07/06/2018

Futebol: o reduto do machismo

Futebol é coisa para mulher? Imagem: Reprodução.

     O futebol é o esporte mais popular do mundo. Ele é tão popular que há um evento mundial que ocorre de quatro em quatro anos dedicado ao mesmo e que reúne vários países. Embora existam inúmeras reportagens mostrando que há mulheres que gostam de futebol, o fato é que o mesmo é um esporte predominantemente masculino e também um verdadeiro reduto do machismo.
     O futebol é um esporte que dispensa apresentações, consiste basicamente em um monte de pessoas correndo atrás de uma bola, procurando fazer o gol. E só vale usar os pés. Pode-se usar as mãos em poucas exceções e pode também cabecear a bola. Fora isso, só pode usar os pés. No futebol, há o zagueiro, goleiro, lateral e meio-campo por exemplo. Bem, um técnico e/ou uma pessoa com um conhecimento mais aprofundado do esporte pode explicar isso muito melhor do que eu. O futebol é um esporte tão popular que de quatro em quatro anos há um evento mundial de grandes proporções dedicado ao esporte. Mas não é essa a questão. Eu vim falar de outra coisa.
     Símbolo de masculinidade, o futebol é um dos elementos mais conhecidos da heterossexualidade masculina. Um "macho que se preze" gosta de cerveja, sente atração somente por mulheres e gosta de futebol. Tal esporte é um verdadeiro reduto do machismo, que nesta modalidade esportiva é muito maior do que se pode imaginar. O machismo no futebol está em todos os elementos do mesmo e às vezes a pessoa nem percebe o machismo, de tão impregnado que ele está no esporte em questão e também na sociedade. É um grande equívoco colocar o futebol como a origem de todos os males presentes na sociedade. O futebol é um esporte como outro qualquer está sujeito às influências da sociedade no qual está inserido. Dada esta observação, vamos continuar com o texto. No futebol, o machismo é visto quando a camisa do clube voltada para o público feminino é mais ajustada para sensualizar o corpo da mulher, o machismo é visto também quando uma bandeirinha ganha visibilidade por seu corpo e não pela sua competência em campo. E o machismo é visto também quando esta mesma bandeirinha é recomendada a posar para uma revista de nudez. Em nossa sociedade patriarcal, a mulher é sinônimo de inferioridade, é misoginia o nome. E isso é algo tão forte que, quando se querem xingar um homem, acabam xingando a mulher no fim das contas. Vejamos alguns exemplos: "corno" é um termo coloquial para se referir ao homem que foi traído pela esposa e "filho da puta" (que tem infinitas variações) na verdade é um xingamento referente à mãe do homem xingado; uma "puta" é uma prostituta, mulher que se envolve com vários homens, de categoria "inferior" e que deve ficar à margem da sociedade. Dentro do futebol, os homens, principalmente aqueles que estão em campo (jogando ou não) são xingados de todos estes termos e muitos outros. O xingamento só é voltado diretamente para o homem quando o mesmo é negro, mas isso é assunto para o próximo texto.

Jogadoras da seleção brasileira de futebol feminino comemoram gol durante as Olimpíadas de 2016. Imagem: Reprodução. 

      Apesar de muita gente ainda achar o contrário, há mulheres torcedoras, que entendem de futebol e que também praticam o esporte profissionalmente. Entretanto, elas não têm o devido reconhecimento por que acreditam que futebol não é coisa para elas. A coluna de esportes dos jornais e revistas só falam do futebol masculino, os programas esportivos ignoram o assunto e a maioria dos torcedores só se importam com o futebol praticado pelos homens, mesmo que seus respectivos clubes tenham um time de futebol composto por mulheres. Muita gente não sabe, mas há uma Copa do Mundo de futebol feminino. Porém, ela é ignorada por muita gente. Quando as meninas da seleção estão em campo, não há a decretação de feriados, não se vê brasileiros orgulhosos grudados na televisão e nem há o sentimento de orgulho nacional pairando no ar. Isso acontece porque se entende que futebol não é coisa para mulher e, por mais competentes que elas sejam, o futebol jogado pelas mesmas não deve ser reconhecido.
     Não se enganem: o silenciamento do futebol feminino é sistemático. Não é uma lógica de que o esporte não é coisa para mulher, é uma lógica de que o futebol especificamente não é coisa para mulher. Se o futebol feminino não costuma ser exibido na televisão, o mesmo não se pode dizer das demais categorias esportivas praticadas por mulheres. O vôlei de quadra feminino e também o vôlei de praia feminino costumam ser reprisados na televisão, assim como os demais esportes que a sociedade permite que as mulheres pratiquem e os enxerguem como "femininos". A ginástica olímpica, a ginástica rítmica, o vôlei e o nado sincronizado são alguns destes esportes.

