Jardins, em São Paulo. A foto que registra o momento foi colocada no Instagram de Sheik e causou grande polêmica. A repercussão foi tamanha que Emerson Sheik foi ameaçado de morte pelos machões do futebol, mas também recebeu apoio de seus colegas. Quem também sentiu a repressão do machismo foi o futebolista Richarlyson (atualmente jogando pelo Chapecoense). Ao longo de sua carreira enquanto jogador de futebol não foram poucas as vezes em que os torcedores e a mídia colocaram em xeque a sexualidade do atleta, que chegou teve de dizer em entrevista que não era gay. Assim como Emerson Sheik, Richarlyson também foi ameaçado de morte e o motivo foi apenas um aplique a fim de ter os cabelos mais longos. Tais fatos levam a crer que o respeito às diferenças é algo que não existe no meio futebolístico.
Manifestações de racismo também são presentes no futebol, dentro e fora do país. Tal fato reflete o quanto a sociedade brasileira ainda é racista. Se você está indignado (a) com o racismo sofrido pelo Tinga na Libertadores de 2014 ou se está mais indignado ainda com o vídeo em que uma torcedora do Grêmio aparece chamando o goleiro Aranha de "macaco" em jogo entre Grêmio e Santos ocorrido também em 2014 (como esquecer a banana jogada para Daniel Alves em um jogo do Barcelona em 2014, mobilizando os internautas a lutarem contra o racismo em uma campanha intitulada #SomosTodosMacacos?); fique sabendo que manifestações de racismo no futebol não é algo atual: o racismo acompanha o futebol desde que ele chegou ao Brasil. O futebol nasceu no seio da aristocracia inglesa e quando foi levado ao país, foi apresentado a elite brasileira. Antes, para jogar futebol pelo Flamengo, Botafogo ou Fluminense (os três maiores clubes do Rio de Janeiro, além do Vasco), você tinha que ser branco e preferencialmente oriundo de família rica. Se um negro aparecesse em algum destes times, ele tinha de disfarçar sua negritude e para tal apelava para o pó-de-arroz. Além disso, para reduzir o volume do cabelo, tinha futebolista demorava quase meia hora em tal tarefa. Para isso, se usava brilhantina, penteava o cabelo para trás e por fim uma toalha era enrolada na cabeça como turbante a fim de reduzir o volume das madeixas. Mário Rodrigues Filho (1908-1966), um dos maiores jornalistas esportivos do país (o Maracanã leva o seu nome) conta isso e muito mais no clássico O Negro no Futebol Brasileiro.
Conclusão
O que me atrai não é uma partida de futebol em si (apesar de ser flamenguista. Aliás, quem disse que para ser flamenguista tem que gostar de futebol? Eu posso muito bem torcer para o Flamengo em uma partida de vôlei ou basquete por exemplo). Alás, o futebol não me atrai. O que gosto no futebol são os estudos sociais que podem ser feitos a partir deste mesmo esporte. Isso porque o futebol é o esporte mais popular do país e por conta disso acaba refletindo alguns aspectos da sociedade brasileira, bem como os preconceitos arraigados na mesma.
Gentes mênos vá..!! Qué coisa mais gostosa que um sêlinho bem dado?!Adoooro!!Principalmente em grisalhos maduros bonitos!!!Luiz(61)SaoPaulo,Cap.
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