Montagem com alguns dos personagens gays de maior relevância na história da televisão brasileira. Imagem: Blog do Nilson Xavier. |
Antes de falarmos sobre a abordagem televisiva acerca dos homossexuais, convém primeiro fazer um breve panorama histórico no mundo e no Brasil acerca deste comportamento. Se você acha que o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo é algo recente, você está redondamente enganado. Embora a militância LGBTT possa ser algo recente, a prática sexual entre pessoas do mesmo sexo é algo que acompanha a humanidade desde o momento em que a mesma surgiu.
Breve história da homossexualidade no mundo
Há cerca de 10 mil anos atrás as tribos das ilhas de Nova Guiné, Fiji e Salomão (no Oceano Pacífico) exercitavam a homossexualidade em rituais. Os melanésios acreditavam que o conhecimento sagrado só poderia ser passado por meio do ato sexual entre pessoas do mesmo sexo. Um dos mais antigos e importantes conjunto de leis do mundo, o Código de Hammurabi, contêm privilégios que deveriam ser dados às prostitutas e os prostitutos que participavam dos cultos religiosos. Estes privilégios eram sagrados e estavam relacionados aos homens devotos dentro dos templos da Mesopotâmia, Fenícia, Egito, Sicília, Índia e outros lugares. As leis hititas (herdeiras do Código de Hammurabi) chegam a reconhecer uniões entre pessoas do mesmo sexo. E isso foi há mais de 3 mil anos!
Já na Grécia e na Roma da Antiguidade era normal um homem mais velho ter relações sexuais com um homem mais novo. O filósofo grego Sócrates (469 - 399 a. C.), adepto da prática sexual entre pessoas do mesmo sexo, pregava que o coito anal era a melhor forma de inspiração, ao passo que o ato sexual entre pessoas do sexo oposto servia apenas para a procriação. Para a educação dos jovens nascidos em Atenas, esperava-se que os adolescentes aceitassem a amizade e os laços de amor com homens mais velhos, a fim de absorver suas virtudes e seus conhecimentos de filosofia. Depois dos 12 anos (desde que o garoto concordasse), o menino se transformava em um parceiro passivo até os 18 anos aproximadamente (com a aprovação da família). Aos 25 anos de idade tornava-se um homem e aí esperava que o mesmo assumisse o papel ativo. Já entre os romanos, os ideais amorosos era semelhante aos dos gregos. A pederastia era vista como algo puro. Porém, se a ordem fosse subvertida e um homem mais velho mantivesse relações sexuais com outro, sua desgraça estava decretada. Isso porque os adultos passivos eram vistos com desprezo por toda a sociedade, a ponto do homem ser impedido de exercer cargos públicos.
A prática do amor entre pessoas do mesmo sexo pode ser entendida em parte se analisarmos as crenças destes povos. Na mitologia grega, romana e entre os deuses hindus e babilônios a homossexualidade estava presente. Muitos deuses antigos não tem sexo definido e alguns, como o hindu Ganesh (deus da fortuna) teriam nascido de uma relação entre duas divindades do sexo feminino. Não é difícil concluir que na Antiguidade o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo era visto com naturalidade. Isso mudaria com o advento da religião cristã.
Há cerca de 10 mil anos atrás as tribos das ilhas de Nova Guiné, Fiji e Salomão (no Oceano Pacífico) exercitavam a homossexualidade em rituais. Os melanésios acreditavam que o conhecimento sagrado só poderia ser passado por meio do ato sexual entre pessoas do mesmo sexo. Um dos mais antigos e importantes conjunto de leis do mundo, o Código de Hammurabi, contêm privilégios que deveriam ser dados às prostitutas e os prostitutos que participavam dos cultos religiosos. Estes privilégios eram sagrados e estavam relacionados aos homens devotos dentro dos templos da Mesopotâmia, Fenícia, Egito, Sicília, Índia e outros lugares. As leis hititas (herdeiras do Código de Hammurabi) chegam a reconhecer uniões entre pessoas do mesmo sexo. E isso foi há mais de 3 mil anos!
Já na Grécia e na Roma da Antiguidade era normal um homem mais velho ter relações sexuais com um homem mais novo. O filósofo grego Sócrates (469 - 399 a. C.), adepto da prática sexual entre pessoas do mesmo sexo, pregava que o coito anal era a melhor forma de inspiração, ao passo que o ato sexual entre pessoas do sexo oposto servia apenas para a procriação. Para a educação dos jovens nascidos em Atenas, esperava-se que os adolescentes aceitassem a amizade e os laços de amor com homens mais velhos, a fim de absorver suas virtudes e seus conhecimentos de filosofia. Depois dos 12 anos (desde que o garoto concordasse), o menino se transformava em um parceiro passivo até os 18 anos aproximadamente (com a aprovação da família). Aos 25 anos de idade tornava-se um homem e aí esperava que o mesmo assumisse o papel ativo. Já entre os romanos, os ideais amorosos era semelhante aos dos gregos. A pederastia era vista como algo puro. Porém, se a ordem fosse subvertida e um homem mais velho mantivesse relações sexuais com outro, sua desgraça estava decretada. Isso porque os adultos passivos eram vistos com desprezo por toda a sociedade, a ponto do homem ser impedido de exercer cargos públicos.
A prática do amor entre pessoas do mesmo sexo pode ser entendida em parte se analisarmos as crenças destes povos. Na mitologia grega, romana e entre os deuses hindus e babilônios a homossexualidade estava presente. Muitos deuses antigos não tem sexo definido e alguns, como o hindu Ganesh (deus da fortuna) teriam nascido de uma relação entre duas divindades do sexo feminino. Não é difícil concluir que na Antiguidade o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo era visto com naturalidade. Isso mudaria com o advento da religião cristã.
Breve história da homossexualidade no Brasil
Muitas são as provas de que a homossexualidade era aceita entre os índios. Segundo o pesquisador Abelardo Romero, a homossexualidade "grassava há séculos, entre os brasis, como uma doença contagiosa". Von Martius também relata o espanto dos portugueses com relação a antropofagia e a sodomia dos índios, assim como o padre Manoel da Nóbrega, que em 1549 comentou que muitos colonos tinham índios como mulheres "segundo o costume da terra".
Entre os tupinambás, o Tratado Descritivo do Brasil de 1587, escrito por Gabriel Soares de Souza, refere-se tanto à homossexualidade masculina como feminina. Descreve que o "pecado nefando" era bem aceito, sendo que o que desempenhava o papel ativo tinha-se por valente e contava o caso como proeza. Já os tupinaés, vizinho dos tupinambás, eram "muito mais sujeitos ao pecado nefando do que os tupinambás". No ano de 1576, o português Pero de Magalhães de Gândavo relatou que os índios "se entregam ao vício (da sodomia) como se neles não houvera razão de homens". Entre os guaicurus há também relatos sobre o travestismo, como os denominados cudinas, que eram homens castrados que se vestiam como as mulheres e passavam a executar tarefas que apenas as mulheres executavam, como por exemplo a tecelagem. Na tribo bororó os jovens se reunião no baito (ou casa de homens), onde as mulheres não podiam entrar e os jovens se entregavam às relações sexuais com naturalidade. Na medicina indígena era comum que o tratamento fosse feito com o relacionamento sexual entre o pajé e os enfermos, inclusive com sexo anal, como entre os coerunas por exemplo. Entre os xamãs os conhecimentos curativos eram passados do pajé mais velho aos seus alunos por meio do ato sexual, onde o mais jovem se entregava ao mais velho.
Com a vinda dos portugueses a colônia, passa a valer no território brasileiro as ordenações, que por sua vez classificavam a sodomia como o "mais torpe, sujo e desonesto pecado". Porém, no período colonial há uma farta documentação acerca das práticas homossexuais por conta dos processos instaurados para punir quem praticasse a sodomia.
Com a Independência do Brasil, o fim da Inquisição e a edição de um Código Penal nos primeiros anos do Império, a prática da sodomia não é mais considerada criminosa, findando assim a documentação a respeito do assunto. Contudo, a moral cristã e o preconceito estavam arraigados na sociedade.
Nas últimas décadas do século XX, o movimento homossexual brasileiro foi sendo construído por meio de vários grupos em defesa dos direitos dos homossexuais. Apesar de não ser um ato criminoso desde o século XIX, a luta passa a ser contra o preconceito e a discriminação, bem como pela conquista dos direitos civis em isonomia com a população heterossexual.
