23/08/2018

Personalismo: uma grande característica da política brasileira

Getúlio Vargas (1882 - 1954) foi o Presidente da República que mais tempo permaneceu neste cargo, totalizando 19 anos no poder. Foi em seu governo que o personalismo se consolidou na política brasileira. Imagem: Reprodução.

     O personalismo, grande característica da política brasileira, ocorre quando uma pessoa  está muito acima  de seu partido. Isso acontece quando uma liderança política é carismática e extremamente popular, capaz de assimilar os anseios de um determinado partido e até mesmo da sociedade. O problema do personalismo é o esvaziamento ideológico, uma vez que, ao centrar em uma determinada pessoa, a discussão política tende a não ser aprofundada.
     Jogando a palavra aqui no Google, a definição que encontrei para personalismo foi: "atitude do indivíduo que tem a si próprio como ponto de referência de tudo o que ocorre à sua volta". O personalismo é algo comum na política brasileira e o mesmo se consolidou de vez no espaço político quando Getúlio Vargas (1882 - 1954) se tornou Presidente da República, em 1930. Vargas permaneceu no poder até 1945 e voltou ao mesmo em 1950 pelas vias democráticas, se suicidando quatro anos depois. Vargas foi um ditador que censurou a imprensa, perseguiu jornais opositores e prendeu opositores políticos. Getúlio Vargas entendeu que perseguir a imprensa não era suficiente: tinha que criar uma imagem de si próprio. E assim fez. O então presidente criou para si próprio a imagem de "pai dos pobres" e injustiçados. Em 1939, é criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), cuja função era criar uma boa imagem do presidente, do Brasil e censurar tudo aquilo que pudesse manchar tais imagens. A construção que Vargas construiu em torno de si deu certo. A prova disso é que o seu suicídio, em agosto de 1954, causou grande comoção nacional (a carta-testamento deixada por Vargas também contribuiu para isso) e uma grande multidão foi às ruas se despedir do presidente. Comoção semelhante só seria vista novamente em 1994, quando o piloto Ayrton Senna faleceu.

Collor foi o Presidente da República entre os anos de 1989 e 1992, quando um processo de impeachment o tirou da presidência. Imagem: Vidal Cavalcante - 14/12/1989/Folhapress.

     Depois de Vargas, todo presidente procurou criar uma imagem de si mesmo. Juscelino Kubitschek (1902 - 1976), presidente entre os anos de 1956 a 1961, entrou para a história como o homem que construiu Brasília, a capital do Brasil e também pelo slogan "50 anos em 5". Tal slogan era a propaganda de um ambicioso plano de modernizar o Brasil. Jânio Quadros (1917 - 1992), que governou o Brasil entre janeiro e agosto de 1961, teve como símbolo de sua campanha a vassoura (com direito a música e tudo), com a qual varreria os corruptos da política brasileira. Já os militares que ocuparam a Presidência da República durante a Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964 - 1985) eram em geral homens que passavam uma imagem de seriedade, pulso firme e que não deixariam o comunismo entrar no Brasil. A ditadura acabou em 1985, mas somente a partir de 1989 que os brasileiros voltaram a votar para presidente, pois José Sarney chegou à Presidência da República por meio do voto indireto. Collor e Lula disputaram o segundo turno e o fim dessa história todo mundo já sabe. Durante toda sua campanha, Fernando Collor construiu em torno de si a imagem de um homem novo (e de fato era), bonito (o que não é mentira), empresário, dono de automóveis, praticante de esportes, rico e famoso. Fernando Collor era a materialização dos anseios da sociedade brasileira dos anos 1980. Destaque também para Lula, que depois de tentar chegar à Presidência da República três vezes, saiu vitorioso na quarta tentativa. Lula é o homem de origem humilde, assim como a maioria dos brasileiros e que procura defender os mais pobres. Seu carisma o faz ser uma figura maior que o PT (Partido dos Trabalhadores), partido da qual faz parte. As lembranças dos tempos áureos do governo Lula (2002 - 2010), bem como seu carisma, fazem com que o mesmo lidere as pesquisas de intenção de voto em 2018, mesmo estando preso.
     O problema do personalismo na política (seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo) é que, ao focar no indivíduo, a discussão político-ideológica tende a ser esvaziada porque o indivíduo recebe grande atenção. E quando há o esvaziamento da discussão política, a tendência é a contradição. Nas eleições presidenciais de 2018, muita gente vai votar no Lula, mas na impossibilidade de o mesmo ser candidato, votarão em Jair Bolsonaro, que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenções de voto. Isso porque Lula e Bolsonaro assimilam os anseios sociais de modo diferenciado. Se Lula é o líder carismático de origem humilde e que melhorou significativamente a vida dos brasileiros depois que se tornou presidente, Jair Bolsonaro representa a sociedade conservadora, defensora da moral, machista, homofóbica e racista (e a grande visibilidade que Jair Bolsonaro vem tendo, bem como a boa receptividade de suas ideias retrógadas, se devem também ao período de barbárie que o Brasil está vivendo).Tem muito eleitor do Lula que é conservador. Aliás, o próprio, para chegar à presidência e posteriormente ser reeleito, fez aliança com setores reacionários da sociedade. Em 2016, teve no Brasil eleições para prefeito e vereador. Um colega meu votou em um certo candidato para vereador. O que ele não viu foi que este mesmo candidato era de um partido da base aliada de Pedro Paulo, político que disputava a Prefeitura da  cidade do Rio de Janeiro e que agrediu a esposa. Indaguei a ele sobre o fato e ele disse que seu candidato não agia como o Pedro Paulo e eu rebati dizendo que a partir do momento em que ele se alia a um partido que tem um agressor de mulher como candidato, de certa forma ele está compactuando com o ato. A discussão terminou depois que ele disse que, se eu não concordasse com o candidato em questão, era só não votar nele.
      O personalismo é algo tão forte na política brasileira que os políticos investem pesado em suas respectivas campanhas. Eles contratam estilista particular, adotam um novo corte de cabelo, passam a usar maquiagem, contratam fotógrafos particulares para registrarem suas respectivas campanhas políticas e usam e abusam do photoshop (alguns até exageram, criando uma imagem excessivamente jovial). Alguns políticos até tem propostas legais, mas antes de tudo eles investem no visual, que "abre as portas" para eles apresentarem suas propostas.

Conclusão

     O personalismo é uma característica da política brasileira e quem a consolidou neste espaço foi Getúlio Vargas. O problema de tal prática é que a mesma esvazia o discurso político-ideológico ao dar grande atenção ao indivíduo. Este mesmo vazio abre espaço para determinadas contradições, como por exemplo votar para presidente em uma pessoa de um partido e votar para senador no candidato da oposição. Isso impede que o presidente coloque em prática suas ideias e até mesmo impede também a renovação do Congresso. 

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