Imagem ilustrativa. Foto via usuário do Flickr Stuart Conner. |
Vivemos em uma sociedade em que há padrões hegemônicos que devem ser seguidos e aquele que fugir destes padrões sofre preconceito por parte desta mesma sociedade. Muita gente pode não ter parado para pensar, mas o fato é que estes mesmos preconceitos presentes na vida pública também se encontram presentes na vida privada.
Não se deve ignorar o esforço de movimentos LGBTs, movimentos feministas e movimentos negros. Graças aos militantes destes movimentos estão ocorrendo mudanças na sociedade (por exemplo: há cotas para negros em concursos públicos e universidades públicas, homossexuais já podem casar e ter filhos; e transexuais podem usar o nome social no ENEM. Já as mulheres estão constantemente presentes em cargos públicos, na política e na liderança de empresas por exemplo), mas o Brasil ainda é um país machista, racista e LGBTfóbico. Tais preconceitos se manifestam por meio de agressões físicas, agressões verbais e até morte. Com frequência, tais agressões e assassinatos se tornam noticiários de TV e matérias de portais online.
Tais preconceitos não se limitam a vida pública: se estendem também para o âmbito doméstico, privado; onde quase ninguém está olhando e que por causa disso não vira notícia. A indústria pornográfica reproduz tais preconceitos, o que lhe rende muitos lucros. Vendo dezenas de vídeos adultos (amadores e profissionais) para escrever este texto (vamos parando com a hipocrisia. Quem nunca!?), eu percebi que SEMPRE os homens eram protagonistas e as mulheres coadjuvantes. Por conta disso, a mulher acaba ficando a disposição do homem, que por sua vez a coloca de lado, de quatro, de cabeça para baixo e outras tantas posições. A mulher até assume o controle da situação, mas é por pouco tempo. Quem dita as regras do prazer de fato é o homem. Isto não acontece atoa. Vivemos em uma sociedade em que a sexualidade do homem é estimulada e a da mulher não. Perguntam somente para os homens (quando estes ainda são crianças) se ele já tem namoradinha na escola, é sempre o menino que vê revista de mulher pelada com os colegas do colégio, é sempre o menino que fica horas intermináveis no banheiro se masturbando, é sempre o menino que é zombado pelo mito de a masturbação causar espinhas, é sempre o garoto que é zombado também pelo mito de a masturbação fazer crescer pelos na mão. E a menina? Parece que a sexualidade feminina é algo inexistente. A indústria pornográfica lucra em cima deste preconceito. Sabendo que a sexualidade da mulher ainda é um tabu, muitos produtores de vídeos eróticos criam vídeos voltados para o sexo masculino, onde o homem é sempre o protagonista da história. As mulheres não fazem muita coisa, além de gemer. Gemidos estes que por sua vez quase sempre são desnecessários e até forçados.
Imagem ilustrativa. Foto: Reprodução. |
Além de ver dezenas de vídeos adultos para escrever este texto, visitei também mais de um site erótico. A impressão que tive é que os vídeos produzidos não apresentam muitas diferenças entre si. O roteiro pode ser diferente, os atores podem ser outros e o cenário também pode mudar, mas é quase sempre a mesma coisa: o homem é o protagonista e a mulher é a coadjuvante; onde o primeiro coloca o segundo em posições variadas. Percebi também que em todo vídeo adulto que se preze deve ter cenas de sexo oral (é mais comum que a mulher faça no homem) e sexo anal. Com relação ao perfil dos atores, eles quase sempre são brancos. Se a mulher é loira, ela é uma loira sensual de seios e bundas fartas, a tipo "gostosona". Quando o homem é negro, ele acaba sendo um negro alto, forte e "bem dotado". Com isso, o negro acaba sendo hipersexualizado. Alguns produtores chegam a fazer vídeos eróticos classificados como interraciais, em que há o negro "bem dotado" e a "loira gostosa", reforçando tais estereótipos. Dois tipos de pessoas extremamente hipersexualisadas em um único vídeo.
Homossexuais representados na indústria pornográfica
Casal gay abraçado. Foto: Divulgação. |
Nos sites adultos que visitei eu vi que os vídeos estão organizados em várias categorias (amador, profissional, nacional e estrangeiro por exemplo) e uma destas categorias é a categoria "Gay". De curiosidade e também para poder escrever este texto, eu vi vídeos eróticos em que os homens transam com outros homens. O que percebi é que quase sempre estes vídeos são protagonizados por homens bonitos, brancos e musculosos. Até existem vídeos eróticos protagonizados por negros, mas os mesmos acabam sendo hipersexualisados mais uma vez. O que notei também é que em alguns casos tais videos são protagonizados por um homem magro e um homem forte e musculoso. O segundo faz o ativo e o primeiro faz o passivo na hora da relação sexual. Muitos heterossexuais, partindo de sua visão heteronormativa da sociedade, acham que toda relação é composta por um homem e por uma mulher, inclusive as relações homossexuais. É partindo desta visão que há a famosa pergunta: "quem é o macho da relação?" Ainda na mentalidade destas pessoas, aquele que faz "o macho da relação" é o homem forte, viril e que não "dá pinta". Já "a mulher da relação" é o homossexual magro, afeminado e que "dá pinta". Em uma relação homoafetiva (seja entre homens ou entre mulheres) não existe o "macho da relação". É uma relação amorosa composta por dois homens ou por duas mulheres. Ponto.
Outro ponto que deve ser ressaltado é que há vídeos de cunho homossexual em que os protagonistas são dois homens "viris". Eles se revezam entre si na hora da penetração e não fogem ao estereótipo do branco, bonito e musculoso.
Conclusão
Vivemos em uma sociedade conservadora e preconceituosa, onde os preconceitos aqui já citados também se estendem para o âmbito privado. A indústria pornográfica se utiliza destes mesmos preconceitos para lucrar e no fim acaba por reforçar os mesmos. Desta forma, desconstruir paradigmas em caráter público implica também em desconstruir os mesmos entre quatro paredes.
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