Muitas são as provas de que a homossexualidade era aceita entre os índios. Segundo o pesquisador Abelardo Romero, a homossexualidade "grassava há séculos, entre os brasis, como uma doença contagiosa". Von Martius também relata o espanto dos portugueses com relação a antropofagia e a sodomia dos índios, assim como o padre Manoel da Nóbrega, que em 1549 comentou que muitos colonos tinham índios como mulheres "segundo o costume da terra".
Entre os tupinambás, o Tratado Descritivo do Brasil de 1587, escrito por Gabriel Soares de Souza, refere-se tanto à homossexualidade masculina como feminina. Descreve que o "pecado nefando" era bem aceito, sendo que o que desempenhava o papel ativo tinha-se por valente e contava o caso como proeza. Já os tupinaés, vizinho dos tupinambás, eram "muito mais sujeitos ao pecado nefando do que os tupinambás". No ano de 1576, o português Pero de Magalhães de Gândavo relatou que os índios "se entregam ao vício (da sodomia) como se neles não houvera razão de homens". Entre os guaicurus há também relatos sobre o travestismo, como os denominados cudinas, que eram homens castrados que se vestiam como as mulheres e passavam a executar tarefas que apenas as mulheres executavam, como por exemplo a tecelagem. Na tribo bororó os jovens se reunião no baito (ou casa de homens), onde as mulheres não podiam entrar e os jovens se entregavam às relações sexuais com naturalidade. Na medicina indígena era comum que o tratamento fosse feito com o relacionamento sexual entre o pajé e os enfermos, inclusive com sexo anal, como entre os coerunas por exemplo. Entre os xamãs os conhecimentos curativos eram passados do pajé mais velho aos seus alunos por meio do ato sexual, onde o mais jovem se entregava ao mais velho.
Com a vinda dos portugueses a colônia, passa a valer no território brasileiro as ordenações, que por sua vez classificavam a sodomia como o "mais torpe, sujo e desonesto pecado". Porém, no período colonial há uma farta documentação acerca das práticas homossexuais por conta dos processos instaurados para punir quem praticasse a sodomia.
Com a Independência do Brasil, o fim da Inquisição e a edição de um Código Penal nos primeiros anos do Império, a prática da sodomia não é mais considerada criminosa, findando assim a documentação a respeito do assunto. Contudo, a moral cristã e o preconceito estavam arraigados na sociedade.
Nas últimas décadas do século XX, o movimento homossexual brasileiro foi sendo construído por meio de vários grupos em defesa dos direitos dos homossexuais. Apesar de não ser um ato criminoso desde o século XIX, a luta passa a ser contra o preconceito e a discriminação, bem como pela conquista dos direitos civis em isonomia com a população heterossexual.
A homossexualidade aos olhos do cristianismo
Muitas são as passagens bíblicas em que o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo é reprovado ( Levítico 20: 13, Deuteronômio 23: 17, I Coríntios 6: 10 e I Timóteo 1: 8 - 10). Isso porque Deus criou o homem e a mulher para que se completassem e procriassem ( Gênesis 2: 18, Gênesis 1: 28). Desta forma, quando o homem tem relações sexuais com outro homem e a mulher tem relações sexuais com outra mulher, a ordem natural estabelecida por Deus está sendo quebrada (Romanos 1: 26 - 27). Além disso, a Bíblia caracteriza as relações homoafetivas como "paixões infames" (Romanos 1: 26) e o livro sagrado do cristianismo afirma que não há amor quando duas pessoas do mesmo sexo tem relações sexuais. Quando tais fazem isso, estão se inflamando na sua sensualidade (Romamos 1: 27).
Por volta do século 4 d. C., o imperador romano Constantino se converte ao cristianismo e em seguida a fé cristã se torna a religião oficial do maior império do mundo, o império romano. Assim, o sexo passou a ser visto apenas para a procriação e então a homossexualidade passou a ser vista como algo antinatural. O primeiro texto de lei proibindo o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo foi promulgado em 533 pelo imperador cristão Justiniano. Ele vinculou as relações sexuais aos atos de adultério - para a qual se previa a pena de morte. Em 538 e 544, outras leis obrigavam os homossexuais a arrependerem-se de seus pecados e fazer penitência. O nascimento e a expansão do islamismo (a partir do século 7), junto com a força cristã, reforçaram a teoria do sexo para a procriação. Com o passar dos séculos, o cristianismo se tornou a religião do mundo ocidental e a proibição à sodomia continuou sendo válida. Uma vez que o Estado e a Igreja estavam unidos na colonização das terras para além da Europa, a sodomia passou a ser severamente condenada no Novo Mundo. Com isto, conclui-se que a perseguição aos homossexuais é histórica.
Muitas são as passagens bíblicas em que o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo é reprovado ( Levítico 20: 13, Deuteronômio 23: 17, I Coríntios 6: 10 e I Timóteo 1: 8 - 10). Isso porque Deus criou o homem e a mulher para que se completassem e procriassem ( Gênesis 2: 18, Gênesis 1: 28). Desta forma, quando o homem tem relações sexuais com outro homem e a mulher tem relações sexuais com outra mulher, a ordem natural estabelecida por Deus está sendo quebrada (Romanos 1: 26 - 27). Além disso, a Bíblia caracteriza as relações homoafetivas como "paixões infames" (Romanos 1: 26) e o livro sagrado do cristianismo afirma que não há amor quando duas pessoas do mesmo sexo tem relações sexuais. Quando tais fazem isso, estão se inflamando na sua sensualidade (Romamos 1: 27).
Por volta do século 4 d. C., o imperador romano Constantino se converte ao cristianismo e em seguida a fé cristã se torna a religião oficial do maior império do mundo, o império romano. Assim, o sexo passou a ser visto apenas para a procriação e então a homossexualidade passou a ser vista como algo antinatural. O primeiro texto de lei proibindo o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo foi promulgado em 533 pelo imperador cristão Justiniano. Ele vinculou as relações sexuais aos atos de adultério - para a qual se previa a pena de morte. Em 538 e 544, outras leis obrigavam os homossexuais a arrependerem-se de seus pecados e fazer penitência. O nascimento e a expansão do islamismo (a partir do século 7), junto com a força cristã, reforçaram a teoria do sexo para a procriação. Com o passar dos séculos, o cristianismo se tornou a religião do mundo ocidental e a proibição à sodomia continuou sendo válida. Uma vez que o Estado e a Igreja estavam unidos na colonização das terras para além da Europa, a sodomia passou a ser severamente condenada no Novo Mundo. Com isto, conclui-se que a perseguição aos homossexuais é histórica.
O surgimento da TV no Brasil
A televisão chegou ao Brasil em setembro de 1950, trazida por Assis Chateaubriand, que fundaria a primeira emissora de TV no país, a TV Tupi. Na década de 1950, a televisão teve no país um caráter de aventura, onde os primeiros anos foram marcados pela aprendizagem e com improvisos ao vivo (o videotape só chegaria ao país na década de 1960). Além disso, os recursos técnicos eram simplórios, garantindo apenas a permanência da TV no ar. O alto custo de um televisor (que era importado) fez com que apenas as classes mais abastadas tivessem acesso a uma televisão.
Os anos 1960 foi um período importante para a TV brasileira. Isto porque houve uma evolução técnica das emissoras e finalmente o videotape chega ao país através do já falecido humorista Chico Anysio. Isto permitiu que erros ao vivo fossem corrigidos com antecedência, da mesma forma que permitiu também que um programa pudesse ser gravado em um horário diferente do de sua exibição e mais: o programa poderia ser reprisado várias vezes! Hoje, isso pode soar de modo banal, mas na época foi um verdadeiro avanço para a televisão no país.
O que se viu na década de 1970 foi a popularização da televisão, onde até mesmo nas casas das pessoas mais pobres havia um aparelho. Foi também na década de 1970 em que a programação passou a ser exibida a cores e não mais em preto e branco, um grande avanço tecnológico na época. A Copa do Mundo de 1970 realizada no México foi exibida em cores no Brasil para as poucas pessoas que tinham uma TV a cores no país. Foi também na década de 1970 que as novelas produzidas no país começaram a abordar a temática homossexual.