Richarlyson é um jogador de futebol cuja orientação sexual com frequência vira alvo de notícias e também de cruéis agressões verbais. Imagem: Edu Moraes/Record TV. 

     O machismo é uma concepção de que o homem é superior a mulher. Um dos elementos do machismo é a heterossexualidade, não tolerando nada além desta orientação sexual. Sendo assim, todo machista também é LGBTfóbico. E, da mesma forma que os machistas de plantão não toleram mulheres no futebol, eles também não toleram homossexuais. Ao menor sinal de suspeita, gesto ou qualquer outra atitude onde a orientação de um jogador é colocada em dúvida, a reação é imediata e cruel. Agressões físicas, ameaças de morte e o silenciamento da instituição são alguns exemplos. Richarlyson é um caso emblemático. O jogador de futebol, que nunca falou abertamente de sua orientação sexual, é alvo de constantes e incontáveis ataques de ódio apenas por ser considerado homossexual. O jogador é constantemente agredido verbalmente, já recebeu ameaças de morte e em 2017, quando foi contratado pelo Guarani, dois torcedores com a blusa do clube em questão jogaram bombas em frente ao estádio Brinco de Ouro como protesto pela contratação do atleta. Foi um ato de LGBTfobia. Em 2013, Emerson Sheik, que na época jogava no Corinthians, foi alvo de protestos que reprovavam a atitude do jogador, que havia publicado uma foto em sua conta no Instagram onde dava um "selinho" em um amigo. Se os colegas que trabalhavam ao lado de Sheik na época apoiaram o gesto do jogador, o mesmo não se pode dizer dos torcedores. Empunhando faixas com dizeres que não vou reproduzir aqui, corinthianos exigiram que Emerson pedisse desculpas pelo ato cometido (?) e que ele saísse do Cortinhians se fosse preciso, pois os mesmos não iriam aceitar atitudes como esta. No ano de 2017, uma sex tape de uma masturbação coletiva ocorrida nas dependências do Sport Clube Gaúcho caiu na rede e teve grande repercussão. Os jogadores envolvidos foram dispensados do clube. Entretanto, há um fato que deve ser destacado. Não é a primeira vez que futebolistas têm vídeo íntimo vazado, mas é o primeiro cujos envolvidos são homens. Nas vezes em que veio a público vídeos de conteúdo sexual, os protogonistas eram pessoas de sexos diferentes. Porém, nestes casos o atleta não foi alvo de reprovação pública e nem tiveram seus contratos rescindidos, muito pelo contrário. O clube até ofereceu apoio jurídico ao atleta. Diante de tudo isso, fica o questionamento: os atletas que foram filmados se masturbando foram dispensados do clube por supostamente trazerem escândalos para o time ou a dispensa foi movida por homofobia mesmo?

Conclusão

     O futebol é o esporte mais popular do planeta e ele acaba reproduzindo a sociedade na qual está inserido, incluindo os preconceitos da mesma. E no Brasil não é diferente. O Brasil é um país machista e o futebol reflete isso. Neste esporte, a mulher só é tolerada quando objetificada sexualmente. Do contrário, o que lhe resta é o descrédito e o silenciamento. E a presença de LGBTs no futebol não é tolerada porque a masculinidade é frágil e qualquer ameaça a mesma deve ser combatida energicamente, nem que se tenha que recorrer a bombas e ameaças de morte.

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