Assis Chateaubriand, fundador dos Diários e Emissoras Associadas. Foto/Arquivo Estado de Minas (1944) |
A televisão chegou ao Brasil em setembro de 1950, trazida por Assis Chateaubriand, que fundaria a primeira emissora de TV no país, a TV Tupi. Na década de 1950, a televisão teve no país um caráter de aventura, onde os primeiros anos foram marcados pela aprendizagem e com improvisos ao vivo (o videotape só chegaria ao país na década de 1960). Além disso, os recursos técnicos eram simplórios, garantindo apenas a permanência da TV no ar. O alto custo de um televisor (que era importado) fez com que apenas as classes mais abastadas tivessem acesso a uma televisão.
Os anos 1960 foi um período importante para a TV brasileira. Isto porque houve uma evolução técnica das emissoras e finalmente o videotape chega ao país através do já falecido humorista Chico Anysio. Isto permitiu que erros ao vivo fossem corrigidos com antecedência, da mesma forma que permitiu também que um programa pudesse ser gravado em um horário diferente do de sua exibição e mais: o programa poderia ser reprisado várias vezes! Hoje, isso pode soar de modo banal, mas na época foi um verdadeiro avanço para a televisão no país.
O que se viu na década de 1970 foi a popularização da televisão, onde até mesmo nas casas das pessoas mais pobres havia um aparelho. Foi também na década de 1970 em que a programação passou a ser exibida a cores e não mais em preto e branco, um grande avanço tecnológico na época. A Copa do Mundo de 1970 realizada no México foi exibida em cores no Brasil para as poucas pessoas que tinham uma TV a cores no país. Foi também na década de 1970 que as novelas produzidas no país começaram a abordar a temática homossexual.
Personagens da televisão que eram homossexuais
O gráfico mostra o avanço da temática LGBTT nas novelas brasileiras, começando na década de 1970 e indo até 2014. Foto: Blog do Nilson Xavier. |
Um dos primeiros personagens homossexuais que se tem registo que surgiu na televisão brasileira foi na década de 1970, auge da Ditadura Militar, onde a censura tentava controlar tudo e todos, filtrando rigidamente o que era veiculado nos meios de comunicação. Porém, mesmo diante de tamanha rigidez, esta rígida censura continha brechas e os autores de novelas se aproveitaram de tais para abordar a temática homossexual em suas respectivas obras.
Como vocês podem ver acima, o gráfico retirado do Blog do Nilson Xavier mostra o avanço da temática LGBTT nas novelas brasileiras, começando pela década de 1970 e indo até o ano de 2014. Como podem ver, com o passar dos anos a abordagem em torno do tema foi se tornando uma constante. Com isso, não é possível falar aqui de TODOS os personagens homossexuais das telenovelas brasileiras, pois o espaço não permite e no fim das contas se correrá o risco de esquecer de alguém. Porém, há na história da TV brasileira personagens gays que marcaram época, sendo impossível não falar deles.
Uma das primeiras figuras de um gay na novela foi o personagem Rodolfo Augusto (Ary Fontoura) em Assim na Terra Como no Céu (1970). Nesta novela, Ary interpretava um costureiro afeminado e caricato. A censura da época não permitia falar mais do que isso. No ano de 1972 Ziembinski interpretou a Velha Istanislava em O Bofe. Ficou claro que o personagem era um homem vestido de mulher e interpretando uma mulher. O mesmo ator que atuou travestido de mulher em O Bofe interpretaria o protagonista de uma novela cujo enredo se baseia em um assassinato durante a festa (a clássica cena de um corpo boiando na piscina). Falo da primeira versão de O Rebu (1974). No final da trama descobre-se que Conrad Mahler (Ziembinski) matou por conta dos ciúmes que tinha do seu protegido Cauê (Buza Ferraz). Mais uma vez a censura não permitiu que a temática homossexual fosse aprofundada, mas para um bom entendedor estava claro que Conrad matou a amada do filho adotivo por conta de uma paixão não correspondida que nutria pelo rapaz. Em 2014, O Rebu ganhou uma nova versão escrita por George Moura e Sérgio Goldenberg. Nesta versão, Angela Mahler (Patrícia Pillar) é uma personagens complexa e com muitas nuances, podendo ser interpretada de diversas formas. Uma destas nuances levanta a possibilidade de a relação entre a mega empresária e a Duda Mahler (Sophie Charlotte), sua "filha do coração" ir muito além de um amor entre mãe e filha.
O Regime Militar não permitia que travestis aparecerem em novelas, mas Cláudia Celeste ousou enganar a todos e conseguiu um papel de dançarina na novela Espelho Mágico (1977). Quando descobriram que Cláudia era uma travesti, a mesma teve que sair da novela. Dez anos depois, Cláudia Celeste pôde retornar a TV como uma travesti mesmo na novela Olho por Olho da extinta TV Manchete. A autora Ivani Ribeiro tentou trabalhar os dilemas dos jovens dos anos 1980, dentre eles a temática homossexual na novela Os Adolescentes (1981 - 1982) por meio do personagem Caíto (Flávio Guarnieri). Ivani Ribeiro não conseguiu ir adiante com sua proposta inicial. Já em 1985, ano do fim da Ditadura Militar, o autor Ney Latorraca interpretou travestido a personagem Anabela Freire em Um Sonho a Mais. Apaixonado, Pedro Ernesto (Carlos Kroeber) pede Anabela em casamento e em uma cena divertida acontece o primeiro beijo entre duas pessoas do mesmo sexo em uma novela da Globo. A censura não gostou nem um pouco e mandou tirar da trama Florisbela (Marco Nanini) e Clarisbela (Antônio Pedro), que também atuavam na trama travestidos de mulher. Cecil Thiré interpretou Mário Liberato em Roda de Fogo (1986 - 1987), interpretando um vilão gay, levemente afeminado e que sofria com o desprezo de Renato Villar (Tarcísio Meira), tendo com o mesmo uma relação de amor e ódio. Já em 1988 a censura tinha acabado "oficialmente". Com isto, a possibilidade de se tratar a temática homossexual com profundidade aumentou. Aproveitando este fato, o autor Gilberto Braga discutiu em Vale Tudo (1988) parceria civil e herança com relação aos homossexuais. Laís (Cristina Prochaska) tinha uma relação com Cecília (Lala Deheinzelin) e, após a morte da mesma, se envolveu com Marília (Bia Seidl).
Em Mico Preto (1990), Miguel Falabella interpreta Zé Luís, um gay afeminado e divertido que tinha um caso com o político José Maria (Marcelo Picchi), que precisava de uma esposa de fachada para poder se candidatar. Esta situação gerou momentos engraçados na novela, com direito a um Zé Luís travestido. Sandrinho (André Gonçalves) e Jeferson (Lui Mendes) eram dois amigos na novela A Próxima Vítima (1995), cuja autoria remete a Silvio de Abreu. Com o tempo, o público foi percebendo que a relação entre os personagens ia além da amizade, até que o autor tornou claro o romance dos jovens. Uma vez que o público havia gostado dos rapazes (bons filhos e estudiosos), não houve rejeição por parte da sociedade com relação a orientação sexual dos jovens. Porém, isto não isentou o ator André Gonçalves da violência que sofreu por conta do personagem. Ainda falando em André Gonçalves, o mesmo já interpretou quatro personagens homossexuais ao longo de sua carreira, a saber: O Sandrinho de A Próxima Vítima (1995), o afetado e divertido Áureo de Morde & Assopra (2011), o traficante Sidão na novela Geração Brasil (2014) e o Etevaldo na novela Império (2015). Floriano Peixoto interpretou Sarita Witte em Explode Coração (1995 - 1996) e não ficou claro se o personagem era transexual, travesti ou crossdresser (homem que se veste de mulher, mas que não sente atração sexual pelo sexo masculino). Guilherme Paiva interpretou José Maria na novela Xica da Silva (1996 - 1997), um gay de bom coração e um dos personagens mais populares da extinta TV Manchete. José Maria chega a ser casar com Elvira (Giovanna Antonelli), mas era apaixonado pelo escravo Paulo (Déo Garcez). Leila (Silvia Pfeifer) e Rafaela (Christiane Torloni) interpretaram um casal de lésbicas em Torre de Babel (1998). A rejeição por parte do público pelas personagens foi tão grande que ambas morreram na famosa cena em que o shopping explode.
Ramona (Cláudia Raia) de As Filhas da Mãe (2001) foi a primeira transexual de uma novela. Pelo fato de Ramon ter virado Ramona, Leonardo (Alexandre Borges) se recusava a aceitá-la (mesmo estando apaixonado) pelo fato dela ter sido homem um dia. O casal de lésbicas teen Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) da novela Mulheres Apaixonadas (2003) fez sucesso nesta novela de Manoel Carlos. Kayky Brito se vestiu de mulher por conta da personagem Bernadete em Chocolate Com Pimenta (2004). Bernadete nasceu homem, mas foi criado pela mãe Jezabel (Elizabeth Savalla) como se fosse uma mulher. Em uma cena bem divertida Bernadete descobre que é homem e assume uma nova identidade. Uma vez que não sentia atração por homens, Bernardo (a nova identidade de Bernadete), acaba se apaixonando por uma personagem da novela. Eleonora (Mylla Christie) e Jenifer (Bárbara Borges) formaram um casal lésbico em Senhora do Destino (2004 - 2005). Juntas, lutaram contra o preconceito dos pais, indo morar juntas e adotando um bebê que havia sido abandonado em um hospital, levantando a questão da adoção por parte de casais homossexuais. Não tem como não falar de Júnior, personagem interpretado por Bruno Gagliasso na novela América (2005). Nesta trama, o rapaz se descobre homossexual, apesar da mãe (Eliane Giardini) o pressionar para que se casasse. O esperado beijo gay entre Júnior e o peão Zeca (Erom Cordeiro) foi gravado, mas não foi ao ar, frustrando os telespectadores.
Os personagens homossexuais aumentaram muito nas novelas dos últimos anos e não é possível falar de todos aqui, mas antes de encerrar este tópico não tem como falar de Murilo Armacollo em O Brado Retumbante (2012). Ao contrário do que houve em As Filhas da Mãe, onde Cláudia Raia interpretou uma transexual, nesta microssérie quem interpretou um homem que virou mulher foi um homem mesmo. Murilo Armacollo era o filho de Paulo Alberto Ventura (Domingos Montagner) e vivia às turras com o pai, pois o mesmo não aceitava a orientação sexual do filho. Em uma briga de família, Júlio sai de casa e fica anos sem ter contato com os pais, até que volta sob a identidade de uma mulher.
O estereótipo do homossexual largamente divulgado na TV
Como já falado no tópico acima, a abordagem em torno da temática LGBTT vem aumentando constantemente nas últimas décadas. A princípio, este fato pode ser motivo de alegria, já que isto pode indicar que as pessoas estão sendo mais informadas em torno do tema e assim sendo mais tolerantes. Porém, a forma como os gays são retratados nas novelas deve ser motivo de atenção e não de comemoração.
Já foi falado acima que houve novelas em que a temática gay foi tratada com profundidade, abordando temas relevantes concernentes à população LGBTT. Porém, o estereótipo do homossexual amplamente divulgado pela mídia é a figura do gay brincalhão, feliz o tempo todo, com uma criatividade fora do normal para criar bordões e extremamente afeminado. Existem gays assim? Existem, mas não nem todos são assim. Nem todo gay é afeminado e nem todo afeminado é gay. Exemplos de gays da TV que se encaixam neste estereótipo são Edilberto (Luís Carlos Tourinho) em Suave Veneno (1999), Danilo (Cláudio Henrich) de Caminhos do Coração/Os Mutantes (2007 - 2008) e Cássio (Marco Pigossi) de Caras e Bocas (2009), que fez sucesso com o bordão "Choquei! Tô rosa chiclete!". Impossível esquecer de Clodoaldo Valério (Marcelo Serrado), o mordomo de Teresa Cristina (Christiane Torloni) na novela Fina Estampa (2011 - 2012). Com um linguajar próprio, bordões e tiradas irônicas o personagem fez tanto sucesso que ganhou um filme próprio. Exemplos mais recentes de gays estereotipados na televisão são o Téo Pereira (Paulo Betti) na novela Império (2014), onde o ator interpretou um blogueiro maldoso e extremamente afetado. Ainda falando em Império, impossível esquecer da Xana (Aílton Graça). Na trama, o ator deu vida a uma dona de um salão de beleza em Santa Teresa. Bondosa e acolhedora, parte dos personagens da trama foi parar na casa da cabeleireira; outro exemplo também é o Pepito (Conrado Caputto) de Alto Astral (2015), que na trama é o melhor amigo de Samantha Paranormal (Cláudia Raia).
Além de mostrar constantemente a figura do gay caricato e afetado, as novelas constantemente mostram personagens homossexuais que em dado momento se sentem atraídos pelo sexo oposto. Exemplo disto é o Orlandinho (Iran Malfitano) de A Favorita (2008), que era apaixonado pelo amigo Halley (Cauã Reymond), até conhecer Céu (Déborah Secco), com quem simulou um namoro de fachada para a família. Depois, se apaixonou pela moça. Destaque também para o Joel (Marcelo Médici) de Jóia Rara (2013 - 2014), um gay afetado que descobre sentir atração por mulheres.
Além disso, os casais homossexuais da televisão parecem mais dois amigos do que um casal de fato. Todo mundo aqui sabe (principalmente quem já teve uma relação amorosa) que um casal apaixonado se beijam na boca, se abraçam, brincam, ... os casais gay das novelas não fazem nada disso. Parecem mais dois amigos do que um casal. Os personagens que seguiram esta linha foram Niko (Thiago Fragoso) e Eron (Marcello Anthony) em Amor à Vida (2013). Na trama, os personagens eram um casal que tentaram ter um filho juntos, mas não conseguiram.
É importante lembrar que isto está mudando, a curtos passos, mas está mudando. Os casais gays hoje na TV minimamente pegam na mão um do outro em clara insinuação de romance, como aconteceu muitas vezes em Império (2014), onde os personagens interpretados por José Mayer e Klebber Toledo trocaram carinhos constantemente. Além disso, outra cena em Império de clara relação homossexual foi também entre Leonardo e Etevaldo, interpretado respectivamente por Klebber Toledo e André Gonçalves. Após a folia de carnaval, ambos dormiram e tomaram banho juntos. A cena não foi muito detalhada, mas para um bom entendedor estava claro do que se tratava.
Toda regra tem a sua exceção. Da mesma forma que há novelas que são superficiais com relação a temática LGBTT, houve também novelas que foram mais a fundo neste tema. Um exemplo recente é o remake de Ti-ti-ti (2010), onde o assunto foi abordado de forma realista e sensível através de Julinho (André Arteche), bem como sua relação com Osmar (Gustavo Leão). Osmar morre no começo da trama e Julinho se envolve ao longo do folhetim em uma relação amorosa com Thales (Armando Babaioff). Eduardo (Rodrigo Andrade) foi um jovem que aos poucos se apaixonou pelo professor Hugo (Marcos Damigo) em Insensato Coração (2011). Esta foi uma das novelas que tratou com maior profundidade a temática LGBTT, colocando em evidência a intolerância e a discriminação que os homossexuais sofrem na vida real, indo desde o preconceito no ambiente de trabalho até a violência física. A temática gay tem sido tão aprofundada em folhetins que o beijo gay (o selinho ainda) já está sendo algo corriqueiro nas novelas brasileiras.
Beijo gay na TV brasileira
Por incrível que pareça, o primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo na televisão aconteceu nos primeiros anos da década de 1960. As protagonistas deste ato foram as atrizes Vida Alves e Geórgia Gomide na novela A Calúnia (Vida Alves conta que o beijo aconteceu em 1964, mas outros registros contam que o mesmo aconteceu em dezembro de 1963), exibida pela TV Tupi. Duas décadas depois, em 1985, Ney Latorraca atuou travestido e usando o nome Anabela Freire na novela Um Sonho a Mais. Apaixonado por Anabela, Pedro Ernesto (Carlos Kroeber) lhe pede em casamento. Em uma cena divertida acontece o primeiro beijo entre homens da TV Globo. Cinco anos depois, em 1990, na minissérie Mãe de Santo, exibida pela extinta TV Manchete; os atores Raí Bastos e Daniel Barcelos deram um beijo gay. Porém, a cena era mostrada contra a luz e o que se via era apenas a sombra dos intérpretes.
Houve beijo gay também na extinta MTV Brasil. O fato ocorreu agosto de 2001 no Fica Comigo, programa apresentado por Fernanda Lima. A emissora repetiria a dose em outros programas, como o Beija Sapo. Em 2003, no último capítulo de Mulheres Apaixonadas, o casal lésbico Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) deram um selinho durante a encenação do clássico Romeu e Julieta. Jennifer (Bárbara Borges) e Eleonora (Mylla Christie) em Senhora do Destino (2004 - 2005) adotaram uma criança, tiveram cenas juntas na cama e ainda deram selinho uma na outra. Quatro anos depois, na minissérie Queridos Amigos (2008), o dúbio Benny (Guilherme Weber), homossexual assumido, rouba um beijo do amigo Pedro (Bruno Garcia).
No seriado global Clandestinos - O Sonho Começou (2010) foi gravado um beijo entre Hugo (Hugo Leão) e Fábio (Fábio Henriquez). A cena não foi ao ar, mas caiu na internet. No ano seguinte, a novela Amor e Revolução (exibida no SBT) exibiu um beijo gay entre as personagens Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre). Tiago Santiago, o autor da novela, escreveu cena parecida envolvendo os personagens Jeová (Lui Mendes) e Chico (Carlos Artur Thiré). A cena foi gravada, mas não foi exibida. Em 2014, Félix e Niko (Mateus Solano e Thiago Fragoso respectivamente) se beijaram de modo simples e apaixonado no último capítulo da novela Amor à Vida, tendo grande repercussão nas redes sociais e aumentando a audiência da novela. Também em 2014, em Quem Quer Casar Com Meu Filho?, reality show exibido pela BAND; houve beijo gay entre os participantes Ramon e Gustavo. O programa teve gay assumido como um dos participantes que procuravam um amor na TV. Também em 2014, Clara (Giovanna Antonelli) era casada e tinha um filho com o cozinheiro Cadu (Reynaldo Gianecchini) na novela Em Família. Clara conhece Marina (Tainá Müller) e ao longo da trama se vê atraída pela fotógrafa. A paixão entre as personagens culmina em alguns selinhos durante o folhetim. Houve também beijo gay na microssérie de quatro episódios exibida pelo canal a cabo MGM intitulada Força de Elite, onde dois irmãos adotivos oriundos de uma família de criminosos sentem uma atração mútua e se beijam em uma das cenas. Foi também em 2014 e de uma forma discreta que a TV Globo exibiu um beijo gay entre Fernando (Matheus Nachtergaele) e Roberto (Evandro Soldatelli) no seriado Doce de Mãe (2014). O fato ocorreu na última cena de um episódio, onde os personagens dançavam em um baile. Os casais presentes se beijaram, inclusive Fernando e Roberto. Em 2014, houve muitos beijos gays na televisão e sem dúvidas isto está associado a cena em que os personagens Félix e Niko se beijam no último capítulo da novela Amor à Vida, exibido no dia 31 de janeiro de 2014. Tal cena abriu caminho para que outros casais gays pudessem se beijar na telinha.
Houve beijo gay na TV também neste ano de 2015. Paolla Oliveira, uma das protagonistas de Felizes Para Sempre?, viveu na trama uma mulher de vida dupla, usando nomes como Danny Bond e Simone. Na Trama, Paolla interpretou uma prostituta de luxo, mas que para a namorada Daniela (Martha Nowill) se dizia uma estudante universitária que vivia de mesadas do pai. No folhetim, Denise (nome verdadeiro de Danny Bond) e Daniela protagonizaram cenas de muito beijo e cumplicidade. No primeiro capítulo da novela Babilônia (exibido em março deste ano), as personagens Teresa e Estela (Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg respectivamente) se beijam de forma discreta e apaixonada. Este fato teve grande repercussão e levou os políticos evangélicos a encabeçarem campanhas de boicote a novela, bem como dos produtos anunciados nos intervalos comerciais da mesma. Ramos da Igreja Católica (mais especificamente falando, a rede Canção Nova e a Renovação Carismática) também fizeram recomendações semelhantes aos seus fiéis. Ao fim da primeira semana de exibição, a audiência da novela havia caído consideravelmente, fenômeno que o jornalista Lauro Jardim levantou a hipótese de estar associado às campanhas de boicote ao folhetim.
Abordagem LGBTT no cinema brasileiro
Como vocês podem ver acima, o gráfico retirado do Blog do Nilson Xavier mostra o avanço da temática LGBTT nas novelas brasileiras, começando pela década de 1970 e indo até o ano de 2014. Como podem ver, com o passar dos anos a abordagem em torno do tema foi se tornando uma constante. Com isso, não é possível falar aqui de TODOS os personagens homossexuais das telenovelas brasileiras, pois o espaço não permite e no fim das contas se correrá o risco de esquecer de alguém. Porém, há na história da TV brasileira personagens gays que marcaram época, sendo impossível não falar deles.
Uma das primeiras figuras de um gay na novela foi o personagem Rodolfo Augusto (Ary Fontoura) em Assim na Terra Como no Céu (1970). Nesta novela, Ary interpretava um costureiro afeminado e caricato. A censura da época não permitia falar mais do que isso. No ano de 1972 Ziembinski interpretou a Velha Istanislava em O Bofe. Ficou claro que o personagem era um homem vestido de mulher e interpretando uma mulher. O mesmo ator que atuou travestido de mulher em O Bofe interpretaria o protagonista de uma novela cujo enredo se baseia em um assassinato durante a festa (a clássica cena de um corpo boiando na piscina). Falo da primeira versão de O Rebu (1974). No final da trama descobre-se que Conrad Mahler (Ziembinski) matou por conta dos ciúmes que tinha do seu protegido Cauê (Buza Ferraz). Mais uma vez a censura não permitiu que a temática homossexual fosse aprofundada, mas para um bom entendedor estava claro que Conrad matou a amada do filho adotivo por conta de uma paixão não correspondida que nutria pelo rapaz. Em 2014, O Rebu ganhou uma nova versão escrita por George Moura e Sérgio Goldenberg. Nesta versão, Angela Mahler (Patrícia Pillar) é uma personagens complexa e com muitas nuances, podendo ser interpretada de diversas formas. Uma destas nuances levanta a possibilidade de a relação entre a mega empresária e a Duda Mahler (Sophie Charlotte), sua "filha do coração" ir muito além de um amor entre mãe e filha.
O Regime Militar não permitia que travestis aparecerem em novelas, mas Cláudia Celeste ousou enganar a todos e conseguiu um papel de dançarina na novela Espelho Mágico (1977). Quando descobriram que Cláudia era uma travesti, a mesma teve que sair da novela. Dez anos depois, Cláudia Celeste pôde retornar a TV como uma travesti mesmo na novela Olho por Olho da extinta TV Manchete. A autora Ivani Ribeiro tentou trabalhar os dilemas dos jovens dos anos 1980, dentre eles a temática homossexual na novela Os Adolescentes (1981 - 1982) por meio do personagem Caíto (Flávio Guarnieri). Ivani Ribeiro não conseguiu ir adiante com sua proposta inicial. Já em 1985, ano do fim da Ditadura Militar, o autor Ney Latorraca interpretou travestido a personagem Anabela Freire em Um Sonho a Mais. Apaixonado, Pedro Ernesto (Carlos Kroeber) pede Anabela em casamento e em uma cena divertida acontece o primeiro beijo entre duas pessoas do mesmo sexo em uma novela da Globo. A censura não gostou nem um pouco e mandou tirar da trama Florisbela (Marco Nanini) e Clarisbela (Antônio Pedro), que também atuavam na trama travestidos de mulher. Cecil Thiré interpretou Mário Liberato em Roda de Fogo (1986 - 1987), interpretando um vilão gay, levemente afeminado e que sofria com o desprezo de Renato Villar (Tarcísio Meira), tendo com o mesmo uma relação de amor e ódio. Já em 1988 a censura tinha acabado "oficialmente". Com isto, a possibilidade de se tratar a temática homossexual com profundidade aumentou. Aproveitando este fato, o autor Gilberto Braga discutiu em Vale Tudo (1988) parceria civil e herança com relação aos homossexuais. Laís (Cristina Prochaska) tinha uma relação com Cecília (Lala Deheinzelin) e, após a morte da mesma, se envolveu com Marília (Bia Seidl).
Em Mico Preto (1990), Miguel Falabella interpreta Zé Luís, um gay afeminado e divertido que tinha um caso com o político José Maria (Marcelo Picchi), que precisava de uma esposa de fachada para poder se candidatar. Esta situação gerou momentos engraçados na novela, com direito a um Zé Luís travestido. Sandrinho (André Gonçalves) e Jeferson (Lui Mendes) eram dois amigos na novela A Próxima Vítima (1995), cuja autoria remete a Silvio de Abreu. Com o tempo, o público foi percebendo que a relação entre os personagens ia além da amizade, até que o autor tornou claro o romance dos jovens. Uma vez que o público havia gostado dos rapazes (bons filhos e estudiosos), não houve rejeição por parte da sociedade com relação a orientação sexual dos jovens. Porém, isto não isentou o ator André Gonçalves da violência que sofreu por conta do personagem. Ainda falando em André Gonçalves, o mesmo já interpretou quatro personagens homossexuais ao longo de sua carreira, a saber: O Sandrinho de A Próxima Vítima (1995), o afetado e divertido Áureo de Morde & Assopra (2011), o traficante Sidão na novela Geração Brasil (2014) e o Etevaldo na novela Império (2015). Floriano Peixoto interpretou Sarita Witte em Explode Coração (1995 - 1996) e não ficou claro se o personagem era transexual, travesti ou crossdresser (homem que se veste de mulher, mas que não sente atração sexual pelo sexo masculino). Guilherme Paiva interpretou José Maria na novela Xica da Silva (1996 - 1997), um gay de bom coração e um dos personagens mais populares da extinta TV Manchete. José Maria chega a ser casar com Elvira (Giovanna Antonelli), mas era apaixonado pelo escravo Paulo (Déo Garcez). Leila (Silvia Pfeifer) e Rafaela (Christiane Torloni) interpretaram um casal de lésbicas em Torre de Babel (1998). A rejeição por parte do público pelas personagens foi tão grande que ambas morreram na famosa cena em que o shopping explode.
Ramona (Cláudia Raia) de As Filhas da Mãe (2001) foi a primeira transexual de uma novela. Pelo fato de Ramon ter virado Ramona, Leonardo (Alexandre Borges) se recusava a aceitá-la (mesmo estando apaixonado) pelo fato dela ter sido homem um dia. O casal de lésbicas teen Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) da novela Mulheres Apaixonadas (2003) fez sucesso nesta novela de Manoel Carlos. Kayky Brito se vestiu de mulher por conta da personagem Bernadete em Chocolate Com Pimenta (2004). Bernadete nasceu homem, mas foi criado pela mãe Jezabel (Elizabeth Savalla) como se fosse uma mulher. Em uma cena bem divertida Bernadete descobre que é homem e assume uma nova identidade. Uma vez que não sentia atração por homens, Bernardo (a nova identidade de Bernadete), acaba se apaixonando por uma personagem da novela. Eleonora (Mylla Christie) e Jenifer (Bárbara Borges) formaram um casal lésbico em Senhora do Destino (2004 - 2005). Juntas, lutaram contra o preconceito dos pais, indo morar juntas e adotando um bebê que havia sido abandonado em um hospital, levantando a questão da adoção por parte de casais homossexuais. Não tem como não falar de Júnior, personagem interpretado por Bruno Gagliasso na novela América (2005). Nesta trama, o rapaz se descobre homossexual, apesar da mãe (Eliane Giardini) o pressionar para que se casasse. O esperado beijo gay entre Júnior e o peão Zeca (Erom Cordeiro) foi gravado, mas não foi ao ar, frustrando os telespectadores.
Os personagens homossexuais aumentaram muito nas novelas dos últimos anos e não é possível falar de todos aqui, mas antes de encerrar este tópico não tem como falar de Murilo Armacollo em O Brado Retumbante (2012). Ao contrário do que houve em As Filhas da Mãe, onde Cláudia Raia interpretou uma transexual, nesta microssérie quem interpretou um homem que virou mulher foi um homem mesmo. Murilo Armacollo era o filho de Paulo Alberto Ventura (Domingos Montagner) e vivia às turras com o pai, pois o mesmo não aceitava a orientação sexual do filho. Em uma briga de família, Júlio sai de casa e fica anos sem ter contato com os pais, até que volta sob a identidade de uma mulher.
O estereótipo do homossexual largamente divulgado na TV
Conrado Caputto interpreta Pepito na novela Alto Astral. No folhetim, o ator faz o perfil do homossexual caricato, ou seja: divertido e afetado. Imagem: Globo TV. |
Como já falado no tópico acima, a abordagem em torno da temática LGBTT vem aumentando constantemente nas últimas décadas. A princípio, este fato pode ser motivo de alegria, já que isto pode indicar que as pessoas estão sendo mais informadas em torno do tema e assim sendo mais tolerantes. Porém, a forma como os gays são retratados nas novelas deve ser motivo de atenção e não de comemoração.
Já foi falado acima que houve novelas em que a temática gay foi tratada com profundidade, abordando temas relevantes concernentes à população LGBTT. Porém, o estereótipo do homossexual amplamente divulgado pela mídia é a figura do gay brincalhão, feliz o tempo todo, com uma criatividade fora do normal para criar bordões e extremamente afeminado. Existem gays assim? Existem, mas não nem todos são assim. Nem todo gay é afeminado e nem todo afeminado é gay. Exemplos de gays da TV que se encaixam neste estereótipo são Edilberto (Luís Carlos Tourinho) em Suave Veneno (1999), Danilo (Cláudio Henrich) de Caminhos do Coração/Os Mutantes (2007 - 2008) e Cássio (Marco Pigossi) de Caras e Bocas (2009), que fez sucesso com o bordão "Choquei! Tô rosa chiclete!". Impossível esquecer de Clodoaldo Valério (Marcelo Serrado), o mordomo de Teresa Cristina (Christiane Torloni) na novela Fina Estampa (2011 - 2012). Com um linguajar próprio, bordões e tiradas irônicas o personagem fez tanto sucesso que ganhou um filme próprio. Exemplos mais recentes de gays estereotipados na televisão são o Téo Pereira (Paulo Betti) na novela Império (2014), onde o ator interpretou um blogueiro maldoso e extremamente afetado. Ainda falando em Império, impossível esquecer da Xana (Aílton Graça). Na trama, o ator deu vida a uma dona de um salão de beleza em Santa Teresa. Bondosa e acolhedora, parte dos personagens da trama foi parar na casa da cabeleireira; outro exemplo também é o Pepito (Conrado Caputto) de Alto Astral (2015), que na trama é o melhor amigo de Samantha Paranormal (Cláudia Raia).
Além de mostrar constantemente a figura do gay caricato e afetado, as novelas constantemente mostram personagens homossexuais que em dado momento se sentem atraídos pelo sexo oposto. Exemplo disto é o Orlandinho (Iran Malfitano) de A Favorita (2008), que era apaixonado pelo amigo Halley (Cauã Reymond), até conhecer Céu (Déborah Secco), com quem simulou um namoro de fachada para a família. Depois, se apaixonou pela moça. Destaque também para o Joel (Marcelo Médici) de Jóia Rara (2013 - 2014), um gay afetado que descobre sentir atração por mulheres.
Além disso, os casais homossexuais da televisão parecem mais dois amigos do que um casal de fato. Todo mundo aqui sabe (principalmente quem já teve uma relação amorosa) que um casal apaixonado se beijam na boca, se abraçam, brincam, ... os casais gay das novelas não fazem nada disso. Parecem mais dois amigos do que um casal. Os personagens que seguiram esta linha foram Niko (Thiago Fragoso) e Eron (Marcello Anthony) em Amor à Vida (2013). Na trama, os personagens eram um casal que tentaram ter um filho juntos, mas não conseguiram.
É importante lembrar que isto está mudando, a curtos passos, mas está mudando. Os casais gays hoje na TV minimamente pegam na mão um do outro em clara insinuação de romance, como aconteceu muitas vezes em Império (2014), onde os personagens interpretados por José Mayer e Klebber Toledo trocaram carinhos constantemente. Além disso, outra cena em Império de clara relação homossexual foi também entre Leonardo e Etevaldo, interpretado respectivamente por Klebber Toledo e André Gonçalves. Após a folia de carnaval, ambos dormiram e tomaram banho juntos. A cena não foi muito detalhada, mas para um bom entendedor estava claro do que se tratava.
Toda regra tem a sua exceção. Da mesma forma que há novelas que são superficiais com relação a temática LGBTT, houve também novelas que foram mais a fundo neste tema. Um exemplo recente é o remake de Ti-ti-ti (2010), onde o assunto foi abordado de forma realista e sensível através de Julinho (André Arteche), bem como sua relação com Osmar (Gustavo Leão). Osmar morre no começo da trama e Julinho se envolve ao longo do folhetim em uma relação amorosa com Thales (Armando Babaioff). Eduardo (Rodrigo Andrade) foi um jovem que aos poucos se apaixonou pelo professor Hugo (Marcos Damigo) em Insensato Coração (2011). Esta foi uma das novelas que tratou com maior profundidade a temática LGBTT, colocando em evidência a intolerância e a discriminação que os homossexuais sofrem na vida real, indo desde o preconceito no ambiente de trabalho até a violência física. A temática gay tem sido tão aprofundada em folhetins que o beijo gay (o selinho ainda) já está sendo algo corriqueiro nas novelas brasileiras.
Beijo gay na TV brasileira
Por incrível que pareça, o primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo na televisão aconteceu nos primeiros anos da década de 1960. As protagonistas deste ato foram as atrizes Vida Alves e Geórgia Gomide na novela A Calúnia (Vida Alves conta que o beijo aconteceu em 1964, mas outros registros contam que o mesmo aconteceu em dezembro de 1963), exibida pela TV Tupi. Duas décadas depois, em 1985, Ney Latorraca atuou travestido e usando o nome Anabela Freire na novela Um Sonho a Mais. Apaixonado por Anabela, Pedro Ernesto (Carlos Kroeber) lhe pede em casamento. Em uma cena divertida acontece o primeiro beijo entre homens da TV Globo. Cinco anos depois, em 1990, na minissérie Mãe de Santo, exibida pela extinta TV Manchete; os atores Raí Bastos e Daniel Barcelos deram um beijo gay. Porém, a cena era mostrada contra a luz e o que se via era apenas a sombra dos intérpretes.
Houve beijo gay também na extinta MTV Brasil. O fato ocorreu agosto de 2001 no Fica Comigo, programa apresentado por Fernanda Lima. A emissora repetiria a dose em outros programas, como o Beija Sapo. Em 2003, no último capítulo de Mulheres Apaixonadas, o casal lésbico Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) deram um selinho durante a encenação do clássico Romeu e Julieta. Jennifer (Bárbara Borges) e Eleonora (Mylla Christie) em Senhora do Destino (2004 - 2005) adotaram uma criança, tiveram cenas juntas na cama e ainda deram selinho uma na outra. Quatro anos depois, na minissérie Queridos Amigos (2008), o dúbio Benny (Guilherme Weber), homossexual assumido, rouba um beijo do amigo Pedro (Bruno Garcia).
No seriado global Clandestinos - O Sonho Começou (2010) foi gravado um beijo entre Hugo (Hugo Leão) e Fábio (Fábio Henriquez). A cena não foi ao ar, mas caiu na internet. No ano seguinte, a novela Amor e Revolução (exibida no SBT) exibiu um beijo gay entre as personagens Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre). Tiago Santiago, o autor da novela, escreveu cena parecida envolvendo os personagens Jeová (Lui Mendes) e Chico (Carlos Artur Thiré). A cena foi gravada, mas não foi exibida. Em 2014, Félix e Niko (Mateus Solano e Thiago Fragoso respectivamente) se beijaram de modo simples e apaixonado no último capítulo da novela Amor à Vida, tendo grande repercussão nas redes sociais e aumentando a audiência da novela. Também em 2014, em Quem Quer Casar Com Meu Filho?, reality show exibido pela BAND; houve beijo gay entre os participantes Ramon e Gustavo. O programa teve gay assumido como um dos participantes que procuravam um amor na TV. Também em 2014, Clara (Giovanna Antonelli) era casada e tinha um filho com o cozinheiro Cadu (Reynaldo Gianecchini) na novela Em Família. Clara conhece Marina (Tainá Müller) e ao longo da trama se vê atraída pela fotógrafa. A paixão entre as personagens culmina em alguns selinhos durante o folhetim. Houve também beijo gay na microssérie de quatro episódios exibida pelo canal a cabo MGM intitulada Força de Elite, onde dois irmãos adotivos oriundos de uma família de criminosos sentem uma atração mútua e se beijam em uma das cenas. Foi também em 2014 e de uma forma discreta que a TV Globo exibiu um beijo gay entre Fernando (Matheus Nachtergaele) e Roberto (Evandro Soldatelli) no seriado Doce de Mãe (2014). O fato ocorreu na última cena de um episódio, onde os personagens dançavam em um baile. Os casais presentes se beijaram, inclusive Fernando e Roberto. Em 2014, houve muitos beijos gays na televisão e sem dúvidas isto está associado a cena em que os personagens Félix e Niko se beijam no último capítulo da novela Amor à Vida, exibido no dia 31 de janeiro de 2014. Tal cena abriu caminho para que outros casais gays pudessem se beijar na telinha.
Houve beijo gay na TV também neste ano de 2015. Paolla Oliveira, uma das protagonistas de Felizes Para Sempre?, viveu na trama uma mulher de vida dupla, usando nomes como Danny Bond e Simone. Na Trama, Paolla interpretou uma prostituta de luxo, mas que para a namorada Daniela (Martha Nowill) se dizia uma estudante universitária que vivia de mesadas do pai. No folhetim, Denise (nome verdadeiro de Danny Bond) e Daniela protagonizaram cenas de muito beijo e cumplicidade. No primeiro capítulo da novela Babilônia (exibido em março deste ano), as personagens Teresa e Estela (Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg respectivamente) se beijam de forma discreta e apaixonada. Este fato teve grande repercussão e levou os políticos evangélicos a encabeçarem campanhas de boicote a novela, bem como dos produtos anunciados nos intervalos comerciais da mesma. Ramos da Igreja Católica (mais especificamente falando, a rede Canção Nova e a Renovação Carismática) também fizeram recomendações semelhantes aos seus fiéis. Ao fim da primeira semana de exibição, a audiência da novela havia caído consideravelmente, fenômeno que o jornalista Lauro Jardim levantou a hipótese de estar associado às campanhas de boicote ao folhetim.
Abordagem LGBTT no cinema brasileiro
Se as produções televisivas parecem andar em passos lentos com relação à temática LGBTT, o cinema nacional já está muito bem adiantado com relação a este assunto. Se na TV o beijo gay é ainda é tabu, no cinema brasileiro isso é mais natural do que se pensa. Além disso, as cenas de sexo entre personagens homossexuais já aconteceu muitas vezes nos cinemas do país.
Uma das primeiras cenas de beijo entre homossexuais no cinema brasileiro ocorreu em 1979 entre Tunico Pereira e Anselmo Vasconcelos no filme República dos Assassinos. Em 2002, é a vez de Lázaro Ramos e Felipe Marques protagonizarem um beijo gay no filme Madame Satã. Em Cazuza - O Tempo Não Para (2004), Cazuza (interpretado brilhantemente por Daniel de Oliveira) protagoniza no longa muitas cenas em que beija vários homens na boca. Rosanne Mulholland (conhecida entre o público infantil por interpretar a professora Helena no remake brasileiro de Carrossel) e Gabrielle Lopez protagonizam cenas de amor no filme A Concepção (2005). Teve também beijo gay entre Eriberto Leão e Carmo Dalla Vecchia no filme Onde Andará Dulce Veiga? (2008). Em novembro de 2009, Aluizio Abranches traz ao público um filme na qual é o diretor e cujo título é Do Começo ao Fim. O longa narra a história de dois meio-irmãos que desde crianças foram muito próximos e, após a morte da mãe (Júlia Lemmertz), os jovens percebem que o que sentem um pelo outro vai muito além de um amor fraternal. Desta forma, resolvem viver este amor. Com um excelente texto, elenco maravilhoso e ótima direção, o longa contém cenas de sexo e até nu frontal entre os protagonistas. Tudo isto muito bem trabalhado.
Já em 2010, foi a vez de Ana Paula Arósio e Arieta Corrêa se beijarem no filme Como Esquecer?. No ano seguinte, no filme A Novela das 8, Mateus Solano interpreta um diplomata casado, mas que se envolverá com outro homem. Em 2012, no filme Paraísos Artificiais, Érika (Nathalia Dill) e Lara (Lívia de Bueno) trocam beijos. Em agosto de 2013 é lançado nos cinemas brasileiros o filme Flores raras. O longa narra a história real de amor entre a poetisa norte-americana Elizabeth Bishop (Miranda Otto) e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Glória Pires). Ambientado na cidade de Petrópolis (Rio de Janeiro) dos anos 1950 e 1960, as atrizes protagonizam cenas de amor no longa. Wagner Moura, Clement Schick e Jesuíta Barbosa estrelam o filme Praia do Futuro (2014). Neste mesmo filme, Donato (Wagner Moura) e Konrad (Clement Schick) se conhecem após o salva-vidas interpretado por Wagner Moura ter tentado em vão salvar a vida do amigo de Konrad. Ambos se apaixonam e Donato decide largar tudo o que tem no Brasil para viver com o amado na Alemanha. Anos depois, Airton (Jesuíta Barbosa) vai em busca do irmão Donato, a quem o considerava seu herói. Wagner Moura e Clement Schick protagonizam muitas cenas de sexo explícito no longa, inclusive nu frontal. Porém, vale lembrar que o longa Praia do Futuro não vem com a finalidade de abordar a temática gay. Embora duas das três estrelas principais interpretam personagens homossexuais no filme, o amor homossexual fica em segundo plano no longa dirigido por Karim Aïnouz. A finalidade do filme Praia do Futuro é sobre a procura de um sentido na vida, a busca pelo auto-conhecimento.
Muitos são os filmes que abordam a temática LGBTT e os descritos aqui são aqui são produções mais recentes acerca deste tema. Filmes com a temática em questão tem aumentado consideravelmente no país e, com isso, não é possível listar todas as películas aqui. Como já dito acima, o cinema vai mais a fundo e trata com realismo a questão homossexual, ao contrário do que acontece nas novelas. Isto acontece porque ao contrário da novela, que é exibida massivamente dentro e fora do país, sendo sujeita aos anunciantes (que não querem ver a imagem de suas empresas atreladas a escândalos) e a mentalidade conservadora da sociedade; o cinema é uma arte livre, onde só paga o ingresso para ver o filme quem tiver vontade, não sendo necessariamente reféns dos anunciantes e ao conservadorismo da sociedade. Porém, se o filme abordar temas polêmicos, o mesmo acaba sendo realizado com pouco financiamento, pois as empresas patrocinadoras não querem ver a imagem da mesma associada a polêmicas. O filme Do Começo ao Fim passou por esta situação. Por ser uma obra cinematográfica que aborde incesto e homossexualidade (temas tabus na sociedade brasileira), Aluizio Abranches recebeu pouco financiamento para dirigir o longa. Além disso, o filme em questão estreou em apenas nove salas de cinema (contra mais de 600 de Lua Nova e 550 de 2012). No fim de semana de sua estreia, Do Começo ao Fim atraiu 10 mil espectadores e mostrou fôlego ao estrear em sexto lugar.
A temática LGBTT é larga e profundamente abordada no cinema nacional. Porém, por ser algo ainda tabu, tais produções recebem pouco financiamento e não são largamente divulgadas, se tornando filmes assistidos apenas por uma parcela da população.
Conclusão
Desde os tempos remotos que homens fazem sexo com outros homens e mulheres fazem sexo com outras mulheres. Porém, quando o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano (o último grande império da história), tal prática passou a ser criminalizada e punida com rigidez. Assim, iniciou-se o histórico preconceito a que os homossexuais estão sujeitos até hoje. Nos últimos anos esta questão tem sido posta em evidência e isso tem se refletido nas novelas, cujo o número de personagens homossexuais aumenta a cada ano. Este fato já virou regra e dificilmente daqui em diante a quantidade de personagens gays na TV irá diminuir. Pelo contrário. Abordar a temática LGBTT em novelas é válido, pois é algo que faz parte da realidade da sociedade (embora muita gente tente negar). Deixar de falar sobre este assunto em uma obra que se baseia na realidade é simplesmente inadmissível.
A temática LGBTT é larga e profundamente abordada no cinema nacional. Porém, por ser algo ainda tabu, tais produções recebem pouco financiamento e não são largamente divulgadas, se tornando filmes assistidos apenas por uma parcela da população.
Conclusão
Desde os tempos remotos que homens fazem sexo com outros homens e mulheres fazem sexo com outras mulheres. Porém, quando o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano (o último grande império da história), tal prática passou a ser criminalizada e punida com rigidez. Assim, iniciou-se o histórico preconceito a que os homossexuais estão sujeitos até hoje. Nos últimos anos esta questão tem sido posta em evidência e isso tem se refletido nas novelas, cujo o número de personagens homossexuais aumenta a cada ano. Este fato já virou regra e dificilmente daqui em diante a quantidade de personagens gays na TV irá diminuir. Pelo contrário. Abordar a temática LGBTT em novelas é válido, pois é algo que faz parte da realidade da sociedade (embora muita gente tente negar). Deixar de falar sobre este assunto em uma obra que se baseia na realidade é simplesmente inadmissível.
A homossexualidade é realmente algo que existe desde os tempos mais primórdios, por isso mesmo houve leis para que os Israelitas não cometessem tais praticas, assim como pedofilia e relacionamentos com parentes próximos também foi condenada. Como Cristãos não devemos ser preconceituosos em julgar o carater de alguem por ser homossexual, porém, a biblia é clara e afirma que o homossexualismo é condenado por Deus, a divulgação na TV faz apologia a essas praticas, mostra como algo normal e injustiçado pelas pessoas, a forma da igreja romana agir talvez estivesse errada mas n estava errada a preocupação referente a essa pratica. A forma que você aborda a história do homossexualismo e descreve as praticas e principalmente sua conclusão nesta postagem me leva a entender que você tem alguma ligação com o homossexualismo e por isso o defende. Mas independente disso eu acredito que o que deve ser considerado é as leis do Senhor, acima de qualquer preconceito devemos amar ao próximo como a nós mesmos, porém também devemos nos manter puros e longe das coisas q nos afastam do espirito santo, a imoralidade, o homossexualismo, relacionamentos que estão fora dos propósitos do Senhor. A palavra de Deus e o espirito santo são nossos guias e não fatos históricos. Espiritos enganadores adoram distorcer os fatos, usar os cristãos q não tiveram sabedoria para colocar a igreja como a vilã. Eu sou contra o homossexualismo pois alem da palavra de Deus acredito q seja um plano sujo do maligno para mudar as leis do Senhor, ele imita as coisas de Deus para ser aplaudido c suas enganações então n concordo com sua conclusão meu irmão. Até mais.
ResponderExcluirNaty Cruz, o Estado é laico e a Bíblia tem várias
ResponderExcluirinterpretações... Não queira impor a sua "filosofia religiosa" num tema tão delicado quanto este. Creio que você para opinar sobre tal tema teria que se instruir, ou seja, estudar sobre a HOMOSSEXUALIDADE para ter condição de opinar... Não seja leviana, pois você não sabe nada sobre isto, além do que seu pastor ou padre deve "vomitar" nos seus cultos sensacionalistas!Percebe-se como os seus argumentos são rasos em alguns trechos onde você fala sobre "homossexualismo", associando a condição homossexual à doença. Enfim, faça o seguinte: Estude bastante, faça uma faculdade, estude psicanálise, sexualidade humana e depois venha aqui dar sua opinião de forma coerente e sem falar asneiras, ok ?
Naty Cruz, o Estado é laico e a Bíblia tem várias
ResponderExcluirinterpretações... Não queira impor a sua "filosofia religiosa" num tema tão delicado quanto este. Creio que você para opinar sobre tal tema teria que se instruir, ou seja, estudar sobre a HOMOSSEXUALIDADE para ter condição de opinar... Não seja leviana, pois você não sabe nada sobre isto, além do que seu pastor ou padre deve "vomitar" nos seus cultos sensacionalistas!Percebe-se como os seus argumentos são rasos em alguns trechos onde você fala sobre "homossexualismo", associando a condição homossexual à doença. Enfim, faça o seguinte: Estude bastante, faça uma faculdade, estude psicanálise, sexualidade humana e depois venha aqui dar sua opinião de forma coerente e sem falar asneiras, ok